20 Outubro 2015
"A realidade é que, diferentemente dos sínodos passados – onde os resultados eram conhecidos antes que qualquer debate acontecesse –, as conclusões deste Sínodo dos Bispos são, claramente, desconhecidas", afirma editorial do National Catholic Reporter, de 17-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o editorial.
Na metade da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a família, reina a confusão, se não o próprio caos, parafraseando um padre sinodal. E, nessa confusão, há um medo: o medo da incerteza e do desconhecido.
Ora, bispos, nossos irmãos, sejam bem-vindos à vida em família. Aparentemente sem saber, vocês se depararam com uma experiência central em ser e criar uma família: a incerteza.
Não tenham medo dela, padres sinodais. Saboreiam-na. É assim que as famílias vivem.
Os pais conhecem a incerteza tão bem. Eles veem o filhinho sair para a pré-escola ou jardim de infância pela primeira vez. Eles veem o filho ou filha lançarem-se de cheio nas academias ou em praticar esportes, em fazer teatro na escola. O que os filhos irão encontrar? Será que estarão seguros? Há um medo de se sentar ao lado de um leito ou em uma unidade de tratamento intensivo, sem realmente saber se tudo ficará bem. E a primeira vez que saem de carro sozinhos? O primeiro encontro? Onde ele irá acabar?
O maior medo pode se dar quando estes filhos inexperientes verdadeiramente se aventuram nos estudos universitários, adentrando numa carreira profissional, para começarem as suas próprias famílias. Os pais sabem (ou, no mínimo, esperam) que deram o melhor que podiam para criar os seus filhos no caminho certo. Eles lhes deram uma base, os melhores conselhos que possuem.
Com um compromisso de um apoio continuado e muitas orações, sem saber do resultado, eles permitem seus filhos crescerem. Eis o ciclo da vida familiar, a caminhada que as famílias fazem juntas.
O Sínodo chega na metade de sua duração no momento em que este editorial está sendo escrito; e nós ouvimos alguns padres sinodais dizerem estar confusos quanto à direção – e mesmo quanto à finalidade – deste encontro mundial.
É irônico que alguns tenham se queixado de um sínodo injusto, com um resultado pré-ordenado. A realidade é que, diferentemente dos sínodos passados – onde os resultados eram conhecidos antes que qualquer debate acontecesse –, as conclusões deste Sínodo dos Bispos são, claramente, desconhecidas.
Como a equipe de elaboração irá reunir todas as opiniões divergentes em um único documento? Será que os bispos vão gostar de um documento assim? Ou será que acabarão simplesmente no caos e passarão tudo para o papa enquanto voam de volta para seus lares? Talvez este documento deva ser deixado aos cuidados do papa. Se este processo de três semanas de duração terminar com aparentemente nada a apresentar, estaremos diante de uma derrota da Igreja Católica? Ou seria isso um sinal de uma Igreja caminhando? Uma Igreja peregrina?
As questões em debate são complicadas, e não há motivos para fingirmos o contrário. Conforme o bispo australiano Mark Coleridge disse recentemente, há um amplo território a explorar e “é sobre isso o que o Sínodo deveria centrar a sua atenção”.
Talvez as respostas específicas que os católicos em Londres precisam não são aquelas de que os católicos em Lusaka necessitam. Uma resposta para todos deixar-nos-ia com um sentimento de segurança, mas seria verdadeira esta resposta?
Quão revolucionário seria um documento sinodal que dissesse: “Nós não conseguimos alcançar um consenso global em muitos assuntos, mas nos rejubilamos nesta diversidade e nos comprometemos a não deixar que as diferenças nos dividam”. Os católicos em Londres e em Lusaka teriam de confiar uns nos outros, mesmo quando discordarem. A Igreja peregrina continuaria com a caminhada.
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Os padres sinodais deveriam saborear o incerto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU