07 Mai 2014
Na semana passada, o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, repreendeu representantes da Leadership Conference of Women Religious (LCWR) por concederem o Prêmio de Excelência em Liderança para Elizabeth Johnson, CSJ, "uma teóloga criticada pelos bispos dos Estados Unidos por causa da gravidade dos erros doutrinais nos seus escritos". Ele considerou a decisão "uma provocação bastante direta contra a Santa Sé e contrária à avaliação doutrinal" – avaliação que seria algo um pouco mais sério do que uma investigação pelo Google.
A reportagem é de Grant Gallicho, publicada no sítio da revista Commonweal, 05-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Müller não citou diretamente o nome de Johnson, mas todos na sala sabiam que ele estava se referindo a uma "crítica" de 2011 de seu livro Quest for the Living God, que foi publicada pelo comitê doutrinal da Conferência Episcopal dos EUA (USCCB). A Comissão de Doutrina realmente não gostou do livro. Você pode notar isso porque eles alegaram que ele "enfraquece completamente o Evangelho".
Mas a alegação da comissão foi bastante fraca. Parecia basear-se em falsas suposições sobre a intenção de Johnson – especialmente em questões relacionadas com o feminismo, o que me levou a questionar se os membros da comissão tinham realmente lido o livro. Eles nem sequer convidaram-na para discutir suas preocupações antes de publicar o seu parecer. E quando Johnson respondeu longamente à crítica, os bispos da comissão retrucaram, repetindo-se. Tudo somado, esse não foi o melhor momento da comissão doutrinal da USCCB – e, provavelmente, seria melhor para todos os envolvidos se todo o episódio fosse esquecido.
Mas aí vem o cardeal Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, para lembrar à LCWR que elas deveriam ter pensado melhor antes de fazer uma provocação à crítica dele pela ousadia em homenagear uma das teólogas mais honradas da atualidade. Ele se refere à alegada "gravidade" dos "erros doutrinais" dos "escritos" de Johnson – o que faz parecer que toda a sua obra é suspeita –, mas ele não os enumera. E, na verdade, nem a comissão doutrinal. Sua declaração vagamente menciona "erros", mas, principalmente, está preocupada com "ambiguidades". O único "erro" que ele identifica é metodológico. Mas, como a própria Johnson notou, a comissão entendeu mal a natureza do livro, que é uma obra de teologia, não de catequese.
Müller sabe que é difícil para ele ser amoroso: "Peço desculpas se isso parece direto, mas o que eu devo dizer é muito importante para se falar com floreios". Melhor não medir palavras. Ao repetir o boato de que os "escritos" de Johnson sofrem de graves erros doutrinais, o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé faz um grande desserviço a uma grande teóloga. Müller está no comando da Congregação agora. Ele não é um professor que está fazendo uma crítica em uma conferência. Se ele alega que os escritos de uma teóloga são doutrinariamente deficientes, ele deve mostrar o seu trabalho, e não descartá-los de forma descuidada.
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Prefeito da Doutrina da Fé critica freiras dos EUA por homenagearem Elizabeth Johnson - Instituto Humanitas Unisinos - IHU