Por: André | 08 Julho 2014
Em 21 de junho passado, o prepósito geral da Companhia de Jesus, Pe. Adolfo Nicolás, visitou a Espanha para presidir a criação da nova Província da Espanha. “A revolução de Francisco é a revolução da normalidade”, destaca Nicolás, que mantém uma fluida relação com o Papa, embora “evitemos uma frequência que seja muito visível”. Sobre a Companhia, a cuja direção renunciará em 2016, afirma que “a sociedade vai mudando, e também as nossas estruturas têm que mudar”. E aponta que “temos que continuar olhando para Arrupe”.
Fonte: http://bit.ly/TZ7h4g |
A entrevista é do também jesuíta Lucas López e está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 28-06-2014. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Quem o ensinou a rezar?
Muitas pessoas, porque se reza quando pequeno, jovem, adulto, leigo e jesuíta. Aprendi em casa. Fazíamos juntos o mês de São José; era uma devoção dos meus país. Procurávamos, os filhos, algo engraçado só para rir. Mas assim aprendemos, pelo menos creio que é o que fica para sempre, que há um recurso que ultrapassa o que acontece no dia a dia. Isso fica na mente da criança. Depois se aprende a rezar com a vida, com o Evangelho, com os acontecimentos, com a vida de Companhia; a vida da Companhia é a oração de agora.
Há tempo para rezar na vida da cúria?
Evidentemente, é preciso fazê-lo pela manhã, porque depois, durante o dia, não sobra tempo para nada.
Encontra-se com frequência com o Papa Francisco?
Não, tanto ele como eu evitamos uma frequência que seja muito visível. Eu, enquanto posso, trato assuntos com ele através de outras fontes. É um homem muito aberto a todos os canais, oficiais e não oficiais; procuro usar diferentes canais para não tornar-me muito visível e que comece uma especulação sobre a relação do Papa com a Companhia, que não faria bem a ninguém.
Nós temos um voto de obediência e queremos saber o que o Papa Francisco nos pede. Sabemos o que ele nos pede?
Essa foi a primeira preocupação que eu tinha como Geral. O Papa Bento XVI nos disse claramente o que esperava da Companhia: intensidade no estudo, profundidade no pensamento e na espiritualidade. Pude confirmar com o Papa Francisco que quer o mesmo para a Companhia. Além das prioridades que ele tem: contato com as pessoas, serviço aos pobres, etc. Mas creio que o nosso papel, hoje, na Igreja é fomentar o aprofundamento, de forma que não façamos aquilo que os outros já estão fazendo: o que é jornalístico, o imediato. Mas estudar as coisas a fundo e buscar responder àquilo que a Igreja precisa neste momento.
O Papa Francisco lhe surpreende?
Não me surpreende. Um jornalista italiano disse que a revolução de Francisco é a revolução da normalidade. E não me surpreende o fato de que na Igreja possamos ser normais. Ele é muito normal, muito natural, muito espontâneo e isso faz bem à Igreja, e as pessoas gostam disso.
Encontrei-me, nas minhas viagens pelo mundo, com o agrado das pessoas, de todos: africanos, asiáticos, latino-americanos... por este estilo informal, próximo, de diálogo, que tem com todos e isto corresponde também à sua canonização do beato Fabro. Fê-lo santo porque tinha grande devoção por ele desde sua juventude, antes de ser jesuíta, e no beato Fabro ele encontra apoio, inspiração para o que busca: diálogo, proximidade, abertura a todos, cheio de carinho, porque não é um homem frio.
Como saber o que um papa quer? Que mecanismos há para chegar ao Papa?
O melhor é perguntar diretamente. É muito acessível e de diálogo fácil. Ele gosta que as pessoas lhe digam o que pensam. Ele elogiou o seu secretário porque quando não está de acordo o diz. E ele gosta disto, uma linguagem direta, espontânea, sincera. Ele é muito sincero. O que ganhamos em proximidade ganhamos em conhecimento da pessoa. Não há nada oculto, é um homem transparente.
E para saber o que o Papa pede à Companhia e o que Deus pede à Companhia, como o faz o padre Nicolás?
O melhor caminho para sabê-lo é o discernimento. Santo Inácio nos deixou não apenas o método, mas as atitudes fundamentais, porque a realidade é um dos melhores pontos de partida. Santo Inácio é um homem que não é abstrato, que caminha sobre a realidade, considera-se peregrino não apenas porque fisicamente caminhou muito, mas porque é um homem em busca, que vai descobrindo novos campos e a realidade é sempre um ponto de partida muito sério para ele. Tanto que quando envia gente à Índia ou a outros lugares, sempre em suas instruções deixa-lhes total liberdade para que discirnam sobre o terreno. A mudança de estruturas é normal em Santo Inácio, porque não há nada absoluto se não for a vontade de Deus e o bem dos outros.
A realidade chega bem a Borgo S. Spirito [sede da cúria geral dos jesuítas, em Roma]? Como faz para aproximar-se da realidade?
Chega muito bem. A Companhia tem 500 anos de experiência, e sempre foi se polindo, precisamente, o acesso à realidade, através de cartas, através de uma dupla rede. Fez-me pensar quando estudei em Roma nos anos 68-69. O secretário da Embaixada japonesa me pediu para que organizasse um encontro com três professores da Gregoriana, e lhe perguntaram por que a Embaixada japonesa no Vaticano, que interesse o Japão tinha em duas Embaixadas em Roma se o Japão não é um país católico. Ele respondeu claramente: por informação, porque o que o Vaticano decide afeta os países latino-americanos, e o Japão tem interesse em saber. E porque o Vaticano tem duas redes de informação, uma oficial, através dos núncios, e outra informal, através de sacerdotes, religiosos, leigos, que estão continuamente enviando informações para Roma.
Então, lê tudo o que lhe mandam?
Muito do meu trabalho é ler e ouvir. As orelhas ficaram um pouco grandes. Tenho uma equipe muito boa para isso. O segredo do governo da Companhia está na equipe. Estou muito agradecido à CongregaçãoGeral, não por me eleger, mas pela equipe que me deu. Tenho 09 assistentes regionais, que têm diferentes partes do mundo sob sua preocupação e depois dois assistentes para as casas de Roma – que são quase 400 jesuítas – e outro para a formação, que é a prioridade na Companhia, sempre. Juntos, sei que podemos encontrar caminhos para responder a diferentes desafios e isso me permite dormir em paz. Durmo bem por saber que não tenho que resolver sozinho todos os problemas.
Fonte: http://bit.ly/TZ7h4g |
Estamos na criação da nova Província da Espanha. É por que somos menos?
Seria mentiroso se dissesse que não influenciou. É evidente que a questão de número nos fez pensar, porque a redução de número afeta imediatamente o apostolado, as nossas instituições, o governo da Companhia, a própria formação. Estamos nos dando conta de que à medida que as Províncias têm menos gente, há menos possibilidades para manter um serviço de qualidade. Embora a reflexão tenha começado pelos números, no entanto, o acento está no apostolado, no serviço apostólico que oferecemos à Igreja e às pessoas. Não se pode manter qualidade sem recursos e estes recursos têm muito a ver com os números. De maneira que temos, atualmente, na Companhia Províncias muito grandes que não querem se dividir porque se dão conta de que sendo grandes podem manter um apostolado vivo, com recursos, com especialistas, coisa que não aconteceria se fossem divididas. Então, a preocupação em manter as estruturas básicas, formação, superiores, requerem tantos recursos que não restam para compartilhar, trocar com outros...
Somos menos porque... temos menos vocações e temos menos vocações porque estamos trabalhando mal e Deus diz: “já não lhes mando vocações”.
É muito mais complexo que isto. E, sobretudo, no mundo moderno. Estamos procurando dar sentido ao fato de que no Vaticano II descobrimos a vocação do leigo como tal, dentro da família, das instituições, da política, da empresa, e isto certamente afeta. Depois, a natalidade baixou muitíssimo em países que tradicionalmente nos deram muitas vocações. É difícil que a família fomente vocações quando tem dois filhos em vez de cinco, como antes.
Preocupa-me mais o fato de que está diminuindo o número de profissões vocacionais: médicos disponíveis 24 horas, enfermeiras preocupadas com os seus pacientes, professores que estão mais preocupados com o salário do que com os estudantes... está diminuindo o que é vocação, e isto acaba nos afetando, porque nem todo o mundo olha a vocação de forma positiva.
Dizia-nos um irmão cisterciense, que antes, na Itália, todas as famílias tinham um parente religioso, e todos diziam com orgulho. “Hoje, se vou a uma família e me encontro com um rapaz do bom aspecto e lhe pergunto se já se perguntou em ser sacerdote, toda a família vem para cima de mim. Padre, não coloque ideias estranhas na cabeça do rapaz!” Não é apenas um problema nosso; há toda uma cultura que não favorece esse tipo de vocações. Favorece-se o que está mais relacionado com o marketing, a produção, um bom salário, e isto naturalmente acaba nos afetando.
Para a Província da Espanha, isso é uma oportunidade. Temos forças?
Não devemos pensar que a Espanha seja diferente. Isto é um slogan que não serve. Eu gosto de dizer que há jesuítas para tudo, pois também há espanhóis para tudo, mas, evidentemente, há fortalezas. Pelo que vi, há muita dedicação, há paixão pelo que se faz, entrega, generosidade e imaginação. E isto é um valor que deve ser cultivado mais do que nunca. A Igreja necessita dedicação ao estudo e isto não é muito espanhol: um estudo árido, que se faz sozinho, ou em uma biblioteca, isto não é o ponto forte do espanhol. O alemão gosta de estar em uma biblioteca, mas o espanhol gosta de estar ao ar livre. Mas faz parte da idiossincrasia, e há muita inteligência, dedicação e paixão no que se faz. Portanto, a capacidade para ser criativo, para fazer a diferença na vida é muito grande. O que espero que os superiores possam fazer é motivar e canalizar essa energia, essa força, para algo produtivo pastoral e religiosamente.
Há cada vez mais instituições vinculadas à Companhia nas quais há uma pessoa leiga e não um jesuíta. Convertemo-nos numa marca e deixamos de ser uma congregação religiosa?
Não, absolutamente não, é um processo normal. É normal que em uma instituição se busque o melhor, e o melhor pode ser jesuíta ou não, pode ser um leigo ou uma leiga. E então é preciso escolher o melhor para que a instituição vá bem, e o jesuíta tem que se acostumar a agir normalmente. Estamos acostumados a canalizar tudo religiosamente e me fazem perguntas em alguns lugares se o diretor de uma obra é leigo, se devemos obedecê-lo. Não é questão de obediência. O que faz um professor comum? Obedece porque é preciso trabalhar de maneira colaborativa e ordenada. O jesuíta tem que ir se acostumando com isso, a agir como uma pessoa normal.
Mas corremos o risco de ser mais do que uma ordem religiosa com uma espiritualidade, com uma tarefa evangelizadora, uma prestadora de serviços sociais.
Penso que poderia ser, é um perigo, mas agora mesmo há na Companhia um interesse enorme para manter a identidade das nossas obras. Se mantemos uma obra, um colégio, uma universidade, uma paróquia, há uma preocupação muito grande para manter a identidade, e não apenas entre os jesuítas, mas também entre os leigos, porque eles colaboram precisamente porque essa obra está oferecendo algo diferente, particular, e os leigos são os primeiros que querem manter essa identidade, e sabem que não podem trabalhar sem um processo de formação, programas, etc. Na Espanha, há programas, tanto em Loyola como na Andaluzia, muito bem estruturados de formação dos nossos colaboradores que fazem parte da equipe e querem trabalhar como comunidade.
Somos, hoje, mais capazes de trabalhar com outras, com outros?
Vamos nos tornando mais capazes. É um processo e vamos aprendendo. No começo, pensávamos em leigos que colaboravam conosco, em nossas obras. Kolvenbach já falou na CC34 que temos que falar o contrário: jesuítas que colaboram com leigos em suas obras. Atualmente, essa diferença está diminuindo e já se fala em colaboração na missão de Deus. Já não se fala da missão dos franciscanos, dos carmelitas, dos jesuítas, mas da missão de Deus. É Deus que chama os colaboradores e, portanto, nosso discernimento será quem tem o mesmo coração que nós para trabalhar juntos, não quem tem vocação ou não para trabalhar, isso Deus o decide. Mas nós temos que discernir com quem podemos trabalhar bem, em paz e na mesma direção.
Em 2016, os jesuítas terão uma Congregação Geral. Para quê?
Primeiro, para eleger um novo Geral. Creio que os 80 anos são uma boa data para pensar na renúncia, porque depois dos 80 já não há nenhuma garantia, nem médica nem psicológica nem do sistema nervoso, para que a mente funcione bem, e certamente não posso submeter a Companhia a anos de decadência pessoal. Após os 80 anos, já tem início esse processo de decadência. Eu prefiro deixar o trabalho quando ainda tenho capacidade para pensar e não esperar que os jesuítas perguntem: “aquele velhinho ainda está em Roma”, o que não é muito positivo. É preciso fazer as coisas com certa lucidez, e é melhor começar já a preparar esse momento.
A Congregação Geral não é apenas para escolher o Geral.
Embora a prioridade seja escolher um Geral há todo um processo. E nesse processo entram as Congregações Provinciais, que haverá também na Espanha, e nessas Congregações Provinciais pensa-se no tipo de problemática que é preciso ajustar, como entendemos a missão. No futuro, nas Congregações Gerais, sejam eletivas ou não, a única coisa importante a ser feita é ajustar a missão. Porque a sociedade vai mudando e as nossas estruturas também têm que mudar. Santo Inácio seria o primeiro a falar de mudança. Santo Inácio deu liberdade aos que iam para a Índia, o Japão... para discernir sobre o terreno, porque de Roma não se vê tudo. Ele seria o primeiro a dizer, passados 500 anos, que as estruturas que temos hoje são de 500 anos atrás e é hora de mudar, porque o mundo mudou muitíssimo. A mudança não é porque algo não funciona, mas para ir se ajustando às novas necessidades e aos novos tempos.
Quantos anos está como Geral? Mudou muito sua visão da Companhia estando em Roma?
Estou há seis anos como Geral. Sim, mudou. Primeiro, muitas coisas são julgadas de fora, como amador. O torcedor que vê as coisas sem informação. Chega-se a Roma e se encontra um avalanche de informações e quando se conhece os problemas em detalhe, e as pessoas, e por que surgiu um problema e seu processo, vê-se as coisas ligeiramente diferentes. Há apreciações que não mudam, mas há outras que sim. E as que tocam às pessoas ou instituições concretas têm que mudar necessariamente com a informação mais completa que chega a Roma.
O fato de ser Padre Geral também muda.
Não muda a gente no caráter, no temperamento, como o Papa, continua sendo ele, mas mudou seu estilo. Antes era uma pessoa adusta, agora se fez alguém muito próximo das pessoas. Ele atribui isso ao trabalho da Graça. Ele disse, eu não era assim antes, era diferente, sério... mas agora estou a gosto, e o atribui à Graça. Algo disso acontece ao se ir a Roma. O caráter fundamental continua, mas se tem mais informações, tem-se entrevistas como esta, que antes não tinha, e se tem mais consciência de que se é uma pessoa pública, não há tanto espaço para o pessoal, para o gosto concreto.
A visita de Bento XVI e seu discurso na Congregação Geral foi emocionante. Falou-nos para ir às fronteiras. Os jesuítas estão nas fronteiras?
Creio que sim, que uma das razões pelas quais temos tantos e muito bons colaboradores leigos e leigas é por estarmos nas fronteiras. Eles são-se conta de que precisam estar ali, onde estão os jesuítas. Acontece que as fronteiras não são unívocas. Uma das coisas que recentemente começamos a fazer em Roma é refazer o mapa-múndi. Fazer um mapa das fronteiras, porque cada continente tem fronteiras diferentes. A África não tem as mesmas fronteiras que o Oriente Médio ou a Europa. Os provinciais da Europa decidiram que uma dessas fronteiras é a secularização, que certamente é muito forte na Europa, e outra é o encontro com outras religiões, sobretudo o Islã. A secularidade não entrou tão forte na África. Têm o problema da reconciliação, da guerra, da justiça, da paz, como trabalhar pela paz, embora o Islã continue forte. Na Ásia há outras fronteiras. Nos Estados Unidos há o problema da imigração, que é enorme. Cada continente tem que decidir quais são suas fronteiras e, em conformidade com isso, organizar seu apostolado e suas prioridades. É o que estamos fazendo em Roma: dois mapas-múndi, um das fronteiras e outro de pontos fortes, porque cada continente tem também seus pontos fortes. Por exemplo, os Estados Unidos, educação superior; é o único país onde temos 28 universidades. Têm um saber fazer na educação superior que não temos em outros lugares. O terceiro mapa que queremos fazer é que nos dêem cinco ou seis nomes de especialistas nesses pontos fortes, para comunicá-los a toda a Companhia e que se possa pedir ajuda a eles, da Ásia, da América Latina... e isto está demorando a vir, porque os provinciais fazem uma lista longa, mas é mais difícil uma lista curta.
Há pouco, assinou o prólogo da nova edição da biografia de Arrupe escrita pelo Pedro M. Lamet SJ. Devemos continuar olhando para Arrupe?
Arrupe ocupou um lugar teologicamente providencial, fundamental numa transição muito importante na Companhia. Arrupe nos ensina como fazer transições, porque de agora em diante vamos ter várias. Não é apenas o Vaticano II e uma nova mentalidade que tem a ver com situações sociais, etc. Arrupe nos ensinou a como discernir num momento difícil, chave, como encontrar a profundidade no novo que está emergindo, e isso nos ajudará muito. Penso que temos que continuar olhando para Arrupe.
O que sempre me perguntam em todas as partes é o que está havendo com sua canonização. É preciso ter paciência. Não temos pressa em canonizar jesuítas porque temos muitos santos jesuítas e é preciso deixar lugar para outros. Mas Pedro Arrupe continuará inspirando, porque viveu em um momento chave e de uma maneira muito inaciana com todos os riscos que havia e com os quais sofreu muito.
Deus nos presenteia com muita santidade na Companhia. Acabam de ser canonizados dois companheiros, do século XVI, São Pedro Fabro e São José de Anchieta. Mas essa santidade continua vigente na Companhia?
Sim, creio que continua vigente. Uma das coisas que mais me anima são as visitas às Províncias. Viajo por todo o mundo e me encontro com jesuítas de primeira. Também há os de segunda..., não se deve glorificar tudo o que se vê, mas encontro jesuítas muito entregues. Por exemplo, o Pe. Frans Van der Lugt, que acaba de ser moto na Síria. É um homem que conscientemente sabia que rumava em direção ao martírio. Quando teve a oportunidade de deixar o local, em meio à pressão internacional, ele escolheu permanecer. Disse que enquanto o seu povo estivesse sofrendo, ficaria junto deles, e então o assassinaram por causa disso. Era um testemunho fantástico, e sua morte foi um testemunho em todo o mundo, porque toda a imprensa internacional repercutiu sua sina, e muito bem.
Fonte: http://bit.ly/TZ7h4g |
Há mais dois companheiros sequestrados na Síria e no Afeganistão.
No Afeganistão está o Pe. Prem e na Síria, o Pe. Dall’Oglio, que o mais provável é que esteja morto, embora não saibamos nada.
Padre, vai dar instruções ao novo Provincial da Espanha sobre o que tem que fazer?
Eu penso que ele sabe mais do que eu e não é porque esteja presente... Sabe mais sobre todo o processo, de como foi a união e de como inclusive se antecipou, porque o processo já estava maduro, e o que resta por fazer. Creio que os próximos três anos serão apontar coisa que estão pela metade ou que a experiência tem que nos proporcionar novos dados, mas isto ele sabe de sobra.
Há processos similares em outros lugares da Companhia?
Sim, em novembro vou ao Brasil, porque são três Províncias e uma Região, uma região enorme, na qual cabe praticamente toda a Europa Ocidental e parte da Oriental, que é a Amazônia, e vão formar também uma Província. Depois convocaremos a Congregação Geral, porque isto afeta a participação.
O último santo jesuíta espanhol canonizado viveu precisamente no Brasil, nos escreveu em uma carta o Pe. Geral. O que é a itinerância para um jesuíta?
Anchieta é um santo que nos diz muito sobre o que é a vida jesuítica, que é não estar apegado a nada, viver respondendo a diferentes desafios. Anchieta foi ao Brasil doente, porque tinha problemas de coluna, e montado em uma mula foi por toda a América, porque chegou até o Peru, extraordinário. A itinerância segue sendo um modo de ser jesuíta muito eficaz. Não só as instituições são necessárias, que têm seus problemas, mas também a itinerância, que é uma forma de ser jesuíta, totalmente desapegado, o peregrino eterno, mas a serviço dos outros. Anchieta nos dá um exemplo.
O atual Pe. Geral também é itinerante.
Pode dar a sua bênção, Padre, a toda a Companhia espanhola.
Que tenha a capacidade de ir em a fundo nas questões. Na segunda-feira, dia 30 de junho, veio saudar-me o arcebispo de Canterbury e me disse que suas relações com a Companhia são muito boas e que admira duas coisas – e essa é a minha bênção, que sigamos nessa linha: a capacidade de servir os pobres – desde São Paulo é uma prioridade que não podemos esquecer – e a capacidade de tratar os problemas com rigor, inclusive rigor acadêmico. Poder ir a fundo nas questões. Não ficar na superficialidade, na opinião jornalística, mas estudar os problemas e ir a fundo para poder ajudar a Igreja em profundidade. Minha bênção seria uma oração para que isso seja uma realidade na Espanha.
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“A revolução de Francisco é a revolução da normalidade”. Entrevista com Adolfo Nicolás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU