01 Dezembro 2014
O momento mais novo e original do encontro com o patriarca ecumênico de Constantinopla não foi, por certo, a inclinação do Papa Francisco ante Bartolomeu, com a solicitação de rezar por ele.
O comentário é de Sandro Magister, jornalista, publicado no seu blog Settimo Cielo, 30-11-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Para Jorge Maria Bergoglio isto é um gesto usual. Ele o faz com todos. Ele o fez mais de uma vez com as multidões, desde sua primeira aparição como Papa na Praça São Pedro. Também o fez em junho passado no estádio olímpico de Roma repleto de milhares de católicos e protestantes. Fê-lo em 2006 no Luna Park de Buenos Aires pondo-se de joelhos no palco para receber a bênção de um líder protestante pentecostal.
Antes, o momento saliente do encontro entre Pedro e André, com simbolicamente os dois gostam de chamar-se um ao outro, foi a troca das promessas de unidade entre as Igrejas, no termo da “divina liturgia” celebrada na igreja de San Giogio al Phanar no dia da festa de Santo André apóstolo.
O patriarca Bartolomeu reconheceu ao chefe da Igreja Católica de Roma o mérito de fazer esperar “que a aproximação das nossas duas grandes e antigas Igrejas continuará a edificar-se sobre os sólidos fundamentos da nossa comum tradição, a qual desde sempre respeitava e reconhecia no corpo da Igreja um primado de amor, de honra e de serviço, no quadro da sinodalidade, afim de que com uma só boca e um só coração se confesse o Deus Trino e se difunda o seu amor no mundo”.
Bartolomeu, referindo-se ao campo ortodoxo, acrescentou que “a divina providência através da ordem constituída pelos santos concílios ecumênicos, assinalou a responsabilidade da coordenação e da expressão da homofonia das santíssimas Igrejas ortodoxas locais “precisamente ao patriarca ecumênico de Constantinopla, isto é, a ele mesmo. E com esta função disse preparar o “santo e grande Sínodo da Igreja ortodoxa” que se realizará finalmente em 2016 após meio século de tentativas: Sínodo pan-ortodoxo ao qual auspicia ver presentes observadores católicos.
De sua parte, o Papa Francisco se referiu ao decreto do Concílio Vaticano II sobre a busca da unidade dos cristãos, promulgado exatamente há meio século. “Com aquele decreto – sublinhou – a Igreja católica reconhece que as Igrejas ortodoxas têm verdadeiros sacramentos e, sobretudo, em força da sucessão apostólica, o sacerdócio e a eucaristia, por meio dos quais ainda permanecem unidas de conosco por estreitíssimos vínculos”.
O restabelecimento da plena comunhão, portanto, “não significa nem submissão um ao outro, nem absorção, mas antes acolhida de todos os dons que Deus deu a cada um“.
“Quero assegurar que, para alcançar a meta suspirada da plena unidade, a Igreja católica não pretende impor nenhuma exigência, a não ser aquela da profissão da fé comum, e que estamos prontos a procurar juntos, à luz do ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milênio, as modalidades com as quais garantir a necessária unidade da Igreja nas atuais circunstâncias”.
Da leitura conjunta dos discursos de Francisco e Bartolomeu, o blog ultrabergogliano Vatican Insider deduziu imediatamente que “para o atual sucessor de Pedro a retomada da plena comunhão entre cristãos católicos e ortodoxos seria possível já agora, sem impor aos irmãos ortodoxos pré-condições de caráter teológico ou jurisdicional”.
Mas, a realidade é bem outra. O caminho para a unidade entre católicos e ortodoxos continua sendo impérvio e tem no primado do sucessor de Pedro o seu maior problema irresoluto.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa e o Patriarca. Uma inclinação não basta para fazer unidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU