07 Abril 2014
Recém-criado cardeal, ele quis tranquilizar os fiéis da sua diocese, Perugia: "devo afugentar o temor segundo o qual agora vou negligenciar um pouco o meu cargo atual. O papa ligou o meu cardinalato à minha Igreja, à minha região que eu amo tanto", Gualtiero Bassetti, arcebispo de 72 anos da cidade que não via a púrpura desde os tempos do longevo cardeal Gioacchino Pecci – que depois se tornou papa com o nome de Leão XIII e permaneceu no sólio petrino até a venerável idade de 93 anos –, foi a grande surpresa do último consistório de fevereiro, o primeiro em que Francisco reforçou o Colégio Cardinalício com novos purpurados eminentes.
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 03-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nada de barrete para as históricas e tradicionais sedes de Veneza e Turim, mas sim à menor de Perugia: "O papa procurou ir para as periferias, não se detendo apenas às sedes tradicionais. Assim, também Perugia, assim como o Haiti e Burkina Faso, podem se tornar sedes cardinalícias", dizia ele há algum tempo, em entrevista ao Zenit.
Antes da elevação a cardeal, o perfil de Bassetti há meses estava escalando rapidamente as posições na hierarquia da Igreja. Em dezembro, provocou surpresa a remoção do cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo de Gênova e principalmente presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), da poderosa Congregação para os Bispos, liderada pelo confirmado Marc Ouellet. Em seu lugar, entrou justamente o arcebispo de Perugia, que é o vice de Bagnasco no parlamento do episcopado italiano da Via Aurelia.
O fato é que Francisco tem uma predileção por esse manso prelado com fama de ser "um bom padre", distante das corjas que muitas vezes lutam nos bastidores. A prova disso é o que aconteceu em 2008, de acordo com o que revelam os rumores do outro lado do Tibre.
Tudo, então, parecia indicar em Dom Gualtiero Bassetti o sucessor designado do cardeal Ennio Antonelli à cátedra episcopal (e à práxis cardinalícia) de Florença. Disse-se que faltava apenas a assinatura de Bento XVI, que, no fim, porém, não chegou.
O que bloqueou a promoção – narram ainda os bastidores dos sagrados palácios – foi principalmente as manobras internas da CEI. Uma espécie de ressarcimento chegou no ano seguinte, quando o prelado foi eleito vice-presidente dos bispos italianos com um plebiscito.
A criação cardinalícia o levou a assumir uma posição de destaque, em vista da substituição de Bagnasco, que ocorrerá, o mais tardar, em 2017 (mas é provável que Francisco antecipe os tempos). A nomeação – assim decidiram os bispos italianos – caberá novamente ao papa, e é conhecida a estima que Bergoglio deposita no arcebispo de Perugia, exemplo perfeito daquele "pastor com cheiro de ovelhas" que volta tão frequentemente nas homilias e nos discursos oficiais do pontífice.
E Bassetti entende bastante da formação dos padres, dado o seu passado como reitor do seminário menor com o encargo de delegado da Obra das Vocações e o do seminário maior de Florença. Ele também foi responsável pela pastoral escolástica da capital da Toscana, e um traço evidente desse passado de "catequista" pode ser encontrado nas lotadas e apreciadas catequeses aos jovens proferidas por ele na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, no ano passado.
Mas o seu perfil tão próximo de Francisco também não é mal visto pela frente conservadora, que olha com desconfiança para todo movimento – principalmente no campo litúrgico – do pontífice que veio quase do fim do mundo. Em 2011, de fato, ele celebrou na igreja de San Filippo Neri em Perugia uma missa no rito antigo, de acordo com a norma do motu proprio Summorum pontificum, do qual ele é convicto defensor, a ponto de atrair as simpatias até do mundo da web, que sente nostalgia das missas coram Deo e do recto tono.
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Bassetti, a escalada (involuntária) do padre que agrada a Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU