25 Junho 2014
O encontro ocorreu na manhã da terça-feira, 10 de junho, na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, apesar da indisposição do papa, que tinha provocado o cancelamento de alguns compromissos do dia anterior. Francisco se entreteve por uma hora e meia com cerca de 60 freis Franciscanos da Imaculada, a ordem fundada pelo padre Stefano Manelli, que a Santa Sé, no ano passado, comissionou para resolver dissídios internos ligados com o governo, a administração, a relação com o ramo feminino e com o uso que já se tornou quase exclusivo do missal antigo e a interpretação do último Concílio. Estavam presentes cerca de 40 seminaristas, noviços ou estudantes de teologia e filosofia, junto com seus formadores e o comissário papal, padre Fidenzio Volpi.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 23-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os franciscanos cantaram a Ave Maria de Fátima e renovaram nas mãos do papa o seu voto de total consagração à Imaculada. Depois, foram feitas a Francisco perguntas sobre os temas mais espinhosos referentes à vida interna do instituto.
O Papa Bergoglio mostrou-se muito bem informado sobre tudo, acompanha de perto a história e mais de uma vez demonstrou o seu apreço pelo padre Volpi, desmentindo, assim, que as ações de governo do comissário e dos seus colaboradores são feitas sem o seu conhecimento.
Depois do comissionamento e da restrição ao uso do missal antigo – que, ao contrário do que ocorre segundo a norma do motu proprio Summorum pontificum, no caso dos Franciscanos da Imaculada pode ser usado sob prévia solicitação de autorização aos superiores –, houve deserções entre os freis e os seminaristas.
De 400 religiosos no mundo, cerca de 40 pediram a dispensa dos votos, cerca da metade dos quais são seminaristas e, portanto, ainda estudantes, que tinham emitido apenas votos temporários.
Sobre o motu proprio, o Papa Francisco disse que não quer se distanciar da linha de Bento XVI e reiterou que também aos freis Franciscanos da Imaculada permanece a liberdade de celebrar a missa antiga, mesmo que, por enquanto, dadas as polêmicas sobre o uso exclusivo do missal – elemento que não fazia parte do carisma de fundação do instituto –, seja necessário um "discernimento" com o superior e com bispo, quando se tratar de celebrações em igrejas paroquiais, santuários e casas de formação.
O papa explicou que deve haver liberdade, tanto para quem quer celebrar com o rito antigo, quanto para aqueles que querem celebrar com o novo rito, sem que o rito se torne uma bandeira ideológica.
Uma pergunta abordou a interpretação do Concílio Vaticano II. Francisco voltou a expressar o seu apreço pela obra do arcebispo Agostino Marchetto, definindo-o como "o melhor hermeneuta" do Concílio.
E depois respondeu à objeção de que o Vaticano II seria apenas um Concílio pastoral, que provocou danos à Igreja. O papa disse que, mesmo tendo sido pastoral, contém elementos doutrinais e é um Concílio católico, reiterando a linha da hermenêutica da reforma na continuidade do único sujeito Igreja apresentada por Bento XVI no discurso à Cúria Romana em dezembro de 2005.
Depois, ele lembrou que todos os concílios provocaram alvoroço e reações, porque o demônio "não quer que a Igreja se torne forte". E também disse que é preciso ir em frente com uma hermenêutica teológica e não ideológica do Vaticano II.
Francisco também disse que foi ele que quis o fechamento do instituto teológico interno dos Franciscanos da Imaculada (STIM), fazendo com que os seminaristas estudem nas pontifícias faculdades teológicas romanas. Depois, ele especificou que a ortodoxia é garantida pela Igreja através do sucessor de Pedro.
Não faltaram momentos em que Bergoglio citou recordações pessoais, falando do frei Anselmo, um frei da Imaculada de origem filipina que ele conhecera quando cardeal, frequentando a igreja de Maria Santissima Annunziata sul Lungotevere, onde ele o encontrara pela primeira vez com o balde na mão, fazendo a limpeza. Frei Anselmo está hoje na Nigéria. "Ele me ensinou a humildade, me fez muito bem", disse Francisco.
No fim do encontro, o papa cumprimentou pessoalmente todos os presentes. Dois deles lhe manifestaram perplexidade pelo tratamento ao qual foi submetido o padre fundador, Stefano Manelli (foto acima). Um desses dois seminaristas, alguns dias depois do encontro, anunciou a sua decisão de deixar o noviciado, porque disse ser contrário ao Concílio Vaticano II.
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Papa dialoga com os jovens dos Franciscanos da Imaculada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU