28 Outubro 2015
Muitos católicos têm um forte instinto de que algo revolucionário está acontecendo na Igreja do Papa Francisco, mas para muitos, os seus limites precisos continuam a ser um pouco incertos. Talvez uma forma de se expressar isto é que Francisco está liderando uma "Revolução Pastoral".
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 27-10-2015. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
O pontífice insistiu que ele não tem a intenção de alterar a doutrina católica tradicional, mas quer uma aplicação mais compassiva e misericordiosa daquele ensino a nível pastoral, ou seja, nas paróquias e outros locais públicos na Igreja.
Ele também quer uma Igreja socialmente engajada em uma ampla série de questões, em vez de com um foco estreito sobre o que os americanos conhecem como as guerras de cultura.
Esse foi o espírito, por exemplo, em que um recém-concluído Sínodo dos Bispos tratou a questão controversa da comunhão para católicos divorciados e civilmente recasados - defender a doutrina tradicional sobre a indissolubilidade do matrimônio, mas também aparentando deixar uma abertura cautelosa para o discernimento sobre como lidar particularmente com a comunhão, caso por caso, conhecido como o "foro interno".
A terça-feira trouxe mais duas etapas fundamentais na Itália para esta "Revolução Pastoral", quando Francisco nomeou clérigos ideologicamente de centro-esquerda, conhecidos por seu ativismo social, para dirigir duas das arquidioceses mais importantes do país em Bolonha e Palermo.
Em todo o mundo católico, nomeações episcopais na Itália muitas vezes são lidas como jogadas de ajuste do tom para toda a Igreja, desde que os pontífices geralmente tem tido um maior interesse do que a média em seu próprio quintal.
De um ponto de vista político, a transição na Bolonha é especialmente impressionante.
Lá, Francisco substituiu o cardeal Carlo Caffarra, 77, um antigo campeão da ala conservadora da Igreja e um oponente de liderança de uma abertura para os divorciados que voltaram a casar, por Matteo Maria Zuppi, 60 anos de idade, bem conhecido na cidade de Roma como permanentemente estabelecido na centro-esquerda Comunidade de Sant'Egidio, conhecida por seu trabalho em ecumenismo, diálogo inter-religioso, e resolução de conflitos.
Zuppi algumas vezes foi apelidado de "Bergoglio da Itália", uma referência ao nome atribuído ao Papa Francisco.
Para os observadores dos assuntos católicos italianos, o movimento pode ser visto como equivalente ao que aconteceu em Chicago em setembro de 2014, quando Francisco substituiu o falecido cardeal Francis George, que liderou os bispos norte-americanos em seu impasse com a administração de Obama sobre mandatos de contracepção, pelo moderado Arcebispo Blase Cupich.
Ao longo dos anos, Zuppi também esteve envolvido em alguns dos esforços mais conhecidos de Sant'Egidio na solução de problemas diplomáticos, incluindo o desempenho em um papel-chave nas negociações que levaram ao fim de uma sangrenta guerra civil em Moçambique, em 1992.
Por sua parte nas conversações de paz, Zuppi foi feito cidadão honorário de Moçambique.
Zuppi também organizou uma série de esforços, na cidade de Roma, para prestar assistência aos idosos, aos pobres, ciganos e viciados em drogas, em grande parte localizados no bairro de Trastevere, onde Sant'Egidio tem a sua sede.
Em Palermo, Francisco aceitou a renúncia do Cardeal Paolo Romeo, também 77, e nomeou Corrado Lorefice, 53, outra figura bem conhecida nos círculos eclesiásticos italianos por seu ativismo anti-Mafia, por seus esforços em nome das vítimas da prostituição e tráfico humano, e seus escritos sobre a "escolha da Igreja pelos pobres".
Lorefice é conhecido como um grande admirador do falecido sacerdote siciliano, o Pe. Giuseppe "Pino" Puglisi, que trabalhava em um bairro de resistência de Palermo, chamado Brancaccio, tentando manter os jovens fora da criminalidade organizada, e foi morto a tiros por pistoleiros da máfia em 1993.
Puglisi foi beatificado, o último passo em direção a santidade, apenas dois meses após a eleição do Papa Francisco, em março de 2013.
Professor de teologia moral, Lorefice também escreveu com aprovação sobre o falecido cardeal Giacomo Lercaro de Bolonha, que era visto como um líder progressista durante o Concílio Vaticano II (1962-1965).
Ambas Bolonha e Palermo têm sido tradicionalmente dioceses cujos líderes se tornam automaticamente cardeais. Papa Francisco, no entanto, parece preferir eleger novos cardeais provenientes de áreas tradicionalmente negligenciadas, por isso não há garantia qualquer de que nem Zuppi ou Lorefice necessariamente sejam introduzidos no Colégio dos Cardeais.
No entanto, dada a sua idade relativamente jovem para clérigos seniores (60 e 53, respectivamente), Zuppi e Lorefice estão posicionados para serem pontos de referência no cenário católico italiano por algum tempo que está por vir, não importando se eles recebam o "chapéu vermelho" designando-os como cardeais.
Os bispos anteriores, Caffarra e Romeo, foram compelidos pela legislação da Igreja a apresentarem as suas renúncias aos 75 anos. (Muitos ficam por mais tempo até que o papa esteja pronto para nomear um substituto). Como cardeais, eles permanecerão membros ativos do Colégio dos Cardeais, elegíveis para um conclave e para votar para um novo papa, até os 80 anos.
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A Revolução Pastoral de Francisco desenrola-se com duas grandes escolhas na Itália - Instituto Humanitas Unisinos - IHU