06 Março 2015
"Não precisamos de empresários religiosos, mas de testemunhas e de testemunhos": a afirmação é do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal Alemã, em uma entrevista à revista dos jesuítas franceses Etudes, na qual ele aborda, dentre outras coisas, os temas da família à luz do Sínodo, das relações entre Igreja e sociedade, e da possibilidade de um "renascimento" (e não "restauração") da fé no mundo contemporâneo.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada no sítio Vatican Insider, 04-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Um passo importante para ir ao encontro das pessoas é o passo da evangelização de si mesmos", afirma Marx, que também é presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece), membro do conselho dos cardeais que auxiliam o papa na reforma da Cúria Romana e presidente do Conselho para a Economia do Vaticano.
"Nós mesmos, como Igreja, sempre devemos novamente ler e aprender o Evangelho e depois vivê-lo." Por isso, "não precisamos de empresários religiosos, mas de testemunhas e testemunhos", afirma o purpurado alemão que, sobre o termo "nova evangelização", admite que se trata de um "conceito" que lhe cria um certo "problema": "Poderia ser confundido com o modelo de uma reconquista espiritual, como se se tratasse de uma recuperação de terreno. Mas não se trata de restaurar ou de repetir o que existia uma vez, mas de um novo início, de uma nova abordagem, de uma nova situação. E também não se trata de um simples problema de comunicação. Isso significaria que, se tivéssemos mais pessoas e mais recursos financeiros e mais presença nos meios de comunicação, poderíamos alcançar o objetivo. Ao contrário, posso bem aceitar o conceito se se salientar que nós, não só na Europa, mas em geral, estamos em nova uma situação para a fé e devemos responder com um pensamento renovado. Na realidade, é o processo de toda a história da Igreja. O Evangelho é sempre novo, Ecclesia semper iuvenescens, a Igreja é sempre jovem de novo, já o diziam os padres da Igreja. Lembro-me de uma frase do cardeal Lustiger: 'A Igreja na Europa está no início, o tempo longo está à sua frente'. Em muitas discussões sobre a nova evangelização, eu tenho a impressão de que muitos pensam que a maior parte da história do cristianismo está às nossas costas e que diante de nós há um futuro incerto e angustiante. Assim, não se pode evangelizar".
Marx se diz convencido de que "a Igreja, a partir do Evangelho, pode levar um enriquecimento para todos os âmbitos do pensamento e do agir humano, pode levar desenvolvimentos, perguntas, pensamento. Os intelectuais, os políticos, os filósofos, os artistas estão abertos a um diálogo e a um debate. Eu sempre experimento isso. Mas, nas nossas palavras, nas nossas ações, até mesmo nas nossas liturgias, nos nossos posicionamentos públicos, na pastoral local concreta, a qualidade do nosso trabalho deve ser visível. Nesse contexto, muitas vezes eu penso no conceito de 'renascimento'. Sim, acredito em um renascimento da fé cristã, mas será um longo caminho de renovação espiritual profunda".
O cardeal alemão, que em janeiro havia concedido uma longa entrevista para a revista norte-americana dos jesuítas, America, aborda com a Etudes muitos assuntos, incluindo o ecumenismo e a Europa, e responde a várias questões sobre a família e o caminho sinodal em andamento.
"Havia, naturalmente, muitas expectativas e, por outro lado, também muitos medos. Tudo isso também se mostrou durante as discussões na Aula e nos grupos de trabalho" no Sínodo Extraordinário de outubro passado.
"O Santo Padre, no seu discurso conclusivo, deixou claro mais uma vez o quanto ele apreciava e desejava uma discussão aberta. Esse é um grande passo. Porque, especialmente no âmbito da família e do matrimônio, decidem-se as perspectivas futuras da Igreja. É muito cedo, portanto, para fazer uma avaliação."
No entanto, o papa "garante a unidade com a tradição e a unidade entre nós": "Justamente por isso, é necessário que seja aberta a batalha espiritual entre nós sobre o futuro da Igreja nessas questões existenciais que dizem respeito a todos homens e a todos os fiéis".
Naturalmente, "é preciso ter cuidado para que não seja um processo político e tático. Não sei se evitamos isso. É necessária uma abertura fundamental e uma confiança recíproca para encontrar juntos o caminho a percorrer".
"Mesmo no magistério a Igreja se desenvolve, sem renunciar às próprias posições, mas, ao longo de toda a história da Igreja, o dogma foi mais desdobrado e aprofundado. Isso também diz respeito ao matrimônio e à família. Não há um ponto de chegada da busca da verdade."
A "sociedade aberta", desse ponto de vista, "é um progresso também para a Igreja. A questão, portanto, não é se a maioria compartilha todas as nossas ideias, mas se, com o nosso estilo de vida e o nosso pensamento, também para uma sociedade pluralista, temos algo a dizer e conseguimos convencer muitos a seguirem o caminho do Evangelho na comunidade visível que é a Igreja".
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''Não precisamos de empresários religiosos, mas de testemunhas'', afirma cardeal Marx - Instituto Humanitas Unisinos - IHU