14 Abril 2016
"Nós, os católicos, não temos nenhuma razão para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data que marca o nascimento da Reforma e que levou à fratura do cristianismo ocidental." A afirmação, contrastando a orientação expressada pelo Papa Francisco, é do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, em um livro-entrevista publicado recentemente na Espanha, intitulado Informe sobre la esperanza (editado por Carlos Granados, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 2016).
A reportagem é de Ludovica Eugenio, publicada no sítio da revista Adista, 08-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
De fato, Francisco vai se dirigir no dia 31 de outubro próximo para Lund, na Suécia, para se encontrar com Munib Younan, bispo luterano, e Martin Junge, secretário-geral da Federação Luterana Mundial (FLM), por ocasião do 500º aniversário da Reforma Protestante, cujas celebrações começarão naquela data, exatamente um ano antes dos 500 anos da afixação das 95 teses de Lutero nas portas da catedral de Wittenberg.
Uma participação, a do papa, saudada favoravelmente pela Comissão Internacional de Diálogo Luterano-Católico presidida pelo bispo auxiliar de Fulda, pelo lado católico, Dom Karlheinz Diez, e, pela parte luterana, pelo bispo emérito de Helsinque, Eero Huovinen, que, no documento "Do conflito à comunhão", afirmam: "Em 2017, cristãos católicos e luteranos vão comemorar juntos o quinto centenário do início da Reforma. Luteranos e católicos hoje se alegram com o crescimento da compreensão, da cooperação e do respeito mútuos. Reconhecem o fato de que o que une é mais do que o que separa: sobretudo, a fé comum no Deus Triuno e a revelação em Jesus Cristo, assim como o reconhecimento das verdades básicas da doutrina da Justificação."
No livro – que é noticiado pelo jornal católico francês La Croix (01-04-2016) – o cardeal Müller afirma que, "se estamos convencidos de que a revelação divina permaneceu inalterada e preservada por meio das Escrituras e da tradição, na doutrina da fé, nos sacramentos, na constituição hierárquica da Igreja, fundada sobre o sacramento da ordenação sacerdotal, nós não podemos aceitar que haja razões suficientes para se separar da Igreja".
Müller, que dedicou a sua tese de doutorado ao teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer, não rejeita o diálogo ecumênico com o protestantismo, mas deseja que ele ocorra "de modo realista": "O teólogo Karl-Heinz Menke tem razão ao afirmar que a relativização da verdade e a adoção acrítica das ideologias modernas são os principais obstáculos para a unidade na verdade".
Ainda em uma entrevista de dezembro passado para a revista alemã Die Zeit (n. 1/2016), o cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé traçava os limites do diálogo ecumênico, afirmando que "devemos nos guardar de forçar uma unidade, fazendo violência à consciência da verdade. Uma unidade sem verdade, em que o cristianismo fosse reduzido ao status de religião civil, não pode ser bem sucedido (...). No passado, hoje e em todas as épocas, a preocupação comum deve ser esta: ver Jesus Cristo no centro de todo pensamento, de toda ação e de toda aspiração cristã".
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Cardeal Müller contra o Papa Francisco: "A Igreja Católica não tem motivos para celebrar a reforma" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU