Por: Jonas | 21 Mai 2014
Os Estados Unidos continuam sendo a maior ameaça para a paz mundial, mas a América Latina conta com os instrumentos de integração necessários para enfrentar a sua hegemonia. Foi com esta ideia que Maria do Socorro Gomes Coelho (foto), presidente do Conselho Mundial pela Paz (CMP), uma organização criada nos inícios da Guerra Fria, apresentou-se. “Após a queda do Muro de Berlim, as coisas mudaram. Antes havia dois polos de poder: o socialista, liderado pela União Soviética, e o capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos. Contudo, quando a União Soviética e o socialismo no leste da Europa se desintegraram, os Estados Unidos ficaram como a única força unilateral e total, o que produz um desequilíbrio”, afirmou a política brasileira para o jornal Página/12.
Fonte: http://goo.gl/FJYUBd |
A reportagem é publicada por Página/12, 19-05-2014. A tradução é do Cepat.
De acordo com a explicação de Gomes Coelho, Washington aposta na militarização como estratégia para persuadir seus adversários, em aliança com a União Europeia e a Organização do Atlântico Norte (OTAN). “Os Estados Unidos cercam todos os continentes com bases militares, que hoje representam mais de mil, inclusive na América Latina. Além disso, existem as frotas de guerra norte-americanas em todos os mares e oceanos. A OTAN mudou sua concepção: já não serve unicamente para o Atlântico Norte, mas também opera em todo o mundo. Invadiu a Iugoslávia, Iraque, Líbia e ameaçou fazer isso com a Síria”, explicou. “Os Estados Unidos falam em democracia e Direito Internacional, mas serve-se da espionagem e coloca suas frotas da marinha. Nem mesmo uma criança acredita nas falsidades morais deste país”, acrescentou Gomes Coelho, que também dirige o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).
O CMP esteve em Buenos Aires, nesta semana, onde foi debatido assuntos de alcance global e regional. Sua titular se mostrou esperançosa diante das negociações de paz entre o governo colombiano e a guerrilha das FARC. “A Colômbia vem sofrendo há muitas décadas e necessita da paz. É certo que existe um conflito, uma guerra civil. Então, é preciso saber o que foi que provocou esse conflito: uma estrutura agrária profundamente concentrada e a falta de liberdade para expressar as divergências políticas”, explicou. Também recordou que o presidente Juan Manuel Santos foi ministro de Defesa durante o governo de Alvaro Uribe, acusado de ser o pai do paramilitarismo colombiano. “Santos foi o responsável por invadir o território equatoriano como ministro de Uribe. Homens como o ex-presidente fazem muito mal para a Colômbia”, destacou.
No entanto, para Gomes Coelho a América Latina está na dianteira no que diz respeito a sua oposição à guerra, “por isso os Estados Unidos estão desesperados para não perder o seu quintal”. Além disso, afirmou que a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1998, rompeu com a tutela de Washington na região. “Nós, latino-americanos, vivíamos muito separados, não havia unidade. Hoje há uma identidade latino-americana, algo que em parte devemos a Chávez, que foi um chefe de Estado com muita coragem e que chamava as coisas pelo seu nome. Os povos da América Latina se uniram por meio da Unasul, Mercosul, ALBA, Celac, criando instrumentos próprios de integração como Petrocaribe e o Banco do Sul. A OEA, que é um assentamento dos Estados Unidos no continente, era o mecanismo que a Casa Branca utilizava para levar adiante seus planos na região”, disse.
Segundo a presidente do CMP, a prepotência de Washington não tem limite, e como Chávez se atreveu a desafiar abertamente o “império”, a Venezuela enfrenta atualmente uma campanha para derrubar seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro. “Os Estados Unidos preparam continuamente um golpe de Estado na Venezuela, com sabotagem econômica, com mercenários, gerando caos e utilizando uma ferramenta muito importante que são os grandes meios de comunicação”, advertiu. Uma estratégia que reproduzem em outras partes do mundo. “São justamente os Estados Unidos que alentam as disputas étnicas e tribais na África, na Líbia e na Síria com os diferentes grupos religiosos. Por isso, fomenta essas disputas para criar caos e divisão. Tudo isto para servir a sua hegemonia comercial e política”, insistiu.
Gomes Coelho, que foi secretária de Justiça e Direitos Humanos do estado do Pará, referiu-se também à situação em seu país e aos protestos em torno da organização do Mundial de futebol. “É verdade que contou com muitos gastos, mas a infraestrutura ficará. A oposição quer utilizar o Mundial para criar descontentamento e dizer que ninguém quer o Mundial, justamente em um país do futebol. É um falso debate”, sustentou.
Também não duvida da aliança entre a oposição e os meios de comunicação mais influentes do Brasil para impedir a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro, um plano que – afirmou – começou com as manifestações contra o aumento do preço do transporte público. “O povo saiu às ruas para demonstrar seu descontentamento, algo legítimo e necessário em uma democracia. O que aconteceu é que a direita e os grandes meios de comunicação potencializaram esse conflito pelo transporte para criar caos. O povo não queria a saída do governo, mas que este resolvesse seus problemas”, argumentou.
No entanto, a diretora do Cebrapaz estimou que Rousseff terá um segundo mandato, embora tenha reconhecido o custo que pode significar para o Partido dos Trabalhadores (PT) tecer alianças com diferentes setores em prol de um triunfo eleitoral.
“Lula se candidatou quatro vezes e foi derrotado três, sempre com uma coalizão mais de esquerda. Na quarta vez, apresentou-se com uma aliança ampla e aí entrou o centro e a centro-direita. Isto garantiu a vitória, não com um projeto como queríamos. O Estado e suas instituições são conservadoras. Avançamos muito, mas não tanto como deveríamos, por causa dessas alianças”, afirmou. “É algo contraditório, porque sem elas não teríamos chegado até aqui”, acrescentou.
Por esta razão considerou que é o momento de fazer uma reforma do sistema político, para que os partidos não sejam obrigados a estabelecer coalizões com outras forças que possam obstruir um processo de mudança. “O tempo todo buscamos a reforma do sistema político e é uma verdadeira luta. Para convocar uma Constituinte é necessário convocar o povo. E veremos quem vence nesse jogo. A maioria no Congresso não é da Dilma. O PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, ao qual pertence o vice-presidente do país, Michel Temer – tem parte de sua bancada na oposição. É um partido contraditório”, avaliou.
Por último, referiu-se aos rivais de Rousseff, que não possuem – no seu entender – força política para chegar à presidência. “Eduardo Campos, governador de Pernambuco e do Partido Socialista Brasileiro, está próximo do Partido da Social Democracia Brasileira, de Aécio Neves, porque não se atacam entre eles. Os dois tem um único objetivo: tirar Dilma do governo. No entanto, Aécio não tem carisma, não tem força. Uma coisa é Aécio e outra é Tancredo”, em referência ao ex-presidente, avô do atual candidato, brincou.
Por outro lado, falou de Marina Silva, companheira de chapa de Campos, que participou do governo Lula. “Não foi uma boa ministra do Meio Ambiente para o Brasil. Ela foi boa para as ONGs, União Europeia e Estados Unidos”, concluiu.
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“Os Estados Unidos cercam o mundo com bases e frotas”, afirma a presidente do Conselho Mundial pela Paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU