09 Outubro 2015
Antes da pergunta sobre quem organizou a surpreendente "saída do armário" do Mons. Krzystof Charamsa, no sábado, 3 de outubro passado, e antes ainda da avaliação do potencial beneficiário da operação midiática impressa no jornal Corriere della Sera e que, em breve, se tornará um livro, é preciso olhar para os fatos.
A reportagem é de Maria Elisabetta Gandolfi, publicada no sítio L'Indice del Sinodo, 07-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem quer que tenha sido, essa pessoa calculou bem os tempos, tanto que o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Pe. Federico Lombardi, declarou que, "apesar do respeito que merecem os casos e as situações pessoais e as reflexões sobre elas, a escolha de fazer uma manifestação tão surpreendente às vésperas da abertura do Sínodo parece muito grave e não responsável, porque visa a submeter a Assembleia sinodal a uma indevida pressão midiática".
Atentemos, portanto, aos fatos; acima de tudo, aos biográficos. O Mons. Charamsa, polonês, nascido em 1972, depois do seminário, estudou na Faculdade Teológica de Lugano, fundada por Dom Eugenio Corecco, onde obteve uma licenciatura em teologia dogmática com uma monografia sobre o ensino da Igreja sobre a impassibilidade divina. O orientador foi Manfred Hauke.
Em 1997, foi ordenado sacerdote. Em 2002, obteve o doutorado pela Pontifícia Universidade Gregoriana. O orientador e o co-orientador da tese em dogmática sobre "A imutabilidade de Deus. O ensino de São Tomás nos seus desenvolvimentos junto aos comentaristas escolásticos" foram os jesuítas Karl Becker (cardeal desde 2012 e falecido em fevereiro deste ano) e Luis Ladaria (secretário da Congregação para a Doutrina da Fé desde 2008), de cuja ortodoxia não há do que duvidar.
Em 2003, ele foi nomeado oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, da qual o cardeal Ratzinger era prefeito (de 1981 até 2005). Em 2008, recebeu a honraria de Capelão de Sua Santidade e, posteriormente, em 2011, foi nomeado secretário adjunto da Comissão Teológica Internacional.
Desde 2004, lecionava no Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, a universidade administrada pelos Legionários de Cristo, como professor convidado com o cargo dos cursos de especialização e dos seminários do ciclo de licenciatura, e, desde 2009, era professor convidado da Faculdade de Teologia na Gregoriana (no ciclo do bacharelado).
Os seus livros, publicados, dentre outras, pelas Edizioni Studio Domenicano (Bolonha) e pela Livraria Editora Vaticana, foram resenhados pelo L'Osservatore Romano, pelo Il Timone e por inúmeras revistas especializadas em estudos tomistas.
Na rede, também se encontra não só o seu rico currículo, mas também um recente artigo online na agência Zenit – também esta próxima dos Legionários – intitulado "É válida a missa celebrada por um sacerdote que está em pecado?" [disponível aqui, em espanhol].
No entanto, a essa exposição tão geométrica e capaz correspondia um sofrimento interior profundo, expressado sem meios termos com a frase: "Eu tenho que falar sobre o que eu sofri no Santo Ofício, que é o coração da homofobia da Igreja Católica, uma homofobia exagerada e paranoica".
Não só. "Quero que a Igreja e a minha comunidade saibam quem eu sou: um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da própria identidade. Estou pronto para pagar as consequências disso, mas é hora de que a Igreja abra os olhos diante de gays crentes e entenda que a solução que ela lhes propõe, a abstinência total da vida de amor, é desumana".
A partir dessas declarações tão apaixonadas, mas também tão claras, muito pouco alinhadas com aquelas expressadas nos ambientes em que o Mons. Charamsa se formou e viveu, tem-se a ideia de que a resposta intransigente à homossexualidade não é viável e que é urgente – se os Padres sinodais se recuperarem do choque desse clamor – olhar na cara de uma questão que é feita de carne e ossos.
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Em muitas questões eclesiais, como a homossexualidade, a intransigência não resolve - Instituto Humanitas Unisinos - IHU