Por: André | 31 Julho 2015
O presidente boliviano, Evo Morales, fez um convite à sua colega do Chile, Michelle Bachelet, para que vá ao Vaticano para discutir com o Pontífice a questão da saída para o mar. O Chile respondeu dizendo que a retomada das relações diplomáticas só pode ser incondicional.
A reportagem é publicada por Página/12, 30-07-2015. A tradução é de André Langer.
A Bolívia aceitou reatar relações diplomáticas com o Chile para buscar uma solução para a sua reivindicação de uma saída para o Pacífico e propôs que o Papa Francisco contribua para o diálogo. “Quero dizer ao governo do Chile: estamos de acordo para restabelecer as relações diplomáticas para que em menos de cinco anos se resolva a questão do mar para a Bolívia, uma saída para o Oceano Pacífico com soberania, e com um fiador, o irmão Papa Francisco”, disse Morales no Palácio de Governo de La Paz.
O governo de Michelle Bachelet disse que, no processo de normalização dos vínculos diplomáticos com a Bolívia, não aceitará a imposição de requisitos, em resposta à sugestão de Morales sobre a possível mediação de Jorge Bergoglio. “O Chile sempre disse que para reatar as relações com a Bolívia, que pode ser agora, deve ser incondicional”, defendeu em Santiago o porta-voz do governo, Marcelo Díaz.
Durante a sua apresentação, na qual não aceitou que se fizessem perguntas, Morales fez um convite à sua colega do Chile, Michelle Bachelet, para que fosse ao Vaticano para discutir com o pontífice sobre o tema. “Esperamos uma resposta positiva olhando e superando os problemas de dois países irmãos, vizinhos, o Chile e a Bolívia, para trabalhar juntos pelos nossos povos”, disse o presidente. Recordou, além disso, que há alguns dias, o Chile, por intermédio do seu chanceler, Heraldo Muñoz, propôs que a retomada das relações depois que o Papa Francisco fizera uma alusão ao litígio entre os dois países vizinhos durante a sua visita de três dias à Bolívia.
O chanceler chileno criticou a oferta feita na quarta-feira pelo presidente Morales para que o Chile e a Bolívia restabeleçam suas relações diplomáticas. “Lamentamos muito particularmente o fato de que o governo da Bolívia nos esteja dizendo que a integração bilateral está sujeita à resolução de sua reclamação marítima. Parece-nos lamentável, porque os povos não merecem estar distantes um do outro por tanto tempo”, assinalou o chefe da diplomacia chilena.
“Parece-nos que isto é uma desculpa para não responder positivamente. A Bolívia está fazendo o mesmo pedido que fez à Corte de Haia com sua demanda”, disse o ministro de Relações Exteriores em uma coletiva de imprensa na Chancelaria. Destacou que, igualmente, e sem prejuízo do anterior, “continuamos abertos a restabelecer relações diplomáticas de imediato e sem condições”. “Estamos disponíveis em qualquer momento, mas sem estes condicionamentos que, no fundo, fazem dizer não. O diálogo é diálogo, não é imposição”, sentenciou o secretário de Estado, que recordou que foi a Bolívia que rompeu relações diplomáticas com o Chile em 1978.
Em 09 de julho, o Papa Francisco insistiu, em um discurso pronunciado na catedral de La Paz, na necessidade do diálogo entre os países para resolverem o diferendo. “Estou pensando aqui na saída para o mar. O diálogo é indispensável”, assinalou Francisco nesse dia, e durante o voo de volta ao Vaticano afirmou que não é injusto que a Bolívia queira uma saída para o mar e deixou claro que uma mediação papal seria um último passo. As palavras do Papa e o pedido junto ao Chile foram analisados na terça-feira por Morales e os ex-presidentes bolivianos Guido Vildoso, Jaime Paz Zamora, Jorge Quiroga, Carlos Mesa e Eduardo Rodríguez Veltzé.
Morales aproveitou a ocasião para anunciar que Vildoso, Paz Zamora e Quiroga entrariam na equipe para impulsionar a reivindicação marítima formada com Mesa, porta-voz do reclamo histórico, e com Rodríguez Veltzé, agente junto à Corte Internacional de Justiça de Haia. Ao final do encontro, Paz Zamora destacou em nome de todos que a Bolívia tem uma política de Estado consolidada e pode-se dizer que os ex-presidentes, neste tema, agem como uma equipe.
Antes do anúncio de Morales, Quiroga e Paz Zamora concederam, na quarta-feira, uma entrevista conjunta à Rádio Fides, na qual falaram sobre a importância das palavras de Francisco. Na opinião de Quiroga, as palavras do Pontífice dão um impulso ao reclamo da Bolívia, porque “a palavra mais influente do mundo” deu sua posição e “o Chile ficou desconcertado”. O ex-presidente Quiroga, crítico de Morales em vários temas de política, disse que os ex-presidentes, neste caso, não estão a serviço do Movimento ao Socialismo, mas do mar e de uma causa nacional.
Paz Zamora, por sua vez, esclareceu que é importante não martelar no nome do Papa, porque “não é que esteja a favor da Bolívia e contra o Chile. O Papa é pela justiça nos âmbitos pessoal, social e internacional”. Ainda não está claro que funções ou gestões desempenharão os três ex-chefes de Estado que entrarão na campanha pela causa marítima.
A Bolívia apresentou, há dois anos, à Corte Internacional de Justiça de Haia uma demanda em busca de uma sentença que obrigue o Chile a negociar de boa fé a restituição do acesso ao mar perdido em uma guerra no século XIX, conflito bélico que deixou o país andino em 1879 sem 120 mil quilômetros quadrados de território e 400 quilômetros de costa.
O Chile refutou a competência da Corte e negou o pedido boliviano argumentando que os limites ficaram estabelecidos em um tratado assinado em 1904. As equipes jurídicas de ambos os países compareceram, em maio, às audiências de alegações orais para trata a petição chilena e que o tribunal se declare incompetente no tema, assunto cuja resolução pode durar entre quatro e seis meses.
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A Bolívia pede a Deus um pedacinho de mar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU