14 Outubro 2015
A segunda semana do "Sínodo midiático" se abriu com uma carta "privada" de 13 cardeais ao papa, vazada por um jornalista veterano e depois desmentida por diversos supostos signatários.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada no sítio Il Sismografo, 12-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sandro Magister publicou nesse domingo, com um comentário próprio, uma carta de 13 cardeais dirigida ao papa antes da abertura do Sínodo, carta em que os purpurados – sete europeus, três norte-americanos, dois africanos e um da Oceania (incluindo três cardeais prefeitos: George Pell, Robert Sarah e Mauro Piacenza) – expressam diversas preocupações de quem, no fim, substancialmente, teme um Sínodo manipulado, pilotado, domesticado, não livre (todas palavras nossas e não da carta).
Magister abre o seu artigo dizendo: "Mas Francisco rejeitou em bloco as suas reivindicações". Andrea Tornieli especifica: "A essa carta, no dia seguinte, na Aula, responderam o secretário-geral do Sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri, e o próprio Papa Francisco. O primeiro explicou que os signatários cometeram um erro ao falar de mudanças de procedimento relativas à comissão encarregada de redigir o documento final e relativas à nomeação dos relatores dos circuli minores".
Depois, o coordenador do Vatican Insider entra nos detalhes e observa pontualmente:
"Quanto à primeira objeção, Baldisseri explicou que, até o Sínodo extraordinário de 2014, a redação do documento final era confiada a três a quatro pessoas da Secretaria Geral. Foi Francisco que quis ampliá-la, associando a ela um Padre sinodal por cada continente. Nunca essa comissão tinha sido eleita pela Aula. Além disso, também é errada a previsão, antecipada por círculos midiáticos contíguos aos signatários de uma não eleição dos relatores e dos moderadores dos grupos de trabalho menores. Como já acontecera em 2014, os relatores e os moderadores dos circuli minores foram eleitos pelos Padres, e não nomeados. E os relatórios desses círculos, como acontecera no ano passado, foram tornados públicas integralmente.
- Como será possível lembrar, Francisco tinha citado a "hermenêutica conspirativa", definindo-a como "a sociologicamente mais frágil" e "teologicamente mais divisiva". Como se dissesse: é o exato oposto do que somos chamados a fazer aqui, chega dessa mentalidade que vê tramas e complôs por toda a parte. As suas palavras foram saudadas com um aplauso.
- O papa também havia afirmado que "a doutrina católica sobre o matrimônio nunca foi tocada, ninguém a pôs em questão mesmo na assembleia extraordinária, ela está conservada na sua integridade" e sugeriu aos Padres que não se deixassem "condicionar", reduzindo o horizonte "como se o único problema fosse o da comunhão para os divorciados recasados".
Então, é preciso perguntar quais foram os motivos para vazar para Magister essa carta. O que está por trás ou o que se pretende por parte dos protagonistas, eclesiásticos ou não, dessa curiosa história?
A totalidade dos 13 cardeais signatários da carta participaram – às vezes com papéis delicados e de grande responsabilidade – de diversas assembleias sinodais e nunca imaginaram dirigir a João Paulo II um documento desse tipo. Nunca! Porém, eles sabem muito bem que todos os sínodos anteriores dos quais eles participaram eram muito diferentes ao de outubro de 2014 e do ano em curso. Muito diferentes, realmente.
Então, o que o "Sínodo midiático" vai nos oferecer amanhã?
Não sabemos e, por enquanto, só devemos esperar. Sabemos, sim, e como!, o que ele nos ofereceu hoje e certamente se tratou de um espetáculo deprimente e constrangedor, mas que teve um mérito relevante: a confirmação retumbante – o verdadeiro revólver fumegante – da existência de uma corja de eminentes vaticanistas que abandonaram a nobre profissão da informação para passar, com corpo e alma, à de repassador (aliás, desajeitado).
No atual estado das coisas, a surpreendente – e, não fosse pela extrema gravidade da questão, se poderia dizer "divertida" – história da carta dos "13 cardeais" ao papa antes do Sínodo para expressar sérias preocupações sobre a liberdade da assembleia, publicada hoje por Magister, pode ser resumida assim:
1) existe uma carta ao papa por parte de alguns Padres sinodais, mas não coincide com o conteúdo divulgado por Magister, e entre os signatários há prelados alheios ao documento;
2) os signatários não são 13, mas nove (a assinatura de quatro purpurados – Erdö, Scola, Piacenza e Vingt-Trois –, que negaram e desmentiram publicamente a sua participação, foi acrescentada e/ou difundida de forma arbitrária, sem o consentimento das partes interessadas).
3) um cardeal, Wilfrid Fox Napier, reconhece ter assinado uma carta, mas não a difundida com outro conteúdo. Outro, George Pell, reconhece que a carta divulgada contém erros na lista dos signatários e no conteúdo, e a partir disso fica claro que ele é uma das pessoas que assinaram.
Um verdadeiro enigma envolto em um mistério.
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A suposta carta dos 13 cardeais ao papa: um enigma envolto em mistério - Instituto Humanitas Unisinos - IHU