Por: André | 18 Fevereiro 2015
Vítimas de abusos sexuais de religiosos nas Américas se uniram, na segunda-feira 16, para exigir que o Papa Francisco tome ações efetivas e submeta à Justiça civil os responsáveis e acobertadores desses crimes, considerando que não bastam suas “boas palavras”.
Fonte: http://bit.ly/1DBPRxE |
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 17-02-2015. A tradução é de André Langer.
“Exigimos ao Papa que, pelo menos, cumpra o que está dizendo, porque para dar manchetes somos todos bons. Já chega de manchetes!”, manifestou em coletiva de imprensa na Cidade do México o chileno Juan Carlos Cruz (na foto, ao centro), vítima de pederastia, confessando-se “profundamente traído” pelo Pontífice argentino.
Unidos em uma incipiente rede que reúne vítimas da Argentina, Chile, Estados Unidos, México, República Dominicana e Peru, os prejudicados enviaram uma carta conjunta a Francisco na qual reforçaram que “não bastam as palavras” nem os gestos “ambíguos e contraditórios” que acreditam ter expressado publicamente já que “não produzem processos institucionais para a verdade e a justiça”.
Somente reformando estruturalmente a instituição e submetendo às leis civis os clérigos “começará o final desse grande holocausto de milhares de meninas e meninos sacrificados para evitar o escândalo e salvaguardar a imagem e o prestígio dos representantes da Igreja católica no mundo”, destaca a carta.
A carta foi lida na coletiva de imprensa por José Barba (na foto, à esquerda), uma das vítimas de abusos sexuais do mexicano Marcial Maciel, o falecido fundador da congregação Legionários de Cristo.
Desde a sua eleição em março de 2013, o Papa Francisco defendeu a “tolerância zero” contra os padres abusadores, pediu perdão às vítimas e comprometeu-se a lutar contra a pederastia.
O Pontífice criou uma comissão para a proteção da infância da qual fazem parte duas vítimas e intercedeu pessoalmente em casos como o de 10 padres acusados de pederastia na Espanha, que, nesta segunda-feira, se ficou sabendo que poderiam escapar da Justiça devido à prescrição dos fatos.
Na coletiva de imprensa, algumas das vítimas questionaram o compromisso de Francisco na luta contra a pederastia de eclesiásticos.
Nos seus tempos de cardeal (foi nomeado em 2001) Jorge Mario Bergoglio “nunca recebeu ninguém” apesar da insistência das vítimas para reunir-se com ele, denunciou a argentina Julieta Añazco, que foi abusada por um padre em um acampamento de verão organizado pela Igreja nos anos 1980.
“Os companheiros estão todos muitos tristes e desesperançados (...) pedimos que se faça algo efetivo, queremos que os afastem (os padres abusadores) e que sejam julgados penalmente”, disse Añazco.
Entre 2011 e 2012, sob o mandato de Bento XVI, o Vaticano decidiu suspender “sigilosamente” 400 padres por abuso de menores, que foram submetidos a processos judiciais na Santa Sé sem o testemunho nem o conhecimento das vítimas e de seus advogados, denunciou a rede de vítimas.
“O Papa poderia parar esta situação, mas recusa-se a tomar atitudes a respeito” e seguir as recomendações recentemente emitidas pela ONU, disse em videoconferência dos Estados Unidos a presidenta da Rede de Sobreviventes de Abusos Sexuais por Sacerdotes (SNAP), Barbara Blaine.
Em fevereiro de 2014, a ONU fez uma inesperada acusação contra o Vaticano por violar a Convenção dos Direitos da Criança no que diz respeito a abusos sexuais, um informe fortemente rechaçado pela milenar instituição.
As denúncias de milhares de abusos sexuais de menores, cometidos durante décadas por padres, é o mais complexo e delicado tema para a hierarquia da Igreja católica, acusada de ter acobertado padres pedófilos.
Muitas vítimas de abusos evitam denunciar seus casos por vergonha ou temor de uma condenação da sociedade, e outros tantos se suicidam ou caem em problemas psicológicos ou de alcoolismo, disse Blaine.
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Vítimas de clérigos pederastas das Américas exigem medidas concretas do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU