24 Fevereiro 2015
Um importante cardeal africano diz que os bispos de seu continente querem que o Sínodo dos Bispos 2015 se centre no fortalecimento da Igreja junto às boas famílias antes de se pôr a decidir sobre outros assuntos tais como o debate contencioso relativo à participação na Comunhão de católicos divorciados e recasados no civil.
A reportagem foi publicada por CNA/EWTN News, 19-02-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Cardeal Wilfrid Napier, de Durban (África do Sul), esteve em Roma na semana passada para um encontro dos bispos africanos – conhecido como Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (ou simplesmente SECAM, na sigla em inglês) – com o Papa Francisco.
Numa entrevista dada em 13 de fevereiro deste ano, ele contou à agência noticiosa Catholic News Agency que havia se reunido com um grupo de cardeais na noite anterior para discutir quais assuntos devem ser trazidos em outubro, quando o Sínodo dos Bispos sobre a família se reunirá em Roma.
“E a primeira coisa que dissemos foi: temos de realçar que nós temos bons casamentos, que temos boas famílias; em primeiro lugar, vamos ser positivos”, disse.
“Em segundo lugar, como podemos garantir que a próxima geração também terá boas famílias e bons casamentos? Então, a preparação e o acompanhamento são duas coisas em que, realmente, precisamos nos concentrar”.
Os comentários do Cardeal Napier destacando as boas famílias – e a preparação de boas famílias no futuro – foram suas respostas a uma pergunta sobre uma suposta abertura por parte de um outro bispo africano no sentido de se admitir que divorciados e recasados participem na Comunhão.
No dia 11 de fevereiro deste ano, John Allen, do sítio Crux, escreveu que o arcebispo de Accra (Gana), Dom Gabriel Palmer-Buckle disse “estar aberto a que católicos divorciados e casados novamente no civil recebam a Comunhão, desfazendo a impressão de uma posição africana uniformemente hostil a alguma mudança nesse sentido”.
Allen não citou Dom Gabriel Palmer-Buckle, mas escreveu que o prelado disse estar disposto a “votar sim” na “proposta de Kasper”.
Esta ideia remonta ao Cardeal Emérito Walter Kasper, quem sugeriu que a Comunhão possa ser dada em certos casos aos que se divorciaram e, posteriormente, se casaram novamente sem ter obtido um decreto de nulidade do primeiro casamento.
Após discutir a necessidade de se fortalecer as famílias hoje e no futuro, o Cardeal Napier voltou-se diretamente à questão dos comentários feitos pelo arcebispo ganês Dom Gabriel Palmer-Buckle:
“(…) Um dos cardeais teve a sensibilidade de chamar o prelado em questão (Dom Gabriel Palmer-Buckle), e dizer: ‘Olha, em situações como esta, é preciso avaliarmos caso a caso, não se pode fazer uma declaração geral de que podemos dar a Comunhão a pessoas que são divorciadas e recasadas, e assim por diante”.
“Assim, esta foi uma das coisas que consideramos como um problema que precisa ser encarado”, disse o Cardeal Napier.
“Tenho certeza de que este assunto vai vir à tona de novo, mas nós gostaríamos, enquanto grupo de líderes eclesiásticos africanos, de não deixar de lado estas questões, estes problemas, sem olhar, primeiro, as coisas boas que existem, e ver como podemos fortalecer a Igreja através dos bons casamentos e das boas famílias”.
Dom Gabriel Palmer-Buckle foi eleito pela conferência episcopal ganesa para ser o seu delegado no Sínodo 2015 sobre a família, que terá como base o Sínodo dos Bispos do ano passado.
Esta mesma conferência episcopal adotou um manifesto, no dia 15 de novembro de 2014, durante a conclusão de sua assembleia plenária, que chamou a atenção para o “ensinamento perene e imutável da Igreja sobre a família” e que “Deus determinou que o matrimônio fosse indissolúvel como afirmou Jesus: ‘Portanto, aquilo que Deus uniu o homem não separe’”.
No mesmo texto, os bispos ganeses – inclusive Dom Gabriel Palmer-Buckle – afirmaram que “a Igreja vai também continuar a ensinar que o divórcio não é permitido pela Igreja porque ele separa o que Deus uniu”.
“Ela [a Igreja] sofre com aqueles que não são admitidos à Comunhão devido ao seu estado civil e irá continuar em sua caminhada com eles na fé incentivando-os a não desanimarem”.
Após este manifesto dos bispos ganeses sobre o matrimônio no ano passado, os bispos de todo o continente voltam o olhar para o encontro de outubro deste ano em Roma.
Quando perguntado sobre a preparação dos bispos africanos para o Sínodo 2015, o Cardeal Napier disse que as conferências episcopais já analisaram o questionário elaborado pelo Sínodo dos Bispos.
“Seguindo o meu conselho, os bispos decidiram simplificar o questionário e focar em torno de cinco áreas que apareceram no documento final”.
A primeira delas é “a questão-chave da preparação e o acompanhamento do matrimônio”.
Ao fazer alusão à “Familiaris consortio,” exortação apostólica de São João Paulo II que concluiu o Sínodo dos Bispos sobre a família em 1980, o cardeal disse: “Não estamos apenas falando sobre a preparação para o dia do casamento, mas todo um programa catequético a partir do momento da Confirmação até o casamento”.
“E então um acompanhamento nos quatro (ou cinco) primeiros anos: tendo casais da paróquia acompanhando os recém-casados”.
O segundo conjunto de questões que os bispos africanos irão perguntar envolve o ministério “quando um casamento se rompe”, e uma terceira área de preocupação é a coabitação, observou o cardeal. “Muitos casais estão vivendo juntos antes de darem um passo adiante. O que faz com que estas pessoas ajam assim? Que diferença faz o casamento para elas? Precisamos encontrar uma resposta para todas estas interrogações”.
“A quarta área é: quando um casamento de desfaz, quão acessível são os tribunais aos fiéis para se investigar se ele – o casamento – foi válido e, então, declará-lo nulo e sem efeito, se for o caso?”
A quinta área “são as situações extraordinárias em que algumas famílias têm de viver”, tais como as de monoparentalidade e famílias chefiadas por crianças.
O Cardeal Napier também disse ser “absolutamente” importante que os fiéis rezem pelo Sínodo e pelos bispos que nele estarão participando.
Em particular, mencionou uma novena de adoração eucarística organizada por Christine McCarthy e Diane Montagna, da ONG Eucharistic Adoration Society. Quando os organizadores lhe contaram sobre a iniciativa, ele a apresentou ao Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar – SECAM “e imediatamente ela [a iniciativa] foi pauta de uma reunião do Comitê Permanente e, segundo me contaram, o arcebispo de Accra, em Gana, disse que a ideia será imediatamente implementada em minha diocese”.
O Cardeal Napier acrescentou que orações para os padres sinodais vão ser, realmente, importantes: “Eu nunca tive esta experiência de oração como sendo um apoio que podemos sentir, como quando nós tínhamos aquele programa em curso antes do [último] conclave chamado ‘Adote um Cardeal’; ah, era fantástico, receber um SMS ou tuíte de alguém dizendo: ‘Incluí o seu nome em minhas orações, estou rezando pelo senhor, quero que saiba disso’. Com certeza, eu sentia que estávamos sendo apoiados pelas orações.
“E eu acho que para este Sínodo, especialmente porque ele é sobre um tema vital como a família e o matrimônio, nós precisamos de tantas orações quanto possível; e esta ideia de Adoração Eucarística é uma das melhores ideias, creio eu”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Comunhão para divorciados e recasados? Bispos africanos têm outras preocupações, diz cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU