Por: Caroline | 20 Março 2014
Durante estes dias a capital Buenos Aires é sede de um encontro mundial de especialistas em tecnologia de sensores químicos, reunião que é realizada pela primeira vez em um país da América Latina. Carlos Rinaldi (foto), diretor do Instituto de Tecnologia da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) aborda, entre os temas, da importância da sua realização na capital nortenha e da relação de tais pesquisas com outros setores da sociedade. A entrevista é de Leonardo Modelo, publicado por Página/12, 19-03-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/R1553P |
Eis a entrevista.
Desde o último domingo está sendo realizado um congresso que hoje chega ao seu ponto auge, conte-me mais.
Sim, é a 15ª edição do Congresso Nacional de Sensores Químicos (wwwimcs2014..org), que é considerado o principal fórum interdisciplinar a nível mundial neste campo, no qual são apresentados avanços no desenvolvimento de sensores químicos. Ele teve início na Ásia, há 30 anos. Trata-se de um encontro em que especialistas em nano e microtecnologia, ciências de materiais e engenharia biomédica expõem seus avanços, trocam experiências e estabelecem contatos com empresários, provedores e potenciais investidores. Nesta edição, foram apresentados mais de 200 trabalhos e houve cerca de 30 conferências de diferentes pesquisadores que vieram de países da Europa, Ásia e Américas.
É a primeira vez que este congresso é realizado na Argentina, qual é a sua importância?
Como foi pontuado durante a apresentação do coordenador geral do congresso, Alberto Lamagna, é a oportunidade de somar-se ao futuro da indústria da segurança, seguimento de emissões de gás ou de controle de veículos. Sua realização na Argentina é uma vitória de dez anos de trabalho. É resultado dos avanços do país, neste campo da tecnologia de sensores. Em 2010, na Austrália, apresentamos a proposta da Argentina 2014. Esta conferência é realizada desde 1983, a cada dois anos, entre países da América, Europa e Ásia e, pela primeira vez em 31 anos, é realizado na Argentina. Em 2012, durante o último congresso, realizado na Alemanha, tivemos uma participação muito importante, com muitos trabalhos apresentados, e ali nossa proposta foi fortalecida. A Argentina vem desenvolvendo os níveis básicos dos estudos de películas sensoriais e aplicações da nanotecnologia para o desenvolvimento das mesmas, novas composições que podem ter a possibilidade de serem usadas como sensores. É uma possibilidade de mostrar os desenvolvimentos do Conselho Nacional de Pesquisas Técnicas e Científicas (Conicet), da Universidade Nacional de La Plata, Córdoba, Entre Rios, de Buenos Aires, o Instituto de Química Física de Materiais, Ambiente e Energia (Inquimae), a CNEA, o Instituto Balseiro. Além disso, os assistentes tem tido a possibilidade de interagir com pesquisadores que são referências em diversas linhas. Tivemos importantes exposições em plenárias, como as do doutor Joseph Wang, especialista em nanoengenharia da Universidade da Califórnia; o professor Tomakazu Matsue, da Universidade de Tohoku, e o professor Maximilian Fleisher da Unidade de Pesquisa e Tecnologia da empresa Siemens.
Que tipos de trabalhos ou desenvolvimento foram vistos?
Foram apresentados trabalhos de diversas aplicações desta tecnologia, como os sensores para o controle da combustão, controles biomédicos ou detecção da asma. Um congresso como este permite ter um plano geral a nível mundial, saber quais são os últimos conhecimentos desenvolvidos, e nos permite medir nossa posição em relação a outros países. Ele tem surgido como um congresso de grande interesse para os profissionais que estão trabalhando em indústrias que utilizam sensores, porque podem ter uma ideia real das possibilidades concretas que existem hoje.
Como funcionam os sensores químicos?
Estes sensores são desenvolvidos a partir da microtecnologia. São óxidos que interagem com um gás e mudam a resistência da película. Através dos eletrodos que são colocados, pode-se medir como mudam a resistência ou a condição da corrente no sistema, dependendo de que gás há em determinado ambiente. Esses mesmos compostos podem sensibilizar outros gases, dando-os alguma especificidade.
A chave de todo setor é a especificidade...
Certamente. Um dos problemas dos sensores químicos é que são de um amplo espectro. Isto quer dizer que “vem” simultaneamente muitos gases e às vezes se torna difícil distinguir um de outro. Todavia ao óxido pode-se colocar algum “sensibilizador” e assim o tornar mais sensível a um ou outro gás. Como, por exemplo, o platino, que é um catalisador muito importante e isso faz com que, por exemplo, frente a presença de hidrogênio estes sensores se tornem muito sensíveis.
Este tipo de congresso cientifico, além de impulsionar, da visibilidade para esta tecnologia e gera espaços de intercambio. Qual é nível de desenvolvimento desta tecnologia no país?
Estamos começando a fabricar diversos sensores, a nível de protótipo, como possibilidade reais. Na área limpa do Centro Atômico Constituinte, por exemplo, pode-se fabricar sensores completos. Desde a película até o suporte micro.
É um campo onde o sistema científico pode ser vinculado ao setor industrial...
Sim, estamos buscando completar todo o ciclo de inovação. Recentemente veio para cá o engenheiro Jean-Charles Guibert, que é o diretor da Minatex, um dos campus de inovação na micro e nanotecnologia mais importantes da Europa, com sede na França e, ao referir-se a relação da tecnologia com as empresas, disse que há um “vale da morte”, onde as novas ideias geralmente fracassam, por problemas de comunicação da ciência com a indústria, e que para que os desenvolvimentos possam se concretizar e para que seja possível a criação de uma nova empresa de base tecnológica, este vale deve ser cruzado.
E por que há esse “vale da morte”?
Ele existe em todas as partes do mundo. Na França iniciou-se recentemente a construção de uma “ponte” para cruza-lo, que relaciona-se as brechas entre estes dois setores. A ciência tem um modo de desenvolvimento que é diferente da maneira da indústria. Por exemplo, em relação ao tempo. Muitos projetos se tornam antigos antes de chegar ao mercado, e outros tantos, se não são rápidos, não despertam interesse nas indústrias. A ciência tem um tempo mais lento. As vezes, para realizar um avanço na investigação básica se leva um tempo que o empresário não tem. Caso a empresa não possa ver resultados rápidos não aposta, pois busca competitividade. Além disso, na atividade cientifica, tudo leva tempo. De outro lado, muitas vezes a indústria não sabe o que se faz deste lado. Em particular as pequenas e médias empresas, que muitas vezes não sabem tudo o que se faz e que pode ser feito. O desafio é transferir para a indústria a inovação gerada pelos órgãos científicos e favorecer a criação de novas empresas, ou que possam ser desenvolvidos novos produtos. Para cruzar o vale deve-se construir uma “ponte” e acreditamos que esse congresso é parte dessa construção.
Será que estamos caminhando em direção a um ambiente quotidiano inundado com sensores?
Possivelmente a resposta é positiva, porque estes sensores fabricados em grande escala terão um custo baixo. Pois a quantidade de aplicações que podem ser desenvolvidas, como te dizia anteriormente, é imensa. Para controlar a qualidade do ar no subterrâneo, o desenvolvimento de instrumentos de controle ambiental, a instalação de equipamentos dentro das casa, por exemplo, de uma forma mais doméstica, para detectar se num aquecedor há vazamento de monóxido, e também para a segurança aeroportuária, para a detecção de transporte de explosivo ou drogas.
E como é um sensor ideal?
O sensor ideal tem longa duração, tem que ser específico para a substância que se quer detectar, não pode se confundir com outros gases, consumir muito pouca energia e ser quimicamente estável.
E estamos longe ou próximos de termos um assim?
Um sensor tem muitas partes. O desenvolvimento do seu suporte está resolvido. Mas as películas especificamente ainda são estudadas, já temos algumas películas, mas ainda são necessárias investigações orientadas para a seletividade. Caso não seja possível com estas películas, buscaremos outras tecnologias, essa é nossa missão.
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Encontro mundial de especialistas em tecnologia de sensores químicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU