Por: André | 07 Abril 2016
Os padres jesuítas Xavier Albó e Mauricio Bacardit receberam na terça-feira a condecoração Cóndor de los Andes, a maior honraria concedida pelo Estado, às vésperas da visita do presidente Evo Morales ao Vaticano, onde participará de uma conferência junto com o Papa Francisco. O presidente outorgou este reconhecimento aos dois religiosos por seu trabalho a favor dos pobres e dos marginalizados e valorizou assim a contribuição de ambos para a democracia nacional. Os dois religiosos são jesuítas, assim como o Pontífice.
Fonte: http://bit.ly/1VzCDum |
A reportagem é de Luis Mealla e publicada pelo jornal boliviano La Razón, 06-04-2016. A tradução é de André Langer.
“Há um encontro com os movimentos sociais do mundo para discutir temas de interesse que preocupam a Igreja (...) e um dos convidados é o nosso Presidente, que estará com o nosso irmão o Papa Francisco nos dias 15 e 16 de abril no Vaticano”, disse o chanceler David Choquehuanca Choquehuanca, que apreciou o acompanhamento dos padres nas lutas dos povos indígenas do país.
Há duas semanas, o próprio Morales antecipou que “logo” teria uma viagem ao Vaticano atendendo a um convite do líder da Igreja católica. Na época, não deu detalhes. Segundo a agência Efe, o presidente do Equador, Rafael Correa, será outro convidado para o encontro internacional, cujos detalhes ainda não foram divulgados.
Evento. Morales destacou a contribuição de Albó e Bacardit. “Nós fomos formados para nos libertar, para não nos calar”, assinalou a autoridade. Pouco antes, Albó (1934) afirmou que os princípios do mundo andino ama sua (não sejas ladrão), ama llulla (não sejas mentiroso) e ama quella (não sejas frouxo) devem vir acompanhados do ama llunk’u (não sejas adulador) e do ama ch’in (não te cales).
A visita do presidente ao Vaticano, a terceira desde 2013, dá-se em meio a uma tensão com os bispos católicos do país que, na semana passada, demandaram ações contra o narcotráfico em uma carta pastoral que foi rejeitada pelo Governo.
Neste cenário, Choquehuanca pediu aos padres “para continuarem ao lado do povo e não darem alimento aos que não estão neste processo de mudança”. Depois, Albó confessou que votaria no “Não” no referendo de 21 de fevereiro, pediu prioridade à saúde acima do projeto governamental de desenvolvimento nuclear.
Mauricio Bacardit: “Peço agora diálogo e não confrontação”
Como recebe este reconhecimento em um contexto de questionamentos à Igreja?
Com agradecimento, sobretudo para as organizações sociais, para a população do campo e das minas; porque me devo a eles e graças a eles pude chegar onde estou.
Como entende as críticas do Governo à Igreja?
Penso que a crítica, em si mesma, pode ser boa ou pode ser ruim; adotei uma atitude crítica propositiva. Sempre me parece que as coisas – não todas – vão sair bem, mas nunca nos damos conta de nem tudo vai sair bem (...) pois há críticas. Eu cometo erros, a Igreja comete erros e o Governo também comete erros. Ou seja, somos parte de um fazer e de um andar na vida.
Quais são os principais temas que o Governo deve ajustar para melhorar a gestão?
O que peço é diálogo e não confrontação. Tem que haver diálogo com todos os setores: com a Igreja, com as associações de classe, os incapacitados, enfim, com todos.
Qual é a importância desta condecoração na atual conjuntura política?
É uma surpresa e me sinto muito pequeno diante de tal nomeação, por um trabalho que fiz durante mais de 40 anos, pelo bem de nossas maiorias postergadas e marginalizadas; não creio que esta condecoração seja para mim, mas para toda a população pobre que necessita de apoio e fazemos todo o possível para que assumam seu verdadeiro protagonismo e tenham dias melhores, com justiça e liberdade; se eu pudesse, eu devolveria esta condecoração às pessoas necessitadas da Bolívia, porque trato de cumprir um postulado da Igreja católica, que é trabalhar prioritariamente pelos pobres e marginalizados.
Perfil
Nome: Mauricio Bacardit
Nascimento: 08-09-1936
Profissão: filósofo e teólogo
Cargo: é padre jesuíta
Trabalho: nasceu em Manresa, Espanha, em plena guerra civil. Ingressou na Companhia de Jesus em 1954. Chegou à Bolívia em 1975. Trabalha em Charagua, Santa Cruz.
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Xavier Albó: “Apoiei o Não para a renovação do MAS”
Fonte: http://bit.ly/1qtWZtq |
Por que incluir agora o ama llunk’u e o ama ch’in?
O ama llunk’u é o não sejas adulador e o ama ch’in é não calar quando se deve falar. Falei isso na minha mensagem para referir-me a todos, porque pode ocorrer dentro ou fora do Governo. Todos os que forem llunk’u têm algo que não está bem e no fundo é uma maneira a mais de ser mentiroso.
Neste Governo há muitos llunk’u?
Em todos os governos há llunk’u; não há um governo que não esteja cheios deles.
Em seu discurso disse que votaria pelo Não no referendo. Qual foi o principal motivo para essa decisão?
Estava em dúvida entre o Sim e o Não até o final, mas nesse dia não consegui votar porque não pude chegar ao meu local de votação. Mas era a favor do Não por um motivo muito simples: para motivar a renovação do MAS. Temos necessidade de gente nova em substituição às pessoas anteriores. Há quatro anos para prepará-los. É preciso ter gente nova para qualquer cargo, para presidente e vice-presidente.
É saudável para a democracia que Evo Morales e Álvaro García Linera se candidatem?
Se for depois de 2024, sim; neste momento seria um erro se eles tentassem continuar; eu disse que inclusive David Choquehuanca pode sair no lugar dele (de Morales) porque estava aqui, mas como tudo isso ainda não foi posto em marcha (sobre outra candidatura para 2019), pode sair gente nova muito mais que David e vai saber quem será, mas ter uma renovação é uma das bases da institucionalidade do partido (...). Esta gente nova deverá estar na linha dos (líderes) anteriores, sem negar que, depois, os atuais líderes podem voltar.
Perfil
Nome: Xavier Albó
Nascimento: 04-11-1934
Profissão: antropólogo e linguista
Cargo: é padre jesuíta
Vida: nasceu na Catalunha, Espanha. Em 1951 entrou na Companhia de Jesus. Veio à Bolívia em 1952 e nacionalizou-se como cidadão boliviano.
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A Bolívia entregue distinção a dois jesuítas antes da visita de Evo ao Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU