15 Agosto 2014
"Quando o cardeal Bergoglio se elegeu papa em 2013, muitos católicos tradicionais ficaram desconfiados. O pessimismo que alguns deles manifestavam está se justificando na medida em que o “efeito Francisco” se faz perceber ao redor do mudo e nos EUA – e de modo mais notável na Arquidiocese de Nova York", escreve Adam Shaw, editor da conservadora rede FoxNews em artigo publicado pela FoxNews.com, 12-08-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Os assim-chamados católicos “tradicionais” preferem assistir à missa na forma como era celebrada antes e do Concílio Vaticano II (1962-1965), ou seja, antes de que liturgia fosse reformada radicalmente em 1969.
A Missa Tridentina, que foi a forma ordinária da missa de 1570 a 1969, é conduzida em latim, frequentemente acompanhada por canto gregoriano e incensação, além de enfatizar o aspecto sacrificiais da celebração.
Espero que tanto o Papa Francisco quanto a Arquidiocese de Nova York parem com os ataques contra uma comunidade de pessoas que não representam mal algum a ninguém e que apoiam a Igreja nos bons e maus momentos.
Diferentemente da Missa Tridentina, a missa de 1969 em diante simplifica as orações, coloca uma maior ênfase na comunidade e remove o idioma latino. Em muitas celebrações também usa-se o idioma vernacular em vez do latim; estas celebrações têm um estilo mais simples, sendo muitas vezes acompanhadas de músicas modernas.
Embora tenha sido suprimido imediatamente após a reforma, o rito antigo foi legalizado pelo Papa São João Paulo II sob circunstâncias limitadas em 1988, e então aceito livremente pelo Papa Bento XVI em seu documento inovador de 2007 intitulado “Summorum Pontificum”, no qual também manifesta o desejo de que a celebração solene do rito tradicional influenciasse, consequentemente, a forma como se celebra o novo rito, tornando-o semelhante.
No entanto, o Papa Francisco nem considera esta questão. Em sua antiga Arquidiocese de Buenos Aires, o rito tradicional não existia, tendo sido descrito por um jornalista local como “um inimigo declarado da missa tradicional”. Desde que ascendeu ao papado, isso vem se mostrando verdade também num sentido global.
Além do distanciamento em relação ao estilo litúrgico tradicional de Bento XVI empregado nas missas papais, o Papa Francisco considera os católicos que vão às missas nos ritos antigos, em latim, como “ideologizantes”. Ele também proibiu os Franciscanos da Imaculada – uma ordem católica tradicional presente em todo o mundo – de celebrarem a missa livremente. Pelo que parece, a atitude do “quem sou eu para julgar” não se aplica aqui.
Não é de se admirar, portanto, que alguns bispos e cardeais estejam vendo os ventos da mudança no Vaticano e agindo de acordo.
Em Nova York, sob a liderança daquele que certa vez foi um conservador moderado, o cardeal Timothy Dolan, a arquidiocese era um lugar que permitia a realização da missa tradicional sem problemas após o “Summorum Pontificum”.
No entanto, desde que o Papa Francisco chegou, Dolan – geralmente considerado “o papa dos Estados Unidos” – virou-se para a esquerda, tanto que até mesmo o jornal New York Times observou esta mudança em artigo recente. Dolan se tornou um porta-voz da opinião do Papa Francisco sobre o capitalismo, amenizou a questão sobre os direitos dos gays e tem sido até mesmo um firme defensor da anistia para os imigrantes ilegais e, por incrível que pareça, criticou o programa governamental Obama Care porque este não garantia assistência gratuita à saúde para pessoas em situação ilegal no país.
Hoje, Dolan virou-se contra os tradicionais.
Há três igrejas em Manhattan que celebram a missa tradicional. Uma delas, a Igreja Nosso Salvador (“Our Savior’s Church”) teve o seu pastor removido pelo cardeal Dolan, que colocou em seu lugar um sacerdote que não têm condições de rezar a missa na forma antiga, de forma que as missas tradicionais foram interrompidas.
No começo deste ano, ele anunciou-se que a Igreja dos Santos Inocentes (“Church of Holy Innocents”), conhecida no mundo todo como o centro do tradicionalismo na cidade de Nova York, local repleto de missas, devoções e confissões regulares, tudo dentro de uma das igrejas mais bonitas na arquidiocese, havia recebido a recomendação para fechar as portas. A recomendação fora feita por uma comissão da arquidiocese.
A notícia surpreendeu os católicos tradicionais em todo o mundo e tornou-se um símbolo internacional, especialmente porque tem boa frequência de fiéis e se encontra em bom estado financeiro.
O fechamento de igrejas deveria se dar por motivos financeiros (no caso de uma comunidade em que se está perdendo dinheiro) ou onde ninguém mais frequenta as missas. Atualmente, só é possível assistir de pé às missas na Igreja Santos Inocentes, pois suas fileiras estão sempre cheias e os documentos a que tive acesso sugerem que ela tem tido um superávit nos últimos sete anos. Isso vai de encontro a algumas paróquias que não contam com uma recomendação para fechamento e que possuem déficits de 6 dígitos.
A comunidade da Santos Inocentes, devastada pela notícia de que está para fechar, vem organizando petições e rezando diariamente rosários e novenas pedindo pela preservação da amada igreja.
Numa missa recentemente celebrada, Justin Wylie, padre sul-africano que trabalhou na ONU representando a Santa Sé e que rezou missas regulares tanto na Santos Inocentes quanto no terceiro lugar de adoração tradicional na cidade – a Igreja de Santa Inês (“Church of Saint Agnes”) –, comparou a situação dos católicos tradicionais na arquidiocese com aquela da Inglaterra durante a Reforma e com aquela outra, durante a conquista cromwelliana da Irlanda. Wylie perguntou aos tradicionalistas “por que vocês estão agindo como se fossem pedintes, na esperança de que um pouco de comida caia da mesa para que vocês se saciem?”, convocando-os a firmar, pacificamente, seus direitos de católicos batizados.
Isso é, aparentemente, demais nestes tempos de Francisco.
Fontes disseram-me que uma carta foi imediatamente enviada ao núncio papal para as Nações Unidas e, por incrível que pareça, para a arquidiocese de Wylie, em Johanesburgo, repreendendo este sacerdote por seus comentários e ameaçando recomendar que as faculdades sacerdotais do religioso (Wylie) fossem-lhe retiradas – um movimento extremamente sério que, noutras palavras, impede que um padre exerça seu trabalho como tal e que é, normalmente, reservado para ser usado em acusações muito graves como abusos sexuais.
As minhas fontes disseram que depois que a carta foi entregue, o Pe. Wylie, num movimento que se parece mais com a Espanha dos tempos de Inquisição do que com a Nova York dos tempos modernos, foi silenciado, proibido de celebrar missa em público e tendo, por fim, recebido ordens para arrumar as malas e voltar para a África do Sul, o mais breve possível.
O Pe. Edward Weber, chefe do equivalente ao departamento pessoal da arquidiocese, quem normalmente seria o responsável por escrever uma carta assim, negou que algo deste tipo tenha sido produzido quando falei com ele por telefone, apesar de ter sido citado anteriormente no blog mantido por católicos tradicionais chamado “Rorate Caeli”, em que dizia que a ordem veio “do escritório do cardeal”. Weber me disse que, nesta ocasião, houve um mal-entendido por parte de quem o citou.
Mais tarde, a arquidiocese admitiu em nota que houve, de fato, uma carta, mas que ela não veio da mesa de Dolan e que não ameaçou cancelar as faculdades sacerdotais de Wylie. Quando perguntei se tinham ameaçado recomendar o banimento das faculdades do citado sacerdote, a arquidiocese não respondeu.
O silenciamento e o banimento do Pe. Wylie é devastador para os católicos tradicionais. Não só porque ele é um pregador renomado, conhecido por realizar celebrações solenes e por apresentar homilias excepcionalmente belas que são tão reverenciadas a ponto de serem, muitas vezes, postas no YouTube, mas também porque foi um padre importante tanto na comunidade dos Santos Inocentes quanto na Santa Inês, onde celebrava três de cada quatro missas tradicionais por mês. A sua remoção ameaça, consequentemente, a regularidade dos ritos antigos aqui também, na medida em que a censura do Pe. Wylie teve um efeito inibidor nos padres que poderiam aceitar desempenhar o seu papel.
Este efeito inibidor espalhou-se entre os leigos também. Muitos destes, padres e leigos, com quem falei e que me forneceram informações e documentos sobre a situação pediram, antes de tudo, anonimato por medo de que eles e as pessoas às quais estão associadas pudessem sofrer represálias por parte da administração do cardeal Dolan.
“Teremos retaliação caso nossos nomes apareçam neste artigo”, uma das fontes consultados me disse. “Já fomos alertados quanto a isso por parte da arquidiocese”.
Ao que parece, isso é um exemplo real do “efeito Francisco”, onde os que discordam recebem gratificações e os inimigos da Igreja ganham carinho, enquanto que aqueles que se sacrificam pela igreja, que batalham nas linhas de frente e apenas desejam rezar uma boa liturgia, imersos na beleza tradicional da Igreja, são atacados, insultados e se se atreverem a emitir um suspiro de aborrecimento, são expulsos da Igreja.
Espero que tanto o Papa Francisco quanto a Arquidiocese de Nova York parem com os ataques à comunidade de pessoas que não representam mal algum a ninguém e que apoiam a Igreja nos bons e maus momentos.
Infelizmente, no entanto, sinto que possamos estar vendo o último de uma longa série de eventos perniciosos sob a bandeira do “efeito Francisco”.
Espero que eu esteja errado.
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O “efeito Papa Francisco”: a guerra contra católicos conservadores em Nova York - Instituto Humanitas Unisinos - IHU