Grécia. Papa Francisco desafia Merkel: "Pensem nos pobres e não só nas finanças"

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23 Fevereiro 2015

O que fazia no sábado de manhã Angela Merkel entre São Pedro e as ruelas de Trastevere?

“Audiência e visita privada”, explica o severo protocolo da Chancelaria de Berlim. No entanto, o staff que acompanhava a premiê alemão à Roma do Papa (antes) e a Santo’Egidio (depois) era encorpado: dezesseis pessoas, entre as quais o porta-voz, os conselheiros para os assuntos externos, a Europa, os assuntos religiosos. Também os temas na ordem do dia dos colóquios com o Pontífice e o fundador da “diplomacia paralela” do Vaticano, Andrea Riccardi, eram bem outra coisa do que “privados”: a Ucrânia, a Grécia, a luta à pobreza, a imigração, o G7 de junho, previsto a ser realizado na Baviera.

A reportagem é de Alessandro Barbera e Giacomo Galeazzi, publicada pelo jornal La Stampa, 22-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.

“Economia que mata”

A visita-relâmpago da Chancelaria na cidade eterna inicia sexta-feira à tarde na sede da Embaixada alemã junto à Santa Sé e com um giro aos Museus vaticanos. Ontem de manhã a audiência na Cúria, com Francisco e o secretário de Estado Pietro Parolin. Em 2001, quando era arcebispo de Buenos Aires, diante do prédio do Fundo Monetário Internacional, o Papa se fez porta-voz da Argentina in default.

Hoje, na difícil tratativa entre Atenas e a Europa, Bergoglio reafirma o mesmo conceito: nenhuma necessidade de rigor financeiro legitima o sofrimento dos mais débeis.

“Se a economia não é para o homem, é preciso ter a coragem de modificá-la”, explica o cardeal Oscar Maradiaga, presidente da Caritas internacional. O que está em discussão é o modo de agir da Troika. Diz ainda Maradiaga: “Falam de austeridade, mas a austeridade é uma virtude cristã, aquelas que solicitam são medidas duríssimas que fazem sofrer, sobretudo os mais pobres”. Daqui decorre a admoestação de Francisco: “Esta é uma economia que mata. A origem da crise econômica é a cobiça”.

E a exigência de um antídoto ao “sistema baseado no super poder das finanças: a desigualdade antes ou depois gera violência”. Francisco dá à chancelaria uma medalha de São Martinho que dá o martelo ao pobre.

“O trabalho dos governantes é proteger os pobres”, adverte o Papa.

“Procuramos fazer o nosso melhor”, diz Merkel, que como líder da nação-guia da Europa não pode esquecer, antes do que as necessidades do povo grego, aquelas que na Alemanha consideram ser as verdadeiras causas do seu sofrimento: os erros da política helênica.

“A paz não é evidente”

O que interessa à Merkel em sua visita romana é, porém, outra coisa: a crise ucraniana, um tema sobre o qual a Santa Sé se move com grande cautela para evitar transformar um problema político numa questão interreligiosa.

“Somos grandes amigos da Rússia, mas a integridade territorial da Ucrânia é um tema igualmente importante”, explica Riccardi. Merkel é “extremamente preocupada” com aquilo que está acontecendo por lá, explica uma fonte diplomática italiana.

Ontem o “Wall Street Journal” definia Putin como um líder “imprevisível” além de “não-confiável” e, por conseguinte perigoso. As palavras a portas fechadas de Merkel diante dos convidados da Comunidade Santo Egidio são eloqüentes: “Faremos de tudo para encontrar uma solução diplomática ao conflito ucraniano. Deste exemplo nos damos conta que nem sempre é fácil explicar às nossas sociedades que a paz e a liberdade não são evidentes. A Europa se habituou a considerar tranquila a paz, e ao invés precisa sempre aprender a realizá-la de novo”. É preciso “empenhar-se em sua difusão, como faz a Comunidade Santo Egidio, levando seu testemunho ao mundo, não só falando de paz, mas vivendo-a”.

Os sonâmbulos de Christopher Clark, aqueles que destruíram a Europa na Primeira guerra mundial, estão sempre no pensamento de Merkel. A mensagem aos colegas europeus é clara: despertem!.