16 Março 2016
"A oração na tradição espiritual do Papa Francisco é escuta e aprendizagem de um modo de ser, de um estilo de vida que nasce com o desejo de viver assim. Em gratidão aos três anos de Pontificado de Francisco, queremos rezar juntos como irmãos", escreve Alex Villas Boas, professor de Teologia da PUC SP.
Eis o texto.
No século XIII, Deus disse a humanidade que éramos todos irmãos, especialmente por meio de um Francisco, e este nos ensinou a rezar, pedindo a paz como sinal dessa fraternidade. Agora, no século XXI, Deus volta a nos falar de fraternidade e cuidado da casa comum como reverência a toda a criação, por meio de outro Francisco, que nos ensina de novo a direcionar nossos desejos de paz. A oração na tradição espiritual do Papa Francisco é escuta e aprendizagem de um modo de ser, de um estilo de vida que nasce com o desejo de viver assim. Em gratidão aos três anos de Pontificado de Francisco, queremos rezar juntos como irmãos.
Oração de São Francisco de Assis |
Oração pela Paz com o Papa Francisco |
1. Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz; |
1. Senhor, “infundi em nós a coragem” para “trabalhar pela paz” de modo que o “estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam!” (Invocação pela Paz, Celebração do XLIX Dia Mundial da Paz) |
2.Onde houver ódio, que eu leve o amor; |
2. Onde houver “níveis alarmantes de ódio e violência” e “odiosas generalizações”, que possamos levar o “nome de Deus que é misericórdia” (EG, 61, 253). |
3.Onde houver discórdia, que eu leve a união; |
3. Onde houver “feridos por antigas divisões”, que possamos mostrar que “não ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória”, mas que possamos ser testemunhas do “Espírito que harmoniza todas as diversidades” e deseja selar um “pacto cultural” e assim fazer surgir uma “diversidade reconciliada” e uma “ecologia cultural” (EG 230, LS, 143). |
4.Onde houver dúvidas, que eu leve a fé; |
4. Onde houver “dúvidas” ou “fases de aridez, até de um certo cansaço”, que saibamos oferecer “uma pedagogia que introduza a pessoa passo a passo até chegar à plena apropriação do mistério” (EG, 54, 171) |
5.Onde houver erros, que eu leve a verdade; |
5. Onde houver “erros”, que saibamos ensinar que “não se aprende apenas das virtudes dos santos, mas também das faltas e dos erros e não nos preocupemos só com não cair em erros doutrinais, mas também com ser fiéis a este caminho luminoso de vida e sabedoria e assim ajudar as pessoas a chegar a um estado de maturidade, isto é, para que as pessoas sejam capazes de decisões verdadeiramente livres e responsáveis porque é frequente dirigir aos defensores da “ortodoxia” a acusação de passividade, de indulgência ou de cumplicidade culpáveis frente a situações intoleráveis de injustiça e de regimes políticos que mantêm estas situações” (Discurso à Associação Internacional de Direito Penal, EG, 194, 171). |
6.Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; |
6. Onde houver “ofensas” e “violação da dignidade pessoal” que saibamos reconhecer que “a bondade não é fraqueza, mas verdadeira força capaz de renunciar à vingança”, e assim romper o “círculo” de “violência” (EG 213, Encontro com crianças na Albânia) |
7.Onde houver desespero, que eu leve a esperança; |
7. Onde houver “vidas ceifadas por falta de possibilidades”, que saibamos ensinar a “pedir a graça da esperança que não é otimismo, mas uma força que ressuscita e infunde a coragem para olhar o futuro” (EG 54, Entre memória e esperança, Misericordiae vultus, 10). |
8.Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; |
8. Onde houver uma “tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada” ou “pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar [...] especialmente das populações das periferias urbanas e das zonas rurais – sem terra, sem teto, sem pão, sem saúde – lesadas em seus direitos” que saibamos ajudar a compreender que a “alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras” porém, “adapta-se e transforma-se, e sempre permanece pelo menos como um feixe de luz” que torna “possível desenvolver uma nova capacidade de sair de si mesmo rumo ao outro” (EG 191, 6; LS 208). |
9.Onde houver trevas, que eu leve a luz. |
9.Onde houver “tantos anos e tantos momentos de hostilidade e escuridão, abri os nossos olhos e os nossos corações”, que possamos ajudar a compreender que “encontra-se o amor de Deus dentro de nós, inclusive nos momentos obscuros, e assim caminhemos rumo à luz” (Invocação pela Paz, Encontro com crianças pelo Pontifício Conselho para a Cultura). |
