18 Março 2015
Os dois homens bomba carregados de explosivos tentam entrar nas duas basílicas, distantes algumas centenas de metros uma da outra. Porém são parados por voluntários armados que fazem escala para garantir a segurança da comunidade cristã.
A reportagem é de Lorenzo Cremonesi, publicada no jornal Corriere della Sera, 16-03-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Aproximadamente dois mil fiéis se encontravam nas igrejas para assistir a missa matinal do domingo. Visto que não iriam conseguir prosseguir, os dois terroristas saltam para poder ingressar. As explosões são eficientes e muito próximas. No chão uma quinzena de mortos. Dezenas de feridos, fala-se em oitenta. Muitas crianças, mulheres e idosos. Pelo menos 30 correm risco de morte. As imagens, feitas com celular logo após o ataque, mostram sapatos ensanguentados, bolsas, roupas, pedaços de corpos, destroços.
Algumas testemunhas explicam que no momento do ataque um número impreciso de homens armados abriu fogo contra a multidão aterrorizada. Dois deles foram imediatamente imobilizados, desarmados, espancados, de fato linchados, e os seus cadáveres jogados às chamas. Nesse meio tempo milhares de cristãos enfurecidos descem para a praça, fazem manifestações improvisadas, atacam algumas estações de ônibus, culpam tanto o governo quanto a polícia por não os defenderem. Outros cristãos protestam com violência em Karachi, Rawalpindi, Islamabad. O pedido é um só: “Queremos proteção, queremos segurança. Porque o governo não nos protege contra os terroristas?”.
Acontecia ontem pela manhã em Lahore, cidade no coração do Punjab, a região central do Paquistão onde a presença cristã está mais arraigada. As duas basílicas atingidas são: a de São João e a Igreja de Cristo, que se encontram no bairro de Youhanabad, onde vivem pelo menos cem mil cristãos (uma das comunidades mais numerosas do interior do País). “Se os terroristas conseguissem entrar, o número de vítimas seria muito maior”, dizem os responsáveis pelas duas comunidades. Pouco depois, o grupo ‘Jamaat ul Ahrar’, uma facção do Talibã, assume a responsabilidade da operação.
Duras condenações contra o atentado chegam também do governo de Islamabad. “Isso é um ataque contra todo o Paquistão. Pegaremos os terroristas responsáveis”, declara o Premiê Nawaz Sharif, que, porém, é duramente criticado pela maioria dos cristãos que o acusam de fazer muito pouco, ou nada, contra os ataques dos extremistas islâmicos e da violência do Talibã. O Papa Francisco também se faz ouvir.
Ontem, durante a homilia dominical na praça São Pedro condenou com dureza a perseguição de cristãos, “somente pelo fato que são cristãos”. Às vítimas das bombas “e às suas famílias”, o Papa quis direcionar suas orações, somadas ao seu apelo “a Deus para que leve novamente a concórdia” ao Paquistão, onde porém – diz ainda o Pontífice – “o mundo procura esconder as perseguições contra os cristãos”.
Palavras que encontram em Lahore e no resto do país uma comunidade assustada, cansada, de uma longa história de violência e injustiças. Os atentados contra as comunidades cristãs (representam menos de 3% do total de 180 milhões de paquistaneses, de grande maioria muçulmana) cresceram depois da crise consequente do 11 de setembro de 2001. Desde então foram intensificadas também as polêmicas contra as ditas “leis sobre a blasfêmia”, segundo as quais qualquer muçulmano pode condenar a morte um “incrédulo” que ao seu ver tenha ofendido o Islã.
Os ataques armados são periódicos. A intensificação das atividades Talibãs não prevê nada de bom. Em setembro de 2013 foram 127 cristãos mortos nos atentados contra as igrejas de Peshawar. No mesmo ano, centenas de casas cristãs em Lahore foram incendiadas.
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Paquistão. Dois homens bomba durante a missa, a multidão lincha os agressores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU