09 Setembro 2015
Sam Clark não foi criado num lar católico. Ele nunca se converteu também. No entanto, este americano, de 50 anos, natural de Carson City, Michigan, gosta do Papa Francisco: “O papa mais ecumênico que vi em toda a minha vida”. Os ensinamentos da Igreja também atraem Clark, que tem muitos parentes e amigos católicos.
A reportagem é de Cathy Lynn Grossman, publicada por Religion News Service, 03-09-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Como 45% dos adultos americanos, ele é um católico conectado (“Catholic-connected”), segundo um olhar inovador sobre o espectro do catolicismo americano que o Papa Francisco encontrará em sua primeira visita aos Estados Unidos no final deste mês.
Uma nova pesquisa do Pew Research Center, divulgada na quarta-feira (2), vai além do cômputo padrão de quantas pessoas dizem que sua identidade religiosa é a católica. O estudo atual faz inúmeras perguntas originais que o Pew Research Center não havia estudado até então.
O levantamento que envolveu 5.122 adultos americanos, incluindo 1.016 autoidentificados católicos, mostra que a parcela da Igreja no mercado religioso caiu de 23,9% (em 2007) para 20% na nova pesquisa, realizada nos meses de maio e junho de 2015. No entanto, a presente pesquisa mostra também que o caloroso e envolvente pontífice pode encontrar um terreno fértil para a sua mensagem de fé neste país.
Pew descobriu que 8% dos não católicos, como Clark, sentem alguma afinidade com a Igreja Católica.
E 9% dos adultos americanos são identificados como “católicos culturais” (“cultural Catholics”) no espectro do Pew Research Center. Eles podem ter sido criados na tradição católica, mas já não se identificam como católicos. Mesmo assim, o estudo constata que eles ainda se consideram, pelo menos em parte, católicos pela cultura, ascendência, etnia ou tradição familiar.
Por exemplo, consideremos Robert Rivera, 43 anos, morador de Aldine, Texas.
Rivera cresceu na Igreja Católica, e seus pais ainda participam na paróquia onde ele teve a sua Confirmação. “Eu absolutamente tenho um sentimento conexão, ligação com a Igreja. Isso está impregnado na forma como fui criado. A moralidade e a ética do Evangelho universal que ela ensina são fantásticos”, disse ele.
Porém, este filho de imigrantes mexicanos disse que também encontra, em seis de cada 7 dias, certo racismo praticado pelas mesmas pessoas que celebram o amor e a comunidade aos domingos.
“O Papa Francisco é mesmo muito legal – ele é o papa mais inovador e atualizado de todos os tempos. Mas eu não quero ir para uma igreja que é mais santa aos domingos e racista durante a semana toda”, disse ele. Por isso, hoje, com e sua esposa e filhos, Rivera participa de comunidades protestantes não denominacionais onde ninguém o chama de “wetback”, termo pejorativo usado para se referir aos mexicanos que vivem nos EUA ilegalmente.
Finalmente, o novo estudo identificou 9% dos americanos como ex-católicos – também conhecidos como católicos “caducados” ou “desviados”– que foram criados na Igreja, mas que se afastaram dela.
Jennifer Haslet-Phillips, de 39 anos, moradora da cidade de Friday Harbor, Washington, está entre estas pessoas.
Haslet-Phillips, que afirma não ter “absolutamente nenhuma” identidade religiosa, diz não obstante apreciar muitas das prioridades assumidas pelo Papa Francisco.
“Eu acho muito interessante que ele tenha se focado nos pobres e no porquê as pessoas são pobres; é interessante ver que ele fez das mudanças climáticas e da nossa presença na terra como os guardiões da natureza uma prioridade católica. E ele está certo também ao ter um olhar crítico sobre o capitalismo corporativo”, disse ela. “Mas eu tenho opiniões fortemente negativas sobre a Igreja”.
Então, qual o maior impasse aqui? Haslet-Phillips está descontente porque o hospital católico em Friday Harbor não oferece “uma gama completa de assistência à saúde reprodutiva e ao planejamento familiar”, pois segue as diretrizes éticas dos bispos.
Assim, ela não manda os seus três filhos para escolas católicas nem para acampamentos de verão. Nas manhãs de domingo, “nós vamos à praia”.
Apesar de toda esta sua admiração, nem mesmo o Papa Francisco a fará mudar de ideia quanto a uma volta à Igreja, segundo ela. E o Pew Research Center descobriu que a maioria dos ex-católicos concordam a esse respeito.
“Vemos diferenças enormes entre os católicos culturais e ex-católicos”, disse Greg Smith, diretor de pesquisa para assuntos religiosos do Pew.
“Os católicos culturais exibem um grau significativo de abertura à Igreja”, contou ele, “enquanto que os ex-católicos cortaram os seus laços com a instituição. Perguntando diretamente: ‘Você se vê um dia voltando a ter uma identidade religiosa católica’, 4 em cada 10 católicos culturais dizem que sim, mas 90% dos ex-católicos dizem que não”, falou Smith.
Muitos católicos culturais ainda estão ao alcance da Igreja. Um em cada 3 diz que frequenta a missa uma ou duas vezes por ano ou que pratica alguma observância da Quaresma. E 4 em cada 10 dizem que, se acaso se encontrarem gravemente doentes, gostariam de receber a unção dos enfermos – um dos sete sacramentos do catolicismo – por um padre.
Ainda assim, a nova pesquisa do Pew Research Center mostra que há desacordo generalizado no seio da Igreja entre os 20% que se dizem católicos. Mais de 60% querem que a Igreja altere as suas políticas em matéria de Comunhão (católicos divorciados que voltaram a se casar sem uma anulação não devem receber; o mesmo para os casais que vivem juntos fora do matrimônio). Quase a metade (46%) acha que o casamento gay deve ser reconhecido; uma porcentagem igual diz que não deveria.
Em outras questões importantes, a pesquisa descobriu que a maioria dos católicos americanos se alinham com os ensinamentos da Igreja que consideram “essenciais” ao que significa ser católico hoje. Os principais são:
• 68% citam relacionar-se pessoalmente com Jesus Cristo;
• 62% listam trabalhar para ajudar os pobres e necessitados;
• 54% citam receber os sacramentos;
• 54% também citam a devoção a Maria.
A pesquisa do Pew Research Center – conduzida entre os dias 5 de maio e 7 de junho em inglês e espanhol – tem uma margem de erro de 1,6 pontos percentuais, para mais ou para menos, nos números gerais; e 3,5 pontos percentuais para os católicos.
Os quatro principais temas da visita do papa – justiça social e econômica; guardiões/administradores do meio ambiente; imigração; e o valor da família tradicional – irão ressoar entre muitos, mas não todos, os católicos americanos.
O novo estudo também constata que apenas uma minoria considera o combate às alterações climáticas (29%) ou a oposição ao aborto (33%) como “essenciais” para a sua identidade católica.
Os católicos se dividem uniformemente sobre se é pecaminoso gastar dinheiro em objetos luxuosos sem doar igualmente aos pobres. O mesmo ocorre quanto a considerar um pecado usar a energia sem se preocupar com o impacto ao meio ambiente.
No entanto, um dado levantado pela pesquisa pode dar esperanças ao Papa Francisco: 7 em cada 10 católicos dos Estados Unidos dizem que não conseguem se imaginar deixando a Igreja Católica, independentemente das circunstâncias.
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