Por: Jonas | 12 Agosto 2015
Os tempos de bonança econômica chegaram ao seu fim. E ao presidente Ollanta Humala (foto) está tocando pagar a fatura da festa. Uma fatura que os adversários políticos do presidente peruano e os grupos econômicos que governaram de mãos dadas com ele, mas que agora lhes dão as costas, estão se encarregando de fazer com que se torne o mais difícil possível. Após crescer entre 6 e 10%, durante a última década, o aumento do PIB em 2014 baixou para 2,3%. Para este ano, espera-se um nível semelhante.
Fonte: http://goo.gl/sTxsCR |
A reportagem é de Carlos Noriega, publicada por Página/12, 11-08-2015. A tradução é do Cepat.
Esquecendo que neste governo a economia continuou sendo manejada pela tecnocracia neoliberal, a oposição de direita, que domina o cenário político, e o establishment econômico e midiático responsabilizam Humala com todas as culpas pela queda da economia, ao mesmo tempo em que defendem o modelo neoliberal. “O crescimento parou por causa da ineficácia do governo em promover o investimento privado e por sua incapacidade em realizar o investimento público”, escreveu em sua coluna do jornal El Comercio, o mais importante do país, Roberto Abusada, economista do neoliberal Instituto Peruano de Economia e assessor econômico da ditadura de Alberto Fujimori. Opinião que, com algumas nuances, é a dominante nos meios de comunicação.
“Culpar Humala pela queda da economia é uma crítica que parte de uma lógica autista que se desconecta do contexto internacional. Sempre é possível dizer que o governo poderia implementar políticas anticíclicas, mas a desaceleração econômica se deve fundamentalmente a fatores externos, como a importante queda dos preços internacionais dos minerais, que para a economia peruana são fundamentais. O nível de crescimento da economia peruana depende do nível dos preços dos minerais”, destacou ao jornal Página/12 José de Echave, economista da ONG CooperAcción, especializada em temas da mineração.
Humberto Campodónico, economista e catedrático da Universidade de San Marcos, também foi consultado por este jornal sobre o assunto: “O fim do grande ciclo dos preços altos das matérias-primas, como os minerais, é um tema central para explicar a queda da economia peruana. Todos os países dependentes de exportações de recursos naturais caíram. Isso não é responsabilidade de Humala”.
A vulnerabilidade da economia peruana e sua alta dependência da mineração refletem no fato de que cerca de 60% dos ingressos por exportações vêm da mineração.
Em conversa com o jornal Página/12, Salomón Lerner, que foi chefe da campanha eleitoral de Humala e seu primeiro-ministro, nos primeiros cinco meses de governo, afirmou que “o grande erro de Humala é ter continuado com o modelo econômico neoliberal excludente, inclusive o aprofundou, fazendo tudo ao contrário do projeto de mudança que foi oferecido na campanha”. “Acredito que esta mudança de Humala – diz o ex-primeiro-ministro – ocorre por causa de seu medo de uma reação contrária dos empresários”.
Humberto Campodónico e José de Echave concordam que “o grande erro” de Humala é sua aposta na continuidade do modelo neoliberal. Uma diferença entre Humala e os governos anteriores é a força que deu aos programas sociais; “Nisto avançou, mas não o que se esperava”, aponta o ex-primeiro-ministro Lerner.
Os três especialistas consultados para esta nota concordam em que no econômico o Peru não enfrenta problemas conjunturais do atual governo, mas, sim, uma crise do modelo neoliberal que marcou os últimos 25 anos do país. “Sem dúvida, estamos diante de uma crise do modelo que transcende Humala”, afirma De Echave. “A economia peruana é, de longe, a mais neoliberal da América do Sul. Isso há anos e continuou com Humala. Agora estamos diante de uma crise do modelo neoliberal que não se quer reconhecer. Estão jogando toda a culpa em Humala para negar a evidente crise do modelo”, disse, por sua parte, Campodónico. E Lerner aponta: “A direita está acusando Humala de ser o causador da queda econômica do país, quando são os neoliberais os que governaram, isso é incompreensível. Humala está carregando as culpas da direita”.
Questiona-se que nos anos do boom do crescimento não se tenha iniciado uma diversificação produtiva que tivesse tornado a economia peruana menos dependente da mineração. “Em diversificação econômica não se fez nada, nem em governos anteriores, nem neste”, aponta De Echave. Também se critica que o país não tenha aproveitado melhor os altos preços dos minerais para obter mais rendas. “Um dos problemas do Peru é não ter tributado adequadamente os grandes lucros das mineradoras pelos altos preços dos minerais. Em países como Bolívia e Equador, entre 70 e 80% da renda dos recursos naturais fica no Estado, no Peru somente um terço desta renda vai para o Estado”, destaca Campodónico. Sobre as medidas tomadas para reativar a economia, Lerner e Campodónico questionam que se tenha apostado somente na oferta, com medidas para favorecer os empresários, como a flexibilização dos controles ambientais, a diminuição de impostos para empresas ou a permuta de obras por impostos, e se tenha esquecido a reativação da demanda. O salário mínimo é mantido em apenas 220 dólares, um dos mais baixos da região. Nos quatro anos do atual governo, a pobreza diminuiu de 28 para 23%. Nas áreas rurais sobe para 46%. Salomón Lerner adverte que com a queda da economia “se retrocederá no pouco que se avançou na redução da pobreza”.
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Chegou o fim do “milagre peruano” de Humala - Instituto Humanitas Unisinos - IHU