10.Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar, que ser consolado; |
10. Ó “Mestre de vida, mais do que um mestre de doutrina”, fazei que procuremos apenas encontrar “a consolação de uma Igreja-mãe que sai de si mesma” e renunciar as “consolações feitas por nós” mesmos que “não servem” porque assim o coração “não se torna humilde” (Pentecostes de 2014, Sair para dar a vida). |
11.Compreender, que ser compreendido; |
11. Que a “centralidade da misericórdia” reflita no “discernimento” que “significa não fugir, mas ler a realidade seriamente, sem preconceito” para melhor “compreender até onde chega a sua misericórdia”, “melhor nos conhecermos e compreendermos” e assim “elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação”, pois “realidade é mais importante do que a ideia” (Aula Magna na Pontifícia Faculdade de Teologia de Sardenha , Misericordiae vultus, 23, EG 231). |
12.Amar, que ser amado; |
12. Que “toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros e renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura” (EG 270). |
13.Pois é dando que se recebe; |
13. Pois é renunciando a ser uma Igreja “autoreferencial” que se redescobre o “sacrificar-se com alegria” e a “alegria de crer”, para melhor sermos uma “Igreja pobre e para os pobres”, que aprende com a “sabedoria dos bairros populares”, capaz de “tecer laços de pertença e convivência que transformam a superlotação numa experiência comunitária, onde se derrubam os muros do eu e superam as barreiras do egoísmo” (Visita a Kangemi, EG 95, 86, LS, 112). |
14.É perdoando, que se é perdoado; |
14. É “reconhecendo, em primeiro lugar, que somos pecadores e depois alargar o coração até esquecer as ofensas recebidas”, pois “para sermos misericordiosos” é necessário o “conhecimento de si mesmos e alargar o coração” (Cristãos disfarçados). |
15. E é morrendo que se vive para a vida eterna. |
15. É morrendo para tudo que leva a “despersonalização da pastoral” que por sua vez “leva a prestar mais atenção à organização do que às pessoas” vivendo “num estado de absoluta dependência dos seus pontos de vista frequentemente imaginários” que podemos viver para “tornar o Reino de Deus presente no mundo” e crescermos na consciência do cuidado pela casa comum de que são “inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (EG 82, 176, A Curia Romana e o Corpo de Cristo, LS, 10). |
Referências bibliográficas (todas tiradas do sitio eletrônico do Vaticano)
PAPA FRANCISCO. Invocação pela Paz. Palavras do Papa Francisco nos Jardins do Vaticano, por ocasião do histórico encontro entre o Presidente do Estado de Israel, Shimon Peres e o Presidente do Estado da Palestina, Mahmoud Abbas. 08 de junho de 2014.
PAPA FRANCISCO. Mensagem do Santo Padre Francisco para a Celebração do
XLIX Dia Mundial Da Paz: Vence a indiferença e conquista a Paz. 1º de Janeiro de 2016.
PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii gaudium (=EG) do Santo Padre Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 24 de Novembro de 2013.
PAPA FRANCISCO. Discurso à Associação Internacional de Direito Penal. 23 de Outubro de 2014.
PAPA FRANCISCO. Encontro com as Crianças do Centro de Assistência Betânia
e Crianças Assistidas por outros institutos de caridade da Albânia. 21 de Setembro de 2014.
PAPA FRANCISCO. Meditações Matutinas. Entre memória e esperança. 15 de Maio de 2014.
PAPA FRANCISCO. Palavras às Crianças num encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Cultura. 31 de Maio de 2014.
PAPA FRANCISCO. Santa Missa na Solenidade de Pentecostes. 08 de junho de 2014.
PAPA FRANCISCO. Meditações Matutinas. Sair para dar a vida. 09 de Dezembro de 2014.
PAPA FRANCISCO. Aula Magna na Pontifícia Faculdade de Teologia de Sardenha. 22 de Setembro de 2013.
PAPA FRANCISCO. Misericordiae Vultus. Bula De Proclamação
Do Jubileu Extraordinário Da Misericórdia. 11 de Abril de 2015.
PAPA FRANCISCO. Meditações Matutinas. Cristãos disfarçados. 20 de Março de 2014.
PAPA FRANCISCO. Encontro com ss Cardeais e Colaboradores da Cúria Romana
para a troca de Bons Votos de Natal. A Cúria Romana e o Corpo de Cristo. 22 de Dezembro de 2014.
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si – sobre o cuidado da casa comum. 24 de Maio de 2015.
PAPA FRANCISCO. Visita ao bairro pobre de Kangemi. 27 de Novembro de 2015.
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