Por: André | 01 Outubro 2015
A Igreja do continente africano, em vista da reunião sinodal de outubro, defende, em sua maioria, as posições tradicionais. Mas alguns prelados aprovam a flexibilidade, desde Gana até a África do Sul.
A reportagem é de Davide Maggiore e publicada por Vatican Insider, 30-09-2015. A tradução é de André Langer.
“No Sínodo, a África falará com uma só voz”, afirmou dom Gabriel Mbilingi, arcebispo de Lubango, Angola, e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam), durante o encerramento de um encontro dedicado (no dia 11 de junho passado, em Accra) à próxima reunião sinodal sobre os temas da família.
Mas imaginar que a postura dos religiosos africanos em vista do Sínodo ordinário de outubro será monolítica pode ser simplista. Sem dúvida, no ano passado chegaram do continente algumas das vozes mais claras do campo do rigorismo, a começar pelo cardeal arcebispo de Durban, África do Sul, Wilfred Fox Napier, que em outubro deste ano será um dos quatro presidentes delegados da assembleia sinodal. Esta mesma postura também foi apresentada durante o encontro de Accra pelo cardeal Robert Sarah, que convidou os participantes para “não ter medo de reiterar” o ensinamento recebido sobre o matrimônio e sobre os temas da família.
No entanto, na mesma capital de Gana estavam presentes outros bispos cujas posturas fizeram pensar na possibilidade de um debate mais animado com relação, pelo menos, a uma questão pendente: o possível acesso à Eucaristia para os divorciados recasados.
Se bem que outros três dos cinco cardeais que intervieram em Accra (os arcebispos John Njue, de Nairobi; Polycarpo Pengo, de Dar Es Salaam; e Christian Tumi, emérito de Douala) parecem encontrar-se na mesma linha de Sarah, de Guiné, Berhaneyessus Souraphiel pensa um pouco diferente. O cardeal etíope, que recebeu o barrete vermelho das mãos do Papa Francisco durante o último consistório, explicou recentemente que espera “uma nova flexibilidade” depois do Sínodo, utilizando um termo que agrada aos autores da tese da “abertura” (inclusive definida “da misericórdia”), normalmente atribuída ao cardeal Walter Kasper.
Na mesma sintonia, passando do extremo oriental ao ocidental do continente, encontra-se dom Charles Palmer-Buckle, arcebispo de Accra, que, ao contrário de Souraphiel, estará presente no sínodo como delegado (o cardeal, pelo contrário, será convidado). O prelado de Gana, de fato, defende que a verdadeira questão em jogo não é a de “fazer declarações onicompreensivas”, mas “quando uma pessoa vem para me ver, sentar-me com ele, com ela ou com a família para examinar a situação e oferecer soluções para casos individuais”.
Sinais claros nesta mesma direção também vêm da Igreja da África do Sul. Aqui, os delegados eleitos pela Conferência Episcopal da África do Sul (Sacbc, que inclui também os bispos de Suazilândia e Botsuana) não compartilham as mesmas posições que o cardeal Napier. Estes últimos (o arcebispo Stephen Brislin, da Cidade do Cabo, e o bispo Zolile Mpambani, de Kokstad) receberam explicitamente um mandato centrado na “abordagem da ‘misericórdia’ e da virtude, nem muito rígida, nem relativa”, segundo indicou a agência católica panafricana Canaa.
Devemos recordar, além disso, que em agosto passado foi justamente dom Mpambani, em uma mensagem escrita na qualidade de responsável da Sacbc para o Apostolado da Família que fez uma alusão aos homens e mulheres que “perderam um cônjuge por morte ou por divórcio, mas para quem o matrimônio segue sendo valor”.
E também é importante a postura da África do Sul em relação à terceira questão que o sínodo extraordinário de 2014 deixou em aberto, a da acolhida dos homossexuais. Sobre este tema, alguns religiosos, como Souraphiel e Palmer-Buckle, estão em sintonia com a maioria da Igreja continental, que desconfia daquela tendência considerada “não africana”. Em janeiro do ano passado, a revista católica The Southern Cross (da qual a Sacbc é acionista majoritária) indicou que esta era uma “ficção”, uma fantasia.
“O prejuízo e a perseguição dos homossexuais vão contra a doutrina católica”, dizia o editorial da The Southern Cross, dedicado particularmente às chamadas “leis anti-gays” que foram votadas nos parlamentos da Nigéria e da Uganda. Poucas linhas mais abaixo, recordava-se explicitamente a passagem do Catecismo que recomenda evitar “qualquer sinal de injustiça ou de discriminação” das pessoas homossexuais. Ou seja, a mesma passagem que é citada em um dos três parágrafos da relação final do sínodo extraordinário, que não atingiram as duas terças partes dos votos.
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Sínodo sobre a Família: África, uma voz plural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU