Por: Jonas | 28 Janeiro 2016
O encontro entre o Papa e o Presidente da República Islâmica do Irã, Hassan Rohani, confirmou a vontade da Santa Sé de dialogar com todos para favorecer a paz e a reconciliação no mundo e em especial na região do Oriente Médio. O Irã é um país chave para a estabilidade na região, e se comprovou desde os primeiros meses após o fim da guerra no Iraque, em 2003, quando não se envolveu Teerã nos planos de pacificação pós-bélicos, fato que contribuiu para que o país caísse no caos.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 27-01-2016. A tradução é do Cepat.
O Vaticano não se viu envolvido de forma alguma na longa e delicada negociação sobre a energia nuclear iraniana, mas expressou em várias ocasiões sua satisfação pelo resultado alcançado. Em setembro do ano passado, diante da Assembleia geral da ONU, o Papa Francisco disse: “Uma ética e um direito baseados na ameaça de destruição mútua – e possivelmente de toda a humanidade – são contraditórios e constituem uma fraude a toda a construção das Nações Unidas, que passariam a ser ‘Nações unidas pelo medo e a desconfiança’. É preciso se empenhar por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente o Tratado de não proliferação, na letra e no espírito, para uma total proibição destes instrumentos.”.
“O recente acordo sobre a questão nuclear em uma região sensível da Ásia e Oriente Médio – acrescentou – é uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, exercitados com sinceridade, paciência e constância. Faço votos para que este acordo seja duradouro e eficaz e dê os frutos desejados com a colaboração de todas as partes envolvidas”. E Francisco observou, imediatamente depois, que “não faltam duras provas das consequências negativas das intervenções políticas e militares não coordenadas entre os membros da comunidade internacional”.
Durante a audiência no Vaticano, Rohani agradeceu ao Papa Francisco por sua linguagem, suas palavras sobre a paz e também por não ter deixado de denunciar com força e em várias ocasiões o tráfico de armas e os negócios que prosperam por trás de certas guerras e do terrorismo fundamentalista do chamado Estado Islâmico.
Um segundo aspecto também importante é a mensagem que surgiu do encontro entre o Pontífice e o Presidente do Irã: o expoente xiita não só pediu ao Papa que rezasse por ele, como também teve palavras profundas sobre a importância da convivência pacífica entre cristãos, judeus e muçulmanos. “Todos somos flores no jardim de Deus”, disse Rohani. A imagem na qual aparecem os dois, enquanto trocam presentes e estendem as mãos, tem um elevado valor simbólico em uma rede onde se multiplicam as mensagens delirantes do Estado Islâmico e de sua bandeira negra em São Pedro.
Ainda é preciso dar muitos passos no campo dos direitos humanos no Irã (como em muitos países que são citados com menor frequência, porque são bons aliados históricos do Ocidente), mas não se pode deixar de reconhecer as mudanças que ocorreram. Justamente, recordam-se as frases absurdas negacionistas sobre o Holocausto do presidente Ahmadinejad. Porém, como recordou Claudio Toscano em um comentário publicado pelo jornal italiano “La Repubblica”, em fins de 2014, após um ano de presidência, “o jornal israelense ‘Haaretz’ publicou uma pesquisa muito positiva sobre a postura de Rohani em relação à comunidade judaica no Irã (umas 20.000 pessoas), destacando a importância de sinais como a autorização para que as escolas judaicas fechem no sábado ou a concessão de consistentes ajudas estatais para o hospital judaico de Teerã”.
O enfoque da Santa Sé sobre as questões de política internacional continua sendo o de buscar um diálogo com todos e não deixar de tentar algo para alcançar soluções pacíficas, para desfazer os nós, para que cessem as guerras. O papel da República Islâmica do Irã é e será fundamental para a paz no Oriente Médio e para a paz no mundo.
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Rohani e as palavras do Papa sobre a paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU