09 Julho 2015
O Papa Francisco se referiu nessa quarta-feira, 8 de julho, à disputa aberta entre Bolívia e Chile pela reivindicação boliviana de uma saída ao mar. O pontífice animou os bolivianos a abordar "sem agressividade, rancor ou inimizade" os "temas espinhosos" com seus países vizinhos. Ele fez isso na Catedral de Nossa Senhora da Paz da capital boliviana, durante um encontro com autoridades civis, do qual participaram o presidente Evo Morales, políticos, personalidades do mundo da cultura, do voluntariado e diplomatas.
A reportagem é de Andrés Álvarez Beltramo, publicada no sítio Vatican Insider, 09-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Acrescentando de surpresa uma frase ao discurso preparado, ele falou de "evitar conflitos entre povos irmãos", de buscar "soluções compartilhadas" e acrescentou, improvisando: "E aqui me refiro à saída para o mar... essa é minha mensagem". De acordo com o líder católico, uma nação que busca o bem comum não pode se fechar em si mesma, porque as redes de relações ligam as sociedades, e o atual problema da imigração comprova isso.
"O desenvolvimento da diplomacia com os países ao redor, que evite os conflitos entre povos irmãos e contribua com o diálogo franco e aberto dos problemas, é hoje indispensável. É preciso construir pontes em vez de levantar muros. Todos os temas, por mais espinhosos que sejam, têm soluções compartilhadas, razoáveis, equitativas e duradouras. E, em todo o caso, nunca devem ser motivo de agressividade, rancor ou inimizade que agravam ainda mais a situação e tornar mais difícil a sua resolução", acrescentou.
Bergoglio fez um discurso incisivo e variado em seus temas. Indicou a unidade como um dos principais desafios do país sul-americano, cuja história foi obscurecida pela "sombra" da "exploração, da avareza e de múltiplos egoísmos e perspectivas sectárias". Constatou que, ao contrário, hoje a Bolívia pode criar "novas sínteses culturais" e está chamada a ser "essa multiforme harmonia que atrai" na integração e na sua busca da unidade.
"Que bonitos são os países que superam a desconfiança doentia e integram os diferentes, e que fazem dessa integração de um novo fator de desenvolvimento! Que lindos são quando estão cheios de espaços que conectam, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!", exclamou.
Ele se mostrou preocupado porque a família está ameaçada "em todas as partes" pela violência doméstica, pelo alcoolismo, pelo machismo, pelas drogas, pela falta de trabalho, pela insegurança civil, pelo abandono dos idosos e das crianças de rua, defendendo que a instituição familiar resolve em silêncio muitos problemas sociais, e advertiu que não promovê-la é deixar desamparados os mais vulneráveis.
Ele também falou sobre a raiz da degradação social e da natureza. Constatou que os seres humanos se acostumam muito facilmente ao ambiente de desigualdade que os rodeia, tornam-se insensíveis às suas manifestações e assim confundem, sem se dar conta, o "bem comum" com o "bem-estar", especialmente quando são eles que o desfrutam.
Mas aí desmascarou o erro, argumentando que o bem-estar se refere só à abundância material e, no fim, tende a ser egoísta, a defender os interesses de parte, a não pensar nos demais e a se deixar levar pela tentação do consumismo. Ele alertou que, assim entendido, o bem-estar, em vez de ajudar, incuba possíveis conflitos e desagregação social; instalado como a perspectiva dominante, gera o mal da corrupção que tanto desencoraja quanto faz mal.
Para o bispo de Roma, o bem comum, ao invés, é algo mais do que a soma de interesses individuais, mas é um passar do que é "melhor para mim" para o que é "melhor para todos", e inclui tudo o que dá coesão a um povo: metas comuns, valores compartilhados, ideais que ajudam a levantar o olhar, para além dos horizontes particulares.
Mais adiante, afirmou que, se a política se deixa dominar pela especulação financeira, ou a economia se rege exclusivamente pelo "paradigma tecnocrático e utilitarista da máxima produção", não se poderá nem mesmo compreender, muito menos resolver, os grandes problemas que afetam a humanidade.
Segundo Bergoglio, para o desenvolvimento harmônico da sociedade, também é necessária a cultura, da qual faz parte não só a capacidade intelectual do ser humano nas ciências e a capacidade de gerar beleza nas artes, mas também as tradições populares locais, com a sua sensibilidade particular para o meio de onde surgiram e ao qual dão significado. Por isso, considerou como urgente estabelecer uma educação ética e moral, que cultive atitudes de solidariedade e de corresponsabilidade entre as pessoas.
"O ambiente natural e o ambiente social, político e econômico estão intimamente relacionados. Urge-nos lançar as bases de uma ecologia integral, que incorpore claramente todas as dimensões humanas na resolução das graves questões socioambientais dos nossos dias. Senão, as geleiras desses montes continuarão retrocedendo... e a lógica da recepção, a consciência do mundo que queremos deixar aos que nos sucedam, a sua orientação geral, o seu sentido, os seus valores também se derreterão como esses gelos", sentenciou.
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Papa defende saída ao mar para a Bolívia e exorta ao diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU