08 Outubro 2014
Os primeiros dias de discussões no encontro global de bispos católicos concentraram-se, em parte, em como modificar a "linguagem dura" usada pela Igreja para discutir a vida familiar e em reconhecer que as pessoas crescem na fé lentamente, de acordo com observadores da reunião no Vaticano.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 07-10-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Um tema que parece ter sido incluído nos 70 discursos feitos por prelados nos últimos dois dias é a forma como os prelados rotulam as pessoas com palavras que "não são necessariamente palavras que convidam as pessoas a se aproximar da Igreja".
Na terça-feira, respondendo a repórteres sobre o evento, conhecido como Sínodo dos bispos, o padre basiliano Thomas Rosica disse que um ou mais membros sinodais se referiram especificamente a três termos comumente usados pela Igreja:
• "viver em pecado": uma referência aos casais que vivem juntos antes do casamento;
• "intrinsecamente desordenados": uma referência aos gays; e
• "mentalidade contraceptiva": a referência feita por alguns prelados para se referir a uma sociedade que não respeita a vida.
"Rotular as pessoas ... não ajuda em trazer as pessoas a Cristo", disse Rosica, resumindo o que disse o membro do Sínodo. "Houve um grande desejo de que a nossa língua precisa mudar, a fim de atender às mais difíceis situações".
Ao contrário dos sínodos anteriores, o Vaticano não está liberando os textos ou resumos das conversas dos cerca de 190 prelados, mas em vez disso fornece briefings diários com três porta-vozes que estão participando do Sínodo e resumindo os eventos: o porta-voz oficial do Vaticano, o padre jesuíta Federico Lombardi, em italiano; o padre Manuel Dorantes, da Arquidiocese de Chicago, em espanhol; e Rosica, em inglês.
Juntando-se aos porta-vozes na terça-feira também estavam dois membros do Sínodo: o cardeal inglês Vincent Nichols e o cardeal Bechara Boutros al-Rahi, Patriarca Maronita de Antioquia.
Nichols disse que um tema recorrente até agora é a noção teológica da "gradualidade", significando que os católicos podem, por vezes, crescer em direção à adesão ou compreensão da doutrina da Igreja ao longo de suas vidas.
"É uma lei da teologia moral pastoral que permite e incentiva as pessoas, todos nós, a dar um passo de cada vez na nossa busca pela santidade em nossas vidas", disse Nichols.
"Há um caminho pelo qual todos nós andamos, e acho que algumas das bases para o desenvolvimento dessa noção já foram mencionadas nos primeiros dias" do Sínodo, disse ele.
Ao mesmo tempo, Nichols disse que os católicos que buscam mudanças concretas vindas do Sínodo precisam esperar a reunião ter prosseguimento em primeiro lugar.
"Há muitas ideias que estão sendo apresentadas - uma série de preocupações - e eu acho que temos que ter paciência e deixar esse processo amadurecer", disse ele.
Referindo-se ao discurso de Francisco para o grupo na segunda de manhã, no qual o pontífice pediu aos prelados para "falar com ousadia e ouvir com humildade", Nichols disse que o papa "está dizendo para nós sermos pacientes, deixar a imagem emergir gradualmente".
"E eu acho que vocês têm que agir da mesma forma", disse o cardeal, referindo-se às perguntas da imprensa sobre o que pode resultar do sínodo.
Ao dar uma visão geral das falas sinodais até agora, Lombardi disse que 70 membros sinodais tinham falado nas sessões realizadas até terça-feira de manhã.
Lombardi, Rosica e Dorantes, cada um em particular, deu uma lista separada de temas que observaram durante as discussões. Rosica apresentou 11 temas distintos - incluindo o processo do próprio Sínodo, a noção de "gradualidade", a "virtude da esperança", "programas criativos" para a prática pastoral e como a teologia do casamento está relacionada à teologia trinitária.
Mas, contradizendo relatos de que o Sínodo pode resultar em mudanças de certas doutrinas da Igreja, Rosica disse: "Não houve qualquer linguagem de uma necessidade de mudar a doutrina, mas para redirecionar o que sabemos de uma forma que seja acessível" a todos.
"Eu não ouvi nada sobre mudança de doutrina, mas ouvi um grande desejo de aprofundar nossa compreensão da doutrina", disse ele mais tarde.
Os bispos estão abrindo cada reunião, desde segunda-feira à tarde até quinta-feira à noite, com o anúncio do tema para cada sessão, seguido de um depoimento de um casal sobre o tema.
Respondendo a uma pergunta do NCR sobre o testemunho de segunda-feira à tarde - onde um casal australiano falou francamente sobre suas vidas sexuais e disse que era "extremamente difícil apreciar a beleza" dos ensinamentos da Igreja que proíbem a contracepção - Nichols disse que a vida sexual dos casais "não era o que nós, bispos, falamos em geral".
"Ouvir sobre isso na contribuição de abertura, penso eu, abriu uma área vivida por outras pessoas, e foi um reconhecimento de que isso é essencial para o bem-estar de um casamento", disse ele. "E é um ponto central na qual a experiência do amor e a experiência de Deus pode ser experimentada e compartilhada. Então, fez a diferença".
"Como é que respondemos? Muito calorosamente, com aplausos", disse ele.
Nichols também disse que as discussões na sala do Sínodo, até agora, tinham um "espírito muito lindo".
"Há uma leveza no ambiente, que eu acho que permite que as pessoas falem muito mais a partir de sua experiência pastoral ... do que a partir de seu estudo acadêmico", disse ele.
Cerca de 190 prelados estão participando do Sínodo e serão capazes de votar nas discussões. Algumas outras 60 pessoas, principalmente leigas, foram selecionadas para outros papéis e podem contribuir para as discussões, mas não tem direito a voto.
Após uma semana de reuniões, os bispos vão criar um rascunho de um documento de trabalho para o sínodo que irá, então, ser trabalhado durante a segunda semana de reuniões, resultando em um documento final do Sínodo, que será entregue ao papa.
Entre aqueles que deram contribuições pré-escritas durante as sessões da tarde de segunda-feira estão: o cardeal Donald Wuerl, de Washington, o ex-secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, o cardeal alemão Walter Kasper, o cardeal filipino Luis Tagle e o cardeal austríaco Christoph Schönborn.
Incluem-se também aqueles que deram "livres" comentários ontem à tarde: o cardeal francês André Vingt-Trois, os cardeais brasileiros, Odilo Scherer e João Braz de Aviz, o cardeal Peter Turkson, de Gana, e Nichols, da Inglaterra.
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Entre as primeiras discussões do Sínodo: mudar a linguagem dura e tentar a ''gradualidade'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU