23 Mai 2016
O encontro do dia 23-05-2016, é outro, importante tijolo colocado pelo Papa Francisco para a edificação da paz. E pode tornar-se uma poderosa ajuda para dar força às tendências reformistas do mundo islâmico, onde as correntes radicais estão ganhando terreno. Wal Farouq egípcio, muçulmano, docente de língua árabe na Universidade americana do Cairo e na Católica de Milão, fala na véspera do encontro entre o Papa e o Imam da Universidade de al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib.
A entrevista é de Giorgio Paolucci, publicada por Avvenire, 22-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
De onde nasce o seu otimismo?
Existe uma lógica no itinerário que levou Bergoglio a encontrar outros líderes cristãos e muitas autoridades políticas: Obama, Putin, o iraniano Rohani. É uma lógica daquela cultura do encontro que é um dos pilares do seu pontificado. Francisco é uma pessoa certa de sua fé, e esta certeza o torna disponível para encontrar qualquer um e a ver em cada pessoa e em cada cultura uma possibilidade de enriquecimento antes do que uma ameaça.
Este modo aberto de conceber a relação com a alteridade é o antídoto mais potente da violência, da suspeita e do ceticismo que estão sempre mais presentes no mundo. E é um ingrediente necessário para perseguir o bem comum, algo que não se pode construir unilateralmente, mas somente caminhando juntos. Quando se dialoga com os muçulmanos, não sendo uma autoridade univocamente reconhecida, existe sempre o problema da representatividade do interlocutor. E neste momento a autoridade de al Azhar é posta em discussão por várias almas do mundo islâmico...
A universidade de al Azhar permanece indiscutivelmente como o ponto de referência que se avantaja mais seguidamente no componente sunita da umma, que é amplamente o mais numeroso. Está fazendo um percurso em sentido reformista do pensamento islâmico, tendente a uma maior abertura, e o encontro no Vaticano se insere nesta dinâmica. Se este percurso for encorajado também do exterior, aumentam as possibilidades de enfrentar eficazmente as correntes wahhabitas sustentadas e financiadas pela Arábia Saudita, que por sua vez franqueiam as formações mais radicais e violentas, entre as quais o autodenominado Estado islâmico e Al-Qaeda.
Há dez anos o discurso pronunciado por Bento XVI em Regensburg foi objeto de ferozes críticas da parte muçulmana e está na origem da ruptura das relações entre al Azhar e o Vaticano. O que mudou deste então?
As palavras de Ratzinger tem sido objeto de uma colossal mistificação, sobretudo em nível midiático, e provocaram reações despropositadas e instrumentais. O Papa havia exortado todos a um uso correto da razão que é o verdadeiro antídoto à violência, enquanto prevaleceu uma leitura em chave anti-islâmica. A tenacidade com que o atual Pontífice procura valorizar cada possibilidade de diálogo pode representar a base para se voltar a falar e a caminhar juntos. Sua figura é muito apreciada entre os muçulmanos: são sempre mais numerosos aqueles que não o consideram o chefe do partido cristão, mas um guia religioso que tem a peito o bem de todos. E que sabe captar em cada interlocutor uma possibilidade de um bem. Isto ajuda as posições de quem, no nosso mundo, trabalha para sair da auto-referencialidade e de um fechamento que nos isola do mundo e freia a mudança.
Após o massacre à redação parisiense do semanário Charlie Hebdo, alguns disseram que o problema são as religiões, porque esquentam os ânimos e impelem à violência em nome de princípios absolutos. O cardeal Tauran respondeu que as religiões não são o problema, mas são parte da solução. O encontro de amanhã pode dar um sinal nesta direção?
Antes de tudo é preciso fazer uma operação de verdade. É inegável que haja quem instrumentaliza a religião, mas quero recordar que um relatório de Europol certificou que somente 6% dos episódios de violência tem uma raiz religiosa. Em geral, é preciso reconhecer que uma experiência religiosa autêntica é fonte de concórdia e reconhece no outro um bem precioso. O encontro de amanhã nasce desta convicção e esperamos que produza bons frutos.
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O Papa e al-Azhar, juntos pela paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU