Por: Jonas | 13 Abril 2015
Um pouco antes de celebrar suas bodas de prata como sacerdote, no dia 4 de abril de 1967, Óscar Romero recebeu o título que o marcaria com muita particularidade: monsenhor. Uma foto da época apresenta uma festa naqueles dias, na qual Romero é homenageado por pessoas da sociedade de San Miguel, e uma jovenzinha lhe entrega um cordeirinho – o tradicional símbolo do bom pastor. Por sorte, Super Martyrio encontrou a jovenzinha que fez a entrega da ovelhinha, lançando luz sobre o contexto.
Fonte:http://goo.gl/pMLKUW |
A reportagem é publicada por Super Martyrio, 08-04-2015. A tradução é do Cepat.
Sonia Sosa vive agora em Pasadena, Califórnia, e nunca mais voltou a ver Romero após aquele momento no qual o sacerdote foi galardoado no ex-Cine Gavidia de San Miguel. Pior ainda, Sosa sequer havia voltado a ver a foto da cerimônia até que sua filha conseguiu encontrá-la recentemente neste blog. Sosa relata uma história que infelizmente foi muito comum em El Salvador durante a guerra civil que seguiu o trágico assassinato de Romero: os familiares de Sosa, em El Salvador, desfizeram-se de quantidades de fotos íntimas de Romero (“álbuns inteiros”, afirma ela) por medo de despertar suspeitas e a perseguição do exército.
Todo o que está presente naquela foto parece estar envolvido por um tom de melancolia. Aquele momento na vida de Romero significou efetivamente sua saída de San Miguel, após muitos anos trabalhando em sua terra natal. Seus amigos e seguidores suplicaram e assinaram petições para que ficasse, mas foi em vão. Alguns meses depois seria nomeado secretário da Conferência Episcopal, o que exigiu que Romero se mudasse permanentemente para San Salvador.
Romero possuía uma amizade com a avó de Sonia, a senhora Emérita de Sosa. Sua família tinha uma sorveteria a meia quadra do seminário, e Romero chegava a comer na casa da família.
Quando Sosa fala daquele ambiente, é evidente que se tratava de uma época que agora está perdida no tempo. Sosa recorda que o padre Romero tinha sob sua responsabilidade a Igreja Santo Domingo, no Bairro de La Cruz do mesmo local. Romero ensinou o catecismo às crianças do lugar, incluindo Sosa. De fato, a ela administrou sua Primeira Comunhão, na Catedral de San Miguel.
Eram tempos de fervor. Sonia recorda que com sua avozinha rezava o Santo Rosário todas as noites, e ela e suas irmãs se vestiam de branco todo o mês de maio em honra à Virgem. O padre Romero tinha sua moradia atrás do altar da Igreja Santo Domingo. Sonia o recorda como “uma pessoa tão simples”, a quem jamais esperaria ver com um final tão diferente da vida ordinária e prazerosa de então.
Este também foi o momento em que o padre Romero se tornou “Monsenhor Romero”, recebendo esta honraria eclesial após completar 25 anos de sacerdócio. O título chegaria a se transformar quase em um nome próprio durante seu ministério como arcebispo de San Salvador. De fato, muitos salvadorenhos continuam se referindo ao desaparecido pastor simplesmente como “Monsenhor”. Parte dessa idiossincrasia se explica pelo fato de que o título ganhou uma importância maior na América Latina do que em outras partes do mundo, como Europa e América do Norte, porque historicamente não existiram muitos cardeais latino-americanos, e monsenhor chega a ser a máxima categoria alcançada pelos prelados (de fato, até a data nunca houve um cardeal salvadorenho). Por outra parte, ao se referir a Romero simplesmente como “Monsenhor”, os salvadorenhos expressam uma intimidade, familiaridade e carinho, assim como quando se chama somente de “Capitão” uma pessoa dessa categoria.
A ideia de entregar o cordeirinho monsenhor Romero foi da avó de Sonia Sosa, a senhora Emérita Sosa. Sonia recorda a agitação do animalzinho quando o segurava esperando o momento de fazer a entrega, e seu próprio nervosismo com medo de que o cordeiro iria escapar. Também recorda a reação do padre Romero atrás da cortina, alguns instantes antes do momento da apresentação, quando conseguiu ver Sonia, de uns nove anos, e o cordeiro, percebendo o que estava a ponto de acontecer. “Eram risos e risos” de Romero ao vê-la ficando vermelha de nervosismo. “Não parava de rir”. Ainda na foto, Romero parece continuar rindo, ficando a alegria desse momento guardada para sempre.
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De Romero a “Monsenhor” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU