01 Outubro 2014
Um dos candidatos mais caricaturais das eleições presidenciais brasileiras, Levy Fidelix, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), gerou revolta nas redes sociais, ao destilar palavras homofóbicas durante um debate promovido pela rede Record na noite do último domingo. Ele, agora, pode ter que se explicar na Justiça a uma representação por parte de grupos de ativistas.
A reportagem é de Talita Badinelli, publicada pelo jornal El País, 29-09-2014.
Questionado pela candidata Luciana Genro (PSOL) por que pessoas que defendem a família, caso dele, se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo, ele afirmou:
- Tenho 62 anos. Pelo que vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais, desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. É feio dizer isso, mas não podemos, jamais, eu que sou um pai de família, um avô, deixar que tenhamos esses que estão aí achacando a gente no dia a dia, querendo escorar essa minoria (...) Vou acabar com essa historinha. Eu vi agora o Papa expurgar do Vaticano um pedófilo. Está certo. Nós tratamos a vida toda da religiosidade para que nossos filhos possam encontrar um bom caminho familiar. Eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na Lei, que fique como está. Mas estimular a união homoafetiva jamais.
Em sua réplica, Luciana lembrou que a união homoafetiva não está na lei, apesar de em março de 2013 a Justiça ter determinado que os cartórios registrem os casamentos gays em condições semelhantes a dos heterossexuais. Atualmente, o Brasil tem 60.000 casais homoafetivos vivendo juntos. “Para combater a discriminação, a homofobia, a transfobia, é fundamental reconhecer o casamento civil igualitário”, disse ela. Ao que ele respondeu:
- O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí, daqui a pouquinho vai reduzir para cem. Vai para a [avenida] Paulista. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria (...) e o mais importante é que esses que têm esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente porque aqui não dá.
A fala causou comoção nas redes sociais do Brasil, um país que teve 650 assassinatos homofóbicos ou transfóbicos em 2012 e 2013 e que desde 2008 concentra quase metade do total de homicídios de transexuais do mundo, de acordo com o relatório da organização europeia Transgender Europe. A avenida Paulista, citada pelo candidato por ser um local de concentração da comunidade LGBT, foi palco em 2010 de um crime de grande repercussão: um grupo de cinco adolescentes de classe média alvejou com lâmpadas fluorescentes gays que andavam pelo local. As imagens foram registradas em vídeo. Eles gritavam: "Suas bichas, vocês são namorados.”
"Pelo que vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais, desculpe, mas aparelho excretor não reproduz"
A Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT) afirmou ao El País que pretende entrar com uma representação contra as falas homofóbicas do candidato e avaliará nesta tarde a medida a ser tomada neste caso. “A gente busca a igualdade de direitos. São falas como essa que disseminam a violência contra a comunidade LGBT”, afirmou o presidente da associação, Renato Quaresma. “Nosso país é um país laico e da diversidade, apesar de não termos uma lei que puna a homolesbitransfobia”. Quaresma também se revoltou contra a associação feita por Levy entre gays e pedófilos. “Ele fala como se todo gay fosse pedófilo. Quando se sabe que muitas dessas atitudes são tomadas pelos heterossexuais, inclusive de pai contra filho, de religiosos contra crianças”.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a candidata Luciana Genro também anunciaram que farão uma denúncia formal contra Fidelix pelo crime de incitação ao ódio. No Facebook, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL), também afirmou que avaliará junto à assessoria jurídica se é possível abrir uma representação contra o candidato por “sua ofensa a uma coletividade e por estimular a violência contra esta”. “Como pode um sujeito como esse ser candidato presidencial?”, questionou ele em sua página.
No Twitter, a hashtag #LevyVoceENojento chegou ao topo dos Trending Topics do Brasil. A usuária @thaisapriscilla escreveu: “Preconceito é a forma mais explícita de falta de educação e caráter” e a @NiDeOliveira afirmou que denunciou ao Ministério Público Federal o candidato por incitação ao ódio.
A estudante de direito Maria Clara Bubna, também em sua página na rede social, afirmou, “Vivemos numa sociedade onde um político atenta publicamente contra direitos garantidos pela Constituição e vive a vida impunemente.” Em seguida, lembrou do artigo terceiro da Constituição, que diz:- Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:(...)IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Nanico
Levy Fidelix já se envolveu em polêmica nas redes uma outra vez durante essas eleições, quando ficou irritado ao ser questionado pelo jornalista Kennedy Alencar durante um debate se seu partido não seria uma “legenda de aluguel”, que vive de “negociar candidaturas que fazem ataques terceirizados nas eleições”, já que ele já havia se candidatado dez vezes a cargos públicos e nunca foi eleito. Ele chamou o jornalista de “língua de trapo” e a imprensa de “mídia vendida”.
Na última pesquisa Datafolha, do dia 26, ele não registrou 1% das intenções de voto. A reportagem tentou falar com o candidato para que ele comentasse as acusações de homofobia, mas não conseguiu falar com sua assessoria.
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Ativistas vão à Justiça contra Levy Fidelix por fala homofóbica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU