07 Outubro 2014
A presidente Dilma Rousseff deflagra a campanha de segundo turno com uma reunião, hoje em Brasília, com governadores e senadores eleitos da base aliada. A campanha ganha reforços de governadores vitoriosos e, nos próximos dias, recomeçam as viagens, a partir do Nordeste, onde Dilma foi a mais votada. O comando de campanha receia que Aécio Neves (PSDB) possa aparecer na frente nas próximas pesquisas, mas a avaliação é que a estratégia de comparar as gestões petistas com o governo tucano será bem sucedida.
A reportagem é de Bruno Peres, Andrea Jubé e Raymundo Costa, publicada pelo jornal Valor, 07-10-2014.
Os coordenadores da campanha da presidente Dilma passaram o dia de ontem em reuniões, a fim de estabelecer a estratégia para o segundo turno. Em resumo é o que já está nas ruas: classificar os tucanos como "fantasmas do passado"; condenar as privatizações do PSDB; conversas com o PSB, para atrair o apoio de ao menos uma parte do partido; e melhorar o desempenho da candidata em São Paulo, considerado um ponto fora da curva que pode comprometer o esperado crescimento de Dilma no Nordeste. Marina Silva teve 6 milhões de votos na região. A campanha do PT vai investir especialmente em Pernambuco, para ganhar os votos marineiros.
Nas contas da campanha, há pouco mais de 27 milhões de votos em disputa: os 22 milhões de Marina, os cerca de 3,5 milhões dos partidos nanicos e outros cerca de 2 milhões de nulos e em branco. Se conseguir 40% desses votos, a candidata ganha a eleição, já que passou de turno com uma vantagem de cerca de 8 milhões de votos. O importante é não deixar que São Paulo "seja um ponto muito fora da curva", explicou um auxiliar da presidente, pois isso poderá comprometer a esperada recuperação em Pernambuco, único Estado onde Marina ganhou a eleição - e onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um poderoso cabo eleitoral.
No segundo turno, a campanha de Dilma ganha o reforço dos governadores da Bahia, Jaques Wagner (PT), do Ceará, Cid Gomes (Pros), e do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), que prometem desencadear ofensivas em seus Estados para ampliar a vantagem da petista sobre Aécio. Cid Gomes ainda tem a missão de eleger o petista Camilo Santana para o governo no segundo turno.
Dilma comanda um ato político hoje, a partir das 15 horas, em Brasília, com os governadores e senadores eleitos da base aliada, a fim de mostrar força política e gravar imagens para o horário eleitoral, que recomeça nesta quinta-feira. O governador eleito da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que é "fundamental para a Bahia que tenhamos Dilma eleita presidente do Brasil".
Também já estão agendados os próximos debates entre Dilma e Aécio. A previsão é de que ocorram no próximo dia 14 na Band, no dia 19 na TV Record e no dia 20 no SBT, mas as datas podem ser revistas. O comando de campanha receia o avanço de Aécio Neves nas próximas pesquisas, mas até o momento é apenas um sentimento de uma ala da coordenação dilmista. Os trackings oficiais da equipe do marqueteiro João Santana começam somente na quinta-feira, junto com o reinício da propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
Mas a grande aposta da campanha será na comparação entre os 12 anos de governos petistas e os oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Dilma deixou isso claro na entrevista ontem no Alvorada.
"Vamos ter mais uma vez no Brasil dois projetos se confrontando, mas não vamos comparar só programas, mas governos muito concretos", afirmou a presidente, em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, sobre a reedição do embate entre PT e PSDB na sucessão presidencial.
Dilma afirmou que sua campanha vai alertar para os riscos de retorno dos "fantasmas do passado". Ela acusou o governo de Fernando Henrique Cardoso de "quebrar o país três vezes" e disse que as taxas de juro foram as "mais elevadas praticadas no país após o Plano Real".
A petista ainda centrou críticas à gestão de Arminio Fraga à frente do Banco Central durante o governo do PSDB. Aécio Neves adiantou que, se eleito, Arminio vai assumir o Ministério da Fazenda em seu governo. "Indicar o Arminio é um complicador para ele", disparou a presidente.
Dilma minimizou a reação positiva do mercado financeiro ao avanço de Aécio Neves na corrida eleitoral. "Os investidores podem fazer tudo, mas não ganham uma eleição. Quem vota no Brasil se chama povo brasileiro".
A petista negou que tenha se frustrado com a diferença entre a contagem final de votos contra o seu adversário, contrariando pesquisas eleitorais que lhe davam maior margem para vitória. Ela disse que as pesquisas são apenas "uma referência" e que não são infalíveis. Ela citou como exemplo a vitória em primeiro turno do candidato do PT, Rui Costa, ao governo da Bahia, que chegou a ser dado como derrotado em primeiro turno.
As viagens também serão retomadas até o fim da semana, começando pelo Nordeste, depois passando pelo Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Dilma quer ir a Pernambuco, onde Aécio obteve 6% das intenções de voto mas Marina ganhou a eleição. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve, antes, manter conversas preliminares com a família de Eduardo Campos e o presidente interino do PSB, Roberto Amaral. O PSB se reúne amanhã para discutir o apoio de Marina Silva no segundo turno.
Durante a coletiva no Alvorada, classificou como "gentil e civilizado" o telefonema que recebeu de Marina Silva ontem de manhã. "Eu agradeci e disse que nós duas lutávamos por melhorar o Brasil, em que pese as nossas diferenças", relatou. Marina desejou a Dilma uma disputa de alto nível no segundo turno.
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Dilma receia primeira pesquisa do 2º turno e mobiliza aliados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU