16 Outubro 2014
O cardeal Napier fala sobre “interpretações erradas”, opiniões preconceituosas e sobre a mídia que se centra em pontos equivocados. Filoni diz que o texto foi bem recebido, mas que precisa de uma melhor contextualização.
A reportagem foi publicada pelo jornal La Stampa, 14-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Esclarecimento”, “elaboração”, “elucidação”. O Sínodo Extraordinário sobre a família, reunido no Vaticano de 5 a 19 de outubro, começou a alterar a “Relatio ante disceptationem”, documento-síntese apresentado ontem pelo cardeal Péter Erdő. As passagens do texto sobre as “escolhas pastorais corajosas” feitas em relação aos divorciados recasados, os “elementos positivos” a serem encontrados em casamentos civis e os “dons e qualidades” dos gays rapidamente atraíram a atenção da mídia internacional. O documento também estimulou as discussões grupais nos “circuli minores” dos bispos divididos por idiomas: entre os cardeais houve tanto apreciação pelo relatório prévio fornecido pelo cardeal húngaro quanto uma série de objeções. No próximo sábado, os padres sinodais vão votar sobre o documento final, o “relatio synodi”. O texto será, então, entregue ao papa em vista do Sínodo Ordinário, a acontecer no próximo ano.
A Secretaria Geral do Sínodo, “após as respostas e debates” levantados pela publicação da “Relatio post disceptationem” e pelo fato de que “a sua natureza tem sido frequentemente mal compreendida”, pontua que o “Relatório após Discussão”, em tradução literal, é um “documento de trabalho que resume as falas e debates ocorridos durante a primeira semana do Sínodo e que, agora, é submetido aos participantes para discussão nos “circoli minori” (pequenos grupos de trabalho), tal como estabelecido no “Ordo Synodi”, disse o Pe. Federico Lombardi (porta-voz do Vaticano) no começo da coletiva de imprensa. O trabalho dos “circoli minori” será apresentado à assembleia na quinta-feira (dia 16) e uma “síntese” das falas será publicada.
Um resumo das discussões da manhã de ontem foi publicado hoje (terça-feira) pela Sala de Imprensa da Santa Sé e ilustrou as diferentes reações ao documento. Segundo o relato, foi “muito apreciada, em geral, a capacidade revelada em ‘fotografar’ bem as intervenções havidas ao longo da primeira semana na assembleia sinodal”. Algumas reflexões adicionais foram incluídas também. Os pontos trazidos incluíram a necessidade de se evitar “focalizar-se sobre as situações familiares imperfeitas”, falar-se mais sobre o “pecado”, esclarecer e explorar mais profundamente o tema da “gradualidade”, que pode estar na base de uma série de confusões, envolver-se numa “reflexão mais aprofundada e articulada (...) em relação aos casos de poligamia (...) e à difusão da pornografia”, bem como sobre o “aborto” e a maternidade substitutiva.
Dois dos moderadores sinodais falaram na coletiva de imprensa de hoje: o sul-africano Wilfrid Fox Napier e o italiano Fernando Filoni. A coletiva ilustrou ainda mais a natureza franca e colegial dos debates sinodais. “Alguns de dentro do círculo se surpreenderam com as reações da mídia; alguns pareceram perplexos, como se o papa tivesse tido isso, como se o Sínodo tivesse decidido aquilo...”, disse o prefeito da Propaganda Fide, sublinhando a “riqueza extraordinária do debate”.
O cardeal Napier foi mais crítico. Ele falou sobre a “insatisfação” entre os participantes do Sínodo e disse que o texto fora “mal interpretado”, em parte por causa da mídia, mas também porque muitas das expectativas das pessoas eram, talvez, um tanto irreais. Grande parte do conteúdo do “Relatio post disceptationem” não é muito útil para esclarecer o ensino, ou doutrina, da Igreja, ressaltou Napier. O religioso disse suspeitar que os que lideram o Sínodo não estejam comprometidos em manifestar as opiniões de todo o Sínodo, mas somente as opiniões pertencentes de um grupo específico. O documento final deverá incluir um “esclarecimento”. Filoni, por outro lado, disse não poder dar a porcentagem exata dos padres sinodais que expressaram preocupação sobre o texto. Sublinhou que este foi, em geral, apreciado e que a reação à sua abordagem foi essencialmente positiva, porém precisando ser melhorada em termos de contextualização.
Quanto à homossexualidade, Napier disse que a sua preocupação é que o documento final não vá corresponder com a abordagem que a mídia vai dar a ele, e que qualquer coisa dita no futuro vai simplesmente parecer como um “controle de danos”.
Quanto às críticas levantadas pelo cardeal americano Leo Burke em entrevista ao jornal italiano Il Foglio, Napier disse ter ouvido falar sobre o caso, mas que não estava em condições de dizer qual a direção que o Sínodo estava tomando, porque as discussões não terminaram ainda.
O cardeal sul-africano manifestou surpresa com a decisão de publicar o “Relatio post disceptationem”, enquanto Filoni disse que alguns nos “circuli minores” se perguntavam se ele havia sido publicado por engano. O porta-voz do Vaticano explicou, no entanto, que o Relatio “é sempre apresentado no mesmo minuto em que estiver pronto”, e que assim tem sido em todos os Sínodos. O que provavelmente causou alvoroço foi a “natureza da questão, que atraiu uma grande atenção e levantou muitas expectativas”.
O Pe. Lombardi anunciou que o Rino Fisichella e o presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, Dom Joseph Kurtz, estarão participando na coletiva de imprensa desta quarta-feira. O arcebispo de Viena, cardeal Christoph Schönborn, e o arcebispo de Munique, cardeal Reinhard Marx, irão falar nas coletivas de quinta-feira e sexta-feira, respectivamente.
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A “Relatio” causa alarido no Sínodo: trata-se de um texto preparatório - Instituto Humanitas Unisinos - IHU