29 Setembro 2015
Pensando no Air Force One, ele foi rebatizado de Shepherd One, ou seja, "Pastor Um". É o avião da American Airlines que levou Francisco sobre os céus dos Estados Unidos e, depois, para Roma. A frase era exibida orgulhosamente até mesmo pelos técnicos em terra, costurada nos seus coletes amarelos. Mas tanto o Boeing 777 da American Airlines quanto o Airbus 330 da Alitalia usado para o voo de ida de Roma a Cuba têm pouco ou nada a ver com o avião dos presidentes dos EUA.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 28-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papa não possui um avião próprio, e aquele que ele usa de vez em quando para as suas viagens não apresenta nenhuma preparação especial. Não há salas de reuniões nem quartos, embora, até alguns anos atrás, quando os bancos podiam ser desmontados com mais facilidade, porque não continham cabos e fios, para os voos mais longos, era preparada uma cama.
Hoje, Francisco pode repousar na poltroninha branca da Business Class que fica logo ao lado da porta de entrada e ele não tem nenhuma dificuldade para dormir. Na parede que fica na frente, é posto um ícone de Maria.
O voo Alitalia de número AZ4000 acompanha o papa na ida. A companhia aérea nacional do país visitado providencia o retorno. Quando ela não existe ou a que existe não é suficientemente segura, é a companhia italiana que faz tudo.
A bordo
Com Francisco, viaja uma comitiva composta por cerca de 20 colaboradores. Há o assistente de quarto, Sandro Mariotti, o cardeal secretário de Estado e o substituto, o porta-voz, padre Federico Lombardi, o diretor do Centro Televisivo Vaticano, Dario Viganò, o médico pessoal do papa.
Outros dois personagens que nunca faltam são o organizador das viagens papais, Alberto Gasbarri, cavalheiro alto e discreto, e o comandante dos gendarmes vaticanos, Domenico Giani, à frente da equipe responsável pela segurança do pontífice.
A bagagem de Francisco é carregada no porão. Ela inclui não só as suas roupas, mas também alguns paramentos, o bastão pastoral e os presentes, às vezes volumosos, que o papa dará aos chefes de Estado e aos bispos. Desta vez, havia também os livros e os CDs para Fidel Castro.
Bergoglio traz consigo, na cabine, a velha pasta preta com bens pessoais, incluindo o barbeador, que ele usa duas vezes por dia: de manhã, às 4h30, quando acorda, e no início da tarde, depois da sesta. Ele não quer a barba machuque as crianças que ele cumprimenta.
Sinais distintivos do voo papal são o encosto de cabeça e as almofadas brancas com o brasão pontifício bordado em relevo. O menu, impresso em papelão, também traz impresso o brasão do pontífice.
As comissárias e comissários de bordo são escolhidos entre o pessoal com mais experiência. Cada voo termina, para cada um deles, com uma foto sentados ao lado do papa, que nunca deixa de entrar no cockpit para cumprimentar os pilotos.
Com Francisco, também voam cerca de 70 jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas das principais TVs e publicações do mundo. Eles contribuem substancialmente para os custos do voo: pagam uma passagem inteira de primeira classe, mesmo que viajem na parte de trás. Há apenas alguns lugares pré-atribuídos para fotógrafos, cinegrafistas, rádios e agências. A maioria é livre, e quem sobe primeiro no avião se senta melhor.
Respostas livres
Bento XVI fazia logo depois da decolagem uma pequena coletiva de imprensa, nos últimos anos com perguntas enviadas previamente e selecionadas por Lombardi. Francisco prefere fazer isso no voo de volta, para evitar que uma resposta mal interpretada desvie a atenção dos conteúdos da viagem.
Ele não quer conhecer as perguntas antes e dialoga sem obstáculos, em italiano, com os repórteres por mais de uma hora: geralmente, para interrompê-lo, é usada a desculpa do jantar que será servido.
Os jornalistas são divididos por grupos linguísticos, dentro dos quais escolhem entre si, cada um por vez, quem vai fazer as perguntas, tentando evitar duplicações desnecessárias.
Com os papas Wojtyla e Ratzinger, o voo de volta para os jornalistas que os acompanhavam significava finalmente o descanso. Com Francisco, torna-se uma maratona de trabalho: é preciso transcrever a entrevista, comparar com os colegas esta ou aquela frase, escrever os artigos a serem transmitidos logo depois de tocar o solo.
Muito mais pessoal é o encontro no voo de ida, quando Francisco se apresenta na parte de trás do avião para saudar os jornalistas um por um. Ele percorre lentamente os corredores e troca algumas palavras com cada um, acompanhado por alguns colaboradores para repassar os presentes, as cartas, os bilhetes e os livros que ele recebe.
Há quem lhe peça orações ou um selfie, ou quem lhe faça ouvir a voz dos filhos que o cumprimentam gravada no smartphone; ou quem lhe faça ver o novo aplicativo com os emoticons papais desenhados, ouvindo como resposta: "Estou muito melhor aí do que na realidade". O jornalista da Telemundo também lhe deu uma cópia do Emmy Awards vencido pela excelente cobertura televisiva do conclave.
No voo Roma-Havana, a jornalista da rede de TV Univision presenteou o papa com uma caixa grande de "empanadas", os pastéis recheados com carne, típicos da Argentina. Francisco não pensou duas vezes e logo as passou para a comissária, para que fossem descongeladas, divididas em pequenos pedaços e oferecidas a todos como aperitivo.
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Quando Francisco faz história a 10.000 metros de altura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU