07 Mai 2014
O debate entre as religiosas americanas e autoridades vaticanas que se seguiram ao discurso de abertura – duro e de confronto – feito pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi “franco e aberto”, diz o arcebispo americano presente na reunião ocorrida no último dia 30 de abril.
A reportagem é de Dennis Coday, publicada por National Catholic Reporter, 06-05-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em última análise, foi uma “reunião bastante frutífera”, segundo o arcebispo de Seattle, Dom J. Peter Sartain, delegado nomeado pelo Vaticano encarregado de reformar a Conferência de Liderança das Religiosas (Leadership Conference of Women Religious – LCWR).
O debate “aconteceu durante um diálogo muito respeitoso”, disse Sartain num comunicado divulgado nesta segunda-feira. “Todos os que participaram manifestaram gratidão tanto pela franqueza quanto pela amplitude das conversas”.
A liderança da LCWR (formada pelas irmãs Carol Zinn, Florence Deacon, Sharon Holland, e Janet Mock, diretora executive da LCWR) se reuniu com Sartain, com o cardeal Gerhard Müller (prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé) e com outros funcionários da congregação no dia 30 de abril no Vaticano.
O texto com o discurso de abertura de Müller foi publicado no sítio do Vaticano e se tornou público, na segunda-feira. Nele, Müller acusa as líderes das religiosas americanas de não cumprir a agenda de reformas que o Vaticano impôs à organização de suas lideranças, após uma avaliação doutrinal do grupo que se iniciou em fevereiro de 2009 e concluída em abril de 2012.
A avaliação acusou a LCWR de promover “temas feministas radicais” incompatíveis com a fé católica e de minar os ensinamentos da Igreja a respeito da homossexualidade e do controle da natalidade. Esta avaliação doutrinal também nomeou Sartain como “bispo delegado” e lhe deu autoridade “de até cinco anos” sobre a LCWR para supervisionar seus estatutos, programas e filiações.
Em linguagem que descreveu como “dura (...) porém demasiada importante para dar-lhe uma forma rebuscada”, Müller disse ao grupo das irmãs que elas estavam ignorando os procedimentos para a escolha dos palestrantes a participar em suas conferências anuais, e se perguntou sobre se elas estavam incentivando programas “opostos à Revelação cristã”.
Segundo Sartain, Müller “agradeceu às irmãs pelo progresso que está sendo feito na revisão dos estatutos da LCWR”. Mas o cardeal também “destacou inquietações em áreas significativas da Avaliação Doutrinal que não foram ainda resolvidas [pela LCWR] e pediu [às líderes religiosas] por sinais mais claros de colaboração com a Santa Sé e comigo, na qualidade de Arcebispo Delegado”.
“Estou de pleno acordo com as questões levantadas pelo cardeal [Müller] e, ao longo dos últimos dois anos, venho discutindo-as com as líderes da LCWR”, disse Sartain.
Num comunicado enviado ao National Catholic Reporter, a LCWR disse que o discurso de Müller “foi feito para estabelecer um contexto à discussão que se seguiu”, e que o debate “foi uma experiência de diálogo, respeitoso e envolvente”.
A LCWR se recusou a responder a mais perguntas.
Em seu comunicado, Sartain falou que ele e as líderes da LCWR “desenvolveram uma relação muito boa” desde sua nomeação como delegado há dois anos. “É no contexto desta relação que iremos continuar a abordar as questões importantes levantadas pelo cardeal Müller”.
Sartain disse também que está ansioso para participar na convenção anual da LCWR, que irá acontecer em Nashville, no estado do Tennessee, em agosto. Ele também participou na convenção do ano passado, ocorrida em agosto em Orlando, na Flórida.
A LCWR representa cerca de 80% das mais de 50 mil irmãs/feiras católicas nos Estados Unidos.
A seguir reproduzimos na íntegra o comunicado que Sartain divulgou segunda-feira:
Estive presente na reunião de 30-04-2014 da presidência da LCWR e dos superiores da Congregação para a Doutrina da Fé. O discurso de abertura do cardeal Müller convidou os presentes a um debate franco e aberto, e foi isto o que aconteceu – um diálogo muito respeitoso.
O cardeal agradeceu às irmãs pelo progresso feito na revisão dos estatutos da LCWR e ofereceu um testemunho pessoal ao que chamou “uma dívida incalculável” que ele deve às religiosas que veio a conhecer ao longo de sua vida, as quais tiveram uma influência profunda em seu amor pelo Senhor e pela Igreja bem como em sua vocação. Ficou claro para mim que o respeito do cardeal às religiosas, bem como à vocação para com as formas de vida consagrada, constitui a perspectiva que ele trouxe ao nosso debate.
O cardeal Müller também destacou algumas inquietações em áreas significativas da Avaliação Doutrinal que não foram ainda resolvidas e pediu [às líderes religiosas] por sinais mais claros de colaboração com a Santa Sé e comigo, na qualidade de Arcebispo Delegado. Estou de pleno acordo com as questões levantadas pelo cardeal e, ao longo dos últimos dois anos, venho discutindo-as com as líderes da LCWR.
Estou ansioso para colaborar com a LCWR visando a resolução destas questões. Nos últimos dois anos, a presidência [da organização das religiosas] e eu temos desenvolvido uma relação muito boa, e é no contexto desta relação que iremos continuar a abordar as questões importantes levantadas pelo cardeal Müller.
Assim como ele, os demais funcionários da Congregação para a Doutrina da Fé e a presidência [das religiosas] participaram na reunião da semana passada de uma maneira muito respeitosa e franca, sei também que os debates que eu e os outros bispos delegados teremos com a LCWR serão realizados no mesmo espírito. No final de nossa reunião, todos os que participaram manifestaram gratidão tanto pela franqueza quanto pela amplitude das conversas, acrescentando que esta fora uma reunião bastante frutífera. Estou ansioso para me fazer presente na assembleia anual da LCWR neste mês de agosto, em Nashville.
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“Estou de pleno acordo” com as inquietações do cardeal Müller relativas à LCWR, diz arcebispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU