18 Agosto 2015
No penúltimo discurso proferido durante a assembleia nacional da Conferência de Liderança das Religiosas – LCWR deste ano, ex-diretora executiva da organização, a Irmã Janet Mock, da Congregação de São José, fez um discurso contundente sobre o mandato e a avaliação doutrinal vaticanos, concluídos no ano passado e que avaliou as congregações religiosas femininas em todo o país, em particular, a organização LCWR.
A reportagem é de Dawn Cherie Araujo, publicada pelo National Catholic Reporter, 14-08-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Esta assembleia, realizada em Houston, marcou a primeira vez em que as líderes do grupo se encontravam desde que findou, em abril, a polêmica supervisão do Vaticano ao grupo. Neste ínterim, as líderes da LCWR haviam apenas dado poucas entrevistas à imprensa, dando tempo para que todas as congregações que a compõem tivessem a oportunidade de refletir juntos, em assembleia.
No entanto, em um fórum público na internet, Janet Mock disse que teve condições de manter a esperança durante esses anos todos porque ela tenta ver o lado bom das pessoas. Mesmo assim, disse ela, alguém lhe sugeriu que prestasse mais atenção à cultura de corrupção de onde saíram as ações do Vaticano que levaram ao mandato e à avaliação doutrinal.
“Este conselho foi dolorido de ouvir, porém teve um papel importante”, acrescentou. “Porque eu realmente não queria olhar para estas coisas. Havia mesmo uma cultura de corrupção em jogo. Tenho que dizer: só a partir do momento em que me pus a olhar de frente esta situação é que as esperanças mais profundas surgiram”.
Falando ao lado da Irmã Janet Mock estava o Pe. Stephen Bevans, a Congregação do Verbo Divino. Bevans proferiu uma palestra no início desta semana sobre o futuro da vida religiosa, falando sobre o que pensava que a Igreja, como um todo, poderia aprender com a experiência da LCWR nestes anos sob supervisão vaticana.
“A firmeza que a LCWR mostrou em face dos desafios enfrentados é de extrema importância, não apenas para a própria organização, nem mesmo para a Igreja apenas. Acho que é de grande importância para o mundo de Deus”, disse ele. “Creio que uma das coisas que me impressionaram ao longo desta assembleia aqui é que vocês não estão voltadas para si próprias, ou para a LCWR. Vocês estão voltadas à Igreja. E a coisa mais importante na Igreja não é a Igreja. É o Reino de Deus, o sonho de Deus para o mundo. E é isso o que vi aqui”.
Quando perguntado sobre as novas gerações de mulheres que ingressam na vida religiosa, tanto Mock quanto Bevans enfatizaram a necessidade de um processo dinâmico de formação que vai ao encontro das necessidades delas. Bevans, professor acadêmico, focou-se na formação teológica:
“Penso ser extremamente importante elas terem uma base teológica profunda”, disse ele. “A nós foi confiado a boa nova, e o melhor a fazer é assumirmos esta tarefa de forma plena. Muitas vezes, o que se passa na Igreja e, em particular junto às nossas lideranças, é simplesmente uma teologia equivocada. O mundo merece o Evangelho, e ele merece o Evangelho articulado corretamente e vivido de forma adequada”.
Por sua vez, a Irmã Janet Mock alertou que as irmãs da geração Baby Boomer tenham cuidado para não deixar que seus fardos abafem a animação trazida à vida religiosa pelas irmãs mais novas.
“Há uma morte que está acontecendo: uma morte física de muitas das mulheres que foram as nossas orientadoras espirituais e as nossas maiores apoiadoras”, disse ela. “Vemos essas jovens maravilhosas chegando até nós e dizendo: ‘Eu acredito nesta vida’. E o grande desafio das que conduzem as nossas ordens religiosas é, ao mesmo tempo, acompanhar as irmãs mais antigas e promover a nova vida. As mais jovens não têm medo do futuro; elas estão animadas nesse sentido. Então, não vamos abafá-las com as nossas preocupações. Vamos deixá-las livres para seguirem a graça que as trouxe até aqui”.
As palavras da Irmã J. Mock tiveram uma profunda impressão nas irmãs Margaret Shannon e Mindy McDonald, ambas da Congregação de São José da Paz e que estão, pela primeira vez participando de uma assembleia da LCWR.
“Tenho a impressão de que estamos vendo aquilo que de melhor os seres humanos podem ser”, disse McDonald.
Shannon concordou. “A Irmã Janet Mock é uma mulher tão autêntica. Quando ela fala, a gente escuta. Ela nos representa, e estou tão orgulhosa dela e de nós”, disse, acrescentando que o trabalho que esta irmã desempenhou para que o mandato chegasse ao seu final fez com que o momento presente esteja sendo emocionante para as novas lideranças.
Com o que a Irmã McDonald rapidamente concordou: “É impressionante”, disse ela. “Estamos vivendo um momento impressionante da história”.
A Irmã Rosemary Brennan, da Congregação de São José, tem opiniões semelhantes quanto à maneira como a Irmã Janet Mock lidou com a avaliação doutrinal e o mandato.
“Acho que a Irmã Janet encarna, de fato, a capacidade de construir relações onde a confiança poderia crescer e permitir que todos tenham condições de se envolver em um diálogo frutífero”, disse ela.
Em suas palavras finais de incentivo às religiosas presentes na assembleia, Mock e Bevans pediram que “continuem firme, seguindo em frente”. “Vocês estão conduzindo as obras em suas comunidades e congregações em tempos extremamente difíceis”, disse a irmã. “Mas são vocês quem deve ir lá e fazer o que tem de ser feito… Confiem nisso”.
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LCWR revê sua estabilidade e encontra formas de construir relações onde a confiança pode crescer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU