23 Abril 2014
Uma pesquisa divulgada na semana passada pela maior federação sindical dos Estados Unidos conclui que, em 2013, os diretores executivos das principais corporações do país ganharam 331 vezes mais dinheiro do que o trabalhador médio. De acordo com a base de dados 2014 Executive PayWatch da Federação Norte-Americana do Trabalho e do Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), os executivos de 350 empresas do país ganharam, em média, US$ 11,7 milhões no ano passado, e o trabalhador médio recebeu US$ 35,293 mil.
A reportagem é de Jim Lobe, publicada pela Envolverde/IPS, 22-04-2014.
Os mesmos chefes obtiveram, em média, renda 774 vezes maior do que os trabalhadores que receberam o salário mínimo federal de US$ 7,25 por hora, ou pouco mais de US$ 15 mil ao ano, segundo essa base de dados. Outra pesquisa sobre as principais cem corporações norte-americanas, divulgada no dia 13 pelo jornal The New York Times, mostra que a compensação média de um diretor dessas empresas foi ainda maior no ano passado: US$ 13,9 milhões.
Esse informe, o Equilar 100 CEO Pay Study, conclui que, em conjunto, esses altos executivos embolsaram US$ 1,5 bilhão em 2013, pouco mais do que no ano anterior. Como nos últimos anos, quem ganhou mais dinheiro foi Lawrence Ellison, diretor-executivo da Oracle: US$ 78,4 milhões. Os dois estudos, divulgados enquanto dezenas de milhões de pessoas apresentam sua declaração anual de impostos, lançam lenha no acalorado debate sobre o aumento da desigualdade de renda no país.
O fenômeno saltou para primeiro plano com o movimento Ocupa Wall Street, de 2011. O presidente Barack Obama o descreveu como “o desafio que define nosso tempo”, enquanto se coloca em marcha a campanha pelas eleições de metade de mandato. Obama tentou dar uma resposta aumentando o salário mínimo e estendendo os benefícios por desemprego e o pagamento de horas extras aos trabalhadores federais, entre outras medidas.
O fato de Obama mirar a desigualdade e os perigos que esta apresenta lhe deu certo apoio intelectual, e inclusive teológico, nos últimos meses. Em uma revisão de sua tradicional ortodoxia neoliberal, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no mês passado um estudo sobre os efeitos negativos da desigualdade no crescimento econômico e na estabilidade política. Sua diretora-gerente, Christine Lagarde, advertiu que desigualdade gera “uma economia da exclusão” e que ameaça “o precioso tecido que mantém unida nossa sociedade”.
O papa Francisco também se pronunciou reiteradamente sobre os perigos da desigualdade econômica, por exemplo, em uma reunião privada que manteve no mês passado com Obama no Vaticano. O informe Global Risks, do Fórum Econômico Mundial, publicado em janeiro, afirma que a acentuada desigualdade de renda será o maior risco para a estabilidade mundial na próxima década.
Enquanto isso, um novo estudo do economista francês Thomas Piketty, O Capital no Século 21, que compara a desigualdade de hoje com as do final do século 19, recebe críticas favoráveis em praticamente todas as publicações dominantes. A obra se baseia em dados de dezenas de países do Ocidente que remontam há dois séculos. Piketty argumenta que são necessárias medidas radicais de redistribuição, como um “imposto mundial sobre o capital”, para reverter as atuais tendências para uma desigualdade maior. O autor esteve na semana passada em Washington para falar a especialistas de vários centros de pensamento.
A decisão da Suprema Corte de Justiça, que no começo deste mês ampliou os limites das contribuições que os ricos podem fazer aos partidos políticos e às campanhas eleitorais, faz muitos temerem que a democracia norte-americana esteja no caminho de se converter em uma plutocracia. De todos os países do Ocidente, os Estados Unidos registram a maior disparidade de renda, segundo várias medições. Em seu livro, Piketty mostra que essa desigualdade atual norte-americana excede a que tinha a Europa em 1900.
A diferença de 331 a um entre o que recebem os 350 diretores-executivos e o trabalhador médio é coerente com a brecha salarial característica da ultima década. Esta realidade contrasta drasticamente com a que existia depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em 1950, por exemplo, os salários dos diretores das corporações eram 20 vezes maiores do que os dos trabalhadores.
Em 1980, antes que o governo de Ronald Reagan (1981-1989) começasse a implantar suas políticas econômicas da “magia do mercado”, era preciso multiplicar por 42 o salário de um trabalhador para obter o de um alto executivo, segundo Sarah Anderson, veterana observadora das compensações, do Instituto de Estudos Políticos de Washington.
“Não creio que alguém, exceto, talvez, Ellison, possa dizer que os gerentes de hoje são uma forma evoluída do homo sapiens em comparação com seus predecessores de 30 ou 60 anos”, brincou Bart Naylor, promotor de políticas financeiras na organização Public Citizen. “Os que criaram a indústria farmacêutica e a de alta tecnologia eram altos executivos e não drenavam a economia do modo como fazem os executivos de hoje”, apontou à IPS. “A máquina de recompensas para executivos está arruinada”, acrescentou.
O mortificante para os sindicalistas é que muitas dessas empresas afirmam que não podem se dar ao luxo de aumentar os salários de seus trabalhadores. “A Pay Watch chama a atenção para o demencial nível de compensações dos diretores-executivos, enquanto os trabalhadores que geram esses lucros corporativos não conseguem receber o suficiente para cobrir seus gastos básicos”, ressaltou o presidente da AFL-CIO, Richard Trumka.
“Considerem que os benefícios por retirada do presidente da Yum Brands, dona da KFC, Taco Bell e Pizza Hut é de mais de US$ 232 milhões, com impostos diferidos. É bastante obsceno para uma corporação que emprega mão de obra barata”, argumentou Anderson. Atualmente, o Congresso analisa várias medidas para abordar o assunto, embora a maioria delas conte com a oposição dos republicanos, que são maioria na Câmara de Representantes.
Porém, um projeto tributário apresentado pelo presidente republicano do poderoso Comitê de Meios e Arbítrios dessa casa pode pôr fim a uma clara injustiça, a que exime os executivos de pagarem impostos pelos “honorários por desempenho” que recebem quando cumprem certas metas fixadas pela direção da empresa.
Alem disso, a Comissão Nacional de Valores começa a aplicar uma norma pendente há algum tempo, que exigirá das corporações com cotação na bolsa que revelem a renda de seus diretores-executivos, comparados com os de seus empregados de tempo integral, parcial, temporário e periódico, tanto norte-americanos quanto estrangeiros.
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Executivos dos Estados Unidos ganham 331 vezes mais do que um empregado médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU