28 Agosto 2014
Ele, Francisco, vai direto pelo seu caminho. Não obstante os temores que vêem do outro lado do Adriático em função de sua iminente visita à Albânia, no próximo dia 21 de setembro. É esta a decisão do Papa. Governo e serviços secretos albaneses assinalaram à Interpol o temor pela incolumidade do Pontífice em Tirana, por causa de um amplo grupo de kosovari – sobreviventes da guerra contra a Sérvia – que abraçaram a causa do fundamentalismo islâmico, indo e voltando do Iraque e da Síria, onde combateram nas fileiras do Isis. A presença no território albanês de tantos extremistas ligados ao autoproclamado Estado Islâmico somou-se a quanto ficou evidenciado nos últimos dias de fontes israelenses a todos os serviços secretos, incluídos os italianos, que consideram que na mira do Isis esteja também o Pontífice, máximo representante do cristianismo.
A reportagem é de Leonardo Berberi e Maria Antonietta Calabrò, publicada pelo jornal Corriere della Sera, 27-08-2014.
De manhã cedo, Francisco leu um relatório da Secretaria de Estado contendo uma análise da situação e os despachos do núncio em Tirana sobre a ocorrência. Logo em seguida recebeu o chefe da Segurança do Estado Vaticano e, sobretudo do Papa, e por nada impressionado, lhe confirmou que a viagem será feita. “Isto é tarefa sua’, disse referindo-se às sinalizações de risco chegadas da Albânia. Em suma: confio em você, faça o seu trabalho, mas eu pretendo ir.
Tanto mais que o principal motivo pelo qual o Pontífice se dirigirá ao pequeno Estado ex-comunista, explicou-o o próprio Francisco no avião que o trazia de volta da Coréia do Sul: “Vou à Albânia. Primeiro porque conseguiram fazer um governo – pensemos nos Bálcãs! -, um governo de unidade nacional entre islâmicos, ortodoxos e católicos, com um conselho inter-religioso que tanto ajuda e é equilibrado. Isto vai bem, é harmonizado. A presença do Papa é para dizer a todos os povos: “Se pode trabalhar conjuntamente! Eu o senti como se fosse uma verdadeira ajuda àquele nobre povo”.
Oficialmente, tanto no Shish, a inteligência albanesa, como no Aki, a kosovara, sustentam que está tudo sob controle. Mas, duas fontes – uma em Pristina, a outra em Tirana – explicam que há uma agitação em vista do 21 de setembro. “Os jihadistas sempre sustentaram que o objetivo final é chegar a Roma. Mas, se Roma vem a Tirana, embora por poucas horas, o objetivo se torna ainda mais simples”.
E assim, nestes dias, as duas agências procuram cruzar dados e imagens, após telefonemas no social network, para entender o que se esteja movendo nas comunidades islâmicas dos respectivos países. Um network que, nos últimos meses, mandou combater na Síria e no Iraque pelo menos 600 co-nacionais.
Alguns morreram. Alguém como Lavderim Mhaxheri (com um passado na base Kfor de Ferizaj, em Kosovo), está na chefia de uma unidade do Isis e no Facebook se diverte fazendo vê-los com a cabeça degolada. Um que outro voltou para casa. Salvo, talvez levemente ferido, doutrinado. Sobretudo: não “fichado”.
“Não houve muita coordenação, nestes meses, entre nós e os albaneses – conta um 007 kosovaro -. O fato é que hoje nenhum de nós está em condições de dizer quantos extremistas existam, nestas semanas, de Kosovo à Albânia”. De resto, pisar no lugar que hospedará o Papa Francisco, ultrapassando a fronteira de Morini, não é difícil. “Em pleno verão, milhares de kosovaros vão ao País vizinho para as férias no Adriático: não me espantarei se entre eles houvesse algum jihadista disposto a gestos clamorosos para afirmar-se como líder de uma célula islâmica também nos Bálcãs. Algum sinal existe há tempo: o sonho do califado voltou ao primeiro plano também aqui”. Eis porque, continua o perito, “a presença do Pontífice em Tirana pode constituir um objetivo a obter de qualquer modo, também o mais espetacular”. Bergoglio está em perigo? “Nós estamos trabalhando para evitar qualquer obstáculo e para garantir a máxima segurança – assegura um 007 albanense -. Vereis que tudo acabará indo bem”.
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Os temores de Tirana em função da visita do Papa. Mas Francisco confirma a viagem. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU