06 Janeiro 2012
Agora que os pastores das grandes dioceses foram nomeados como chefes das congregações romanas, a púrpura, que uma vez pacificava as aspirações, é vivida por alguns como uma etapa. E, para aqueles que têm a ambição de ter um papel no próximo conclave, ao menos de grande eleitor, é o momento de dar um sinal. Mesmo que seja um sinal desgostoso como uma frase homofóbica.
A análise é Alberto Melloni, historiador da Igreja italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação João XXIII de Ciências Religiosas de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 04-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O cardeal Francis George (foto) é um homem de experiência. Arcebispo de Chicago desde 1997, presidente da Conferência Episcopal dos EUA por três anos, ele se declarou parte da maioria do conclave de 2005. Não despreza as frases de efeito.
O seu comentário sobre a lei de Illinois sobre as uniões civis ("Eu morrerei no meu leito, o meu sucessor morrerá na prisão, o seu morrerá mártir") causou rumores pelo seu vitimismo rosnento. Em uma recente entrevista sobre a possível celebração da Parada do Orgulho Gay em Chicago, ele foi além. Disse também que, em seu opinião, corre-se o risco de que o movimento se transforme em um "Ku Klux Klan que se manifesta nas ruas contra o catolicismo". A comparação não indignou apenas uma comunidade que passou por violências infinitas.
O National Catholic Reporter escreveu no dia 3 de janeiro que essa frase corre o risco de levar a estaca zero "a estatura que a Igreja ainda pode ter no debate público". Mas se George lança uma bomba contra os gays (e contra o catecismo católico que prega respeito), não o faz por acaso.
O cardeal fala junto com as primárias para a eleição presidencial: e, portanto, dá a entender aos republicanos que, segundo ele, o cristão "liberal" Obama deve ser desafiado por um ultraconservador de tons brutais, que não teme o risco de radicalizar as posições e de dividir sociedade, mas, ao contrário, que ponha isso como objetivo.
Mas o cardeal também fala em um momento muito particular do pontificado de Bento XVI. Infinitamente mais saudável do que seu antecessor na mesma idade, Ratzinger se prepara para se tornar o papa mais longevo do último século.
Embora com alguns resguardos óbvios com relação à fadiga e com alguma distância com respeito aos assuntos correntes, o pontífice viaja e fala regularmente. As pequenas fragilidades típicas da sua idade criam um protagonismo cardinalício não incomum. Agora que os pastores das grandes dioceses foram nomeados como chefes das congregações romanas, a púrpura, que uma vez pacificava as aspirações, é vivida por alguns como uma etapa. E, para aqueles que têm a ambição de ter um papel no próximo conclave, ao menos de grande eleitor, é o momento de dar um sinal. Mesmo que seja um sinal desgostoso como uma frase homofóbica.
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A frase homófoba do cardeal: um sinal para as eleições dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU