''A pobreza amorosa é solidariedade, partilha e caridade'', afirma papa aos religiosos

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10 Março 2014

Publicamos aqui a mensagem do Santo Padre Francisco aos participantes do Simpósio Internacional "A gestão dos bens eclesiásticos dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica a serviço do humanum e da missão na Igreja", realizado nos dias 8 e 9 de março de 2014, na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.

O texto foi publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, 08-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Ao Venerável Irmão

Cardeal João Braz de Aviz

Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica

Envio a minha cordial saudação ao Sr. e a todos os participantes do Simpósio Internacional sobre o tema "A gestão dos bens eclesiásticos dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica a serviço do humanum e da missão na Igreja".

O nosso tempo é caracterizado por relevantes mudanças e progressos em inúmeros campos, com consequências importantes para a vida dos homens. No entanto, mesmo tendo reduzido a pobreza, as metas alcançadas muitas vezes contribuíram para construir uma economia da exclusão e da desigualdade: "Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco" (cf. Exortação apostólica Evangelii gaudium, n. 53).

Diante a precariedade em que vive a maior parte dos homens e das mulheres do nosso tempo, assim como diante das fragilidades espirituais e morais de tantas pessoas, em particular os jovens, como comunidade cristã, nos sentimos interpelados.

Os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica podem e devem ser sujeitos protagonistas e ativos no viver e testemunhar que o princípio de gratuidade e a lógica do dom encontram o seu lugar na atividade econômica. O carisma fundacional de cada Instituto está inscrito plenamente nessa "lógica": no ser-dom, como consagrados, vocês dão a sua verdadeira contribuição ao desenvolvimento econômico, social e político. A fidelidade ao carisma fundacional e ao consequente patrimônio espiritual, juntamente com as finalidades próprias de cada Instituto, continuam sendo o primeiro critério de avaliação da administração, gestão e de todas as intervenções feitas nos Institutos, em qualquer nível: "A natureza do carisma dirige as energias, sustenta a fidelidade e orienta o trabalho apostólico de todos para a única missão" (Exortação apostólica pós-sinodal Vita consecrata, n. 45).

É preciso vigiar atentamente para que os bens dos Institutos sejam administrados com parcimônia e transparência, seja tutelados e preservados, conjugando a prioritária dimensão carismático-espiritual à dimensão econômica e à eficiência, que tem um humus próprio na tradição administrativa dos Institutos que não tolera desperdícios e é atenta ao bom uso dos recursos.

Após o encerramento do Concílio Vaticano II, o Servo de Deus Paulo VI remetia a "uma nova e autêntica mentalidade cristã" e a um "novo estilo de vida eclesial": "Notamos com vigilante atenção como em um período como o nosso, todo absorvido na conquista, na posse, no gozo dos bens econômicos, sinta-se na opinião pública, dentro e fora da Igreja, o desejo, quase a necessidade, de ver a pobreza do Evangelho principalmente onde o Evangelho é pregado e representado" (Audiência geral de 24 de junho de 1970).

Quis retomar tal necessidade também na Mensagem para a Quaresma deste ano. Os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica sempre foram voz profética e testemunho vivo da novidade que é Cristo, da conformação Àquele que se fez pobre enriquecendo-nos com a sua pobreza.

Essa pobreza amorosa é solidariedade, partilha e caridade, e se expressa na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial, para guardar dos ídolos materiais que ofuscam o sentido autêntico da vida.

Não serve uma pobreza teórica, mas sim a pobreza que se aprende tocando a carne de Cristo pobre, nos humildes, nos pobres, nos doentes, nas crianças. Sejam ainda hoje, para a Igreja e para o mundo, os postos avançados da atenção a todos os pobres e a todas as misérias, materiais, morais e espirituais, como superação de todo egoísmo na lógica do Evangelho que ensina a confiar na Providência de Deus.

Enquanto expresso o meu reconhecimento à Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que promoveu e preparou o Simpósio, desejo que ele traga os frutos esperados.

Invoco para isso a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, e a todos abençoo.

Do Vaticano, 8 de março de 2014

Franciscus