Por: André | 24 Julho 2014
A guerra química no Paraguai é diretamente proporcional à expansão exponencial do agronegócio. A destruição em massa de comunidades camponesas e indígenas é inerente ao modelo destrutivo extrativista empreendido a partir de 1970, a chamada Revolução Verde, a utilização do mesmo pacote tecnológico da Monsanto e outras multinacionais que seguem devastando as comunidades camponesas e indígenas com o método da fumigação.
A única diferença com a guerra química do Vietnã é que esta nova operação de guerra é chamada de “modernização agrícola”, e chamam a destruição de “Desenvolvimento” e justificam a invasão como “Investimentos”. O crescimento do plano sojeiro com o modelo transnacional no Paraguai é muito evidente. De acordo com os dados da Câmara Paraguaia de Exportadores e Comerciantes de Cereais e Oleaginosas (Capeco), em 1995 foram semeados 833.000 hectares desta oleaginosa. Dez anos depois, em 2005, chegou-se aos dois milhões de hectares. Apenas sete anos mais tarde, em 2012, passou para 3.157.600 hectares.
A reportagem é de Del Rosario Ignacio Denis e publicada no sítio Rebelión, 22-07-2014.
Ignacio Denis é engenheiro agroecológico graduado pelo Instituto Latino-Americano de Agroecologia Paulo Freire (IALA). A tradução é de André Langer.
A morte de crianças pela fumigação química é contínua, e igualmente exponenciais são as doenças, a contaminação de rios, animais. Comunidades inteiras sofrem diariamente a guerra química de destruição em massa das multinacionais do agronegócio. Em 2007, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas assinalou entre suas observações que “a expansão do cultivo da soja trouxe aparelhado o uso indiscriminado de agrotóxicos, provocando mortes e doenças de crianças e adultos, a contaminação da água, o desaparecimento de ecossistemas e afetava os recursos tradicionais alimentares das comunidades (Observações finais do CDESC, Conselho Econômico e Social, p. 3).
Este estudo e denúncia realizados pelos organismos nacionais e internacionais foram feitos depois da morte do menino Silvino Talavera no dia 06 de janeiro de 2003. A criança foi atingida por glifosato por empresários alemães que estavam fumigando sua plantação de soja, a poucos metros da casa da família Talavera.Também resultaram vítimas das fumigações os pais do menino e seus irmãos Ramón, Sofía (que sofre sequelas até hoje), Justiniano e Patricio.
Estes crimes, fruto desta guerra química continuada, até hoje seguem impunes. As denúncias nacionais e internacionais dos organismos estão impressos apenas em livros com capas bem desenhadas. Além da dor e da vigilância, as famílias camponesas e indígenas seguem sofrendo esta guerra química continuada.
Na comunidade camponesa de Leopoldo Perrier, a contaminação da população com agrotóxicos chegou a um ponto crítico quando, em agosto de 2007, morreu o menino Jesús Jiménez, de três anos, após intensas fumigações. A população e os pais do menino denunciaram a falta de diagnóstico no momento da sua morte (La Nación, 18-10-2007, p. 40). Como a intoxicação com agrotóxicos foi negada pelos produtores de soja, as organizações conseguiram impulsionar uma ordem judicial para a exumação do cadáver para sua necropsia e a realização de um diagnóstico sócio-ambiental da comunidade por parte de três instituições estatais. A necropsia demonstrou que havia altos níveis de agrotóxicos no corpo.
Uma investigação realizada no mesmo ano nos quatro Departamentos de maior produção de soja revelou que nas comunidades estudadas 78% das famílias apresentavam algum problema de saúde ocasionado pelas frequentes fumigações em plantações de soja, 63% devido à contaminação da água (Palau et. al. 2007).
Novamente esta guerra sem fim no Departamento de Canindeyú, dirigentes da Federação Nacional Camponesa (FNC) denunciaram o caso de dois menores que morreram após apresentar aparentes sintomas de intoxicação. A organização vem sofrendo de maneira sistemática as consequências das fumigações em seus assentamentos. Suas lutas e denúncias contra esta guerra química nunca foram levadas em consideração pelas autoridades nacionais. Sempre de maneira direta tratam de criminalizar suas reivindicações e denúncias, protegendo, por outro lado, as plantações dos empresários com militares e policiais para continuar com as fumigações. De igual maneira, os empresários, com o apoio da polícia, juízes e fiscais, empreenderam uma ameaça contínua contra os principais dirigentes desta organização, inclusive com a ameaça de morte. Existe evidente violação dos direitos humanos pela repressão permanente à comunidade em resistência. Diante deste novo fato, o ministro da Saúde, Antonio Barrios, confirmou a criação de uma equipe multidisciplinar que chegará esta tarde [de quarta-feira] à colônia Huber Dure, em Curuguaty, para investigar estes fatos.
Esta operação de guerra química contra as comunidades camponesas e indígenas faz parte do plano de extermínio do setor camponês, de históricas e longas lutas no país. A vontade de controle total da terra por parte das multinacionais e empresários brasileiros começam a recrudescer seus ataques com a restauração neoliberal do novo rumo para o Paraguai e com o presidente Horacio Cartes, cúmplices e atores diretos do golpe parlamentar perpetrado contra o governo legítimo de Fernando Lugo.
Estas fumigações são acompanhadas de desalojamentos violentos, destruição de plantações, assassinatos seletivos de dirigentes camponeses, imputações, militarização de assentamentos camponeses. Esta realidade orienta para uma violência e criminalização em ascensão e é fruto da guerra assimétrica pela terra declarada entre camponeses, camponesas, indígenas e um governo neoliberal que impulsiona a pátria da soja das multinacionais do agronegócio.
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Paraguai. A guerra química de destruição em massa de comunidades camponesas e indígenas continua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU