28 Fevereiro 2014
De 24 a 26 de 2014, o Papa Francisco visitará a Terra Santa por ocasião do 50 º aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI. A visita ocorre em um contexto geopolítico complicado, com a crise da Síria, que entra no seu terceiro ano consecutivo, trazendo forte impacto sobre os países vizinhos, sobretudo, no que diz respeito à questão dos refugiados e a segurança. Sobre todos estes temas ZENIT conversou com Pe. Rifaat Bader, um dos organizadores da visita do Papa, sacerdote jordaniano do Patriarcado Latino, fundador e diretor do Abouna e do Centro Católico para Estudos e Informações na Jordânia. Na entrevista, Pe. Bader também falou sobre a situação dos refugiados na Jordânia e a expectativa pela visita do Papa.
A entrevista é de Robert Cheaib, publicada pela agência Zenit, 26-02-2014.
Eis a entrevista.
Quantos são os refugiados sírios na Jordânia?
Cerca de um milhão. Há três campos, o mais importante é A- Za'tari. Neste campo estão cerca de 250 000 refugiados, os outros estão espalhados em todos os países.
Estes refugiados recebem o necessário para sobreviver? Eles têm o direito de trabalhar na Jordânia?
Quem é registrado como refugiado não pode trabalhar. O mesmo problema viveram e ainda vivem os refugiados iraquianos, cujo número é cerca de meio milhão.
Como eles vivem, então?
As organizações de caridade oferecerem uma grande contribuição, juntamente com o trabalho realizado pela Organização das Nações Unidas. A Caritas também fornece ajuda. Todos os dias cerca de 100 000 refugiados recebem ajuda, sem distinção de religião ou raça. O trabalho de caridade cristã não é exclusivista. E aqui gostaria de enfatizar uma questão crucial: o trabalho de caridade não deve ser um disfarce para o proselitismo. Digo isso porque, infelizmente, existem realidades que prestam serviços humanitários e, em seguida, propõem uma agenda proselitista. Este é um erro porque captura o homem em um momento de grande fragilidade e tira proveito de sua fome e sede para manipular sua sensibilidade religiosa. É uma falta de respeito para com a dignidade da pessoa humana.
Quantos cristãos entre os refugiados?
Cerca de 17 mil são refugiados cristãos sírios na Jordânia, que chegaram depois da crise síria. As razões da chegada deles na Jordânia são diferentes. Muitos deles vêm até nós apenas temporariamente, à espera de vistos para emigrar para o Ocidente. Este fenômeno é motivo de grande dor para eles, porque eles experimentam dois êxodos difíceis. Mas também para o Oriente Médio em geral, porque é esvaziado de seus filhos cristãos.
Neste contexto, qual é a importância da visita do Papa?
O momento da visita do Papa é marcado pelo 50º aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI. Para a ocasião, estamos preparando um livro comemorativo da viagem, apresentando o contexto histórico das relações entre a Santa Sé e a Jordânia de um lado, e com a Palestina do outro. O volume contém contribuições valiosas incluindo a do presidente palestino, Mahmoud Abbas, do rei da Jordânia, Abdullah II, e uma palavra especial do Cardeal Paul Poupard, que nos contou a sua experiência pessoal vivida na viagem do Papa Paulo VI.
Como acontecerá a visita do Papa?
Papa Francisco vem para comemorar esta visita e fomentar as relações diplomáticas com três estados. Ele vai de helicóptero da Jordânia para Belém, apoiado pelo Estado Palestino. Poucos líderes reconhecem o estatuto independente da Palestina. Com esta visita, o Papa vai expressar a posição da Santa Sé, que reconhece a Palestina e apoia. Como jordanianos estamos muito feliz, ainda que, desejosos por uma estadia mais longa do Santo Padre.
Qual será o lema da visita?
A visita será um grito de paz. Fomos convidados a apresentar nossas propostas para o logotipo e o lema. Eu acho que vai ser "Alegria e esperança". O lema da visita do Papa Bento XVI ao Líbano foi: "Eu lhe dou a minha paz ", e de sua visita à Terra Santa foi: " Bem-aventurados os pacificadores". Desta vez, também para comemorar a Gaudium et Spes, propusemos: "Alegria e esperança".
O interlocutor do desejo de paz agora não é um estado. Estamos diante de uma ideologia bastante destrutiva e fechada. Que esperança (humana) poderá despertar a visita do Papa?
Não temos um interlocutor concreto. Os chefes são tantos e as ideologias ainda mais. No entanto, eu não vejo que a guerra atual é uma guerra contra os cristãos, é mais uma guerra do terrorismo contra os cristãos e os muçulmanos de modo idêntico. E é uma oportunidade para nós, como cristãos árabes, de mostrar nosso apoio ao diálogo e à amizade entre muçulmanos e cristãos. Temos de ser uma frente única contra o terrorismo e o fundamentalismo, contra a inserção forçada da religião nas lutas políticas. Gostaria também de dizer que a declaração de uma nação religiosa hebraica não é um passo oportuno. O único estado de natureza religiosa e caráter totalmente pacífico é a Cidade do Vaticano. Se tivessem que existir nações religiosas - e isso é algo que não esperamos – deveriam ser de natureza pacífica similar. A gênese de um Estado religioso hebraico seria o álibi para que os islâmicos formassem estados religiosos islâmicos, o que tornaria tudo ainda mais complicado. Desejamos estados democráticos constituídos sobre o direito do cidadão e da igualdade de direitos e deveres. Há dois dias, a Palestina decidiu eliminar a “identificação” de religião da carteira de identidade. Eu acho que este é um grande passo avante. Não devemos tratar as pessoas por suas crenças religiosas, mas como ser humano. Nossa esperança é que a visita do Papa seja uma contribuição nesse sentido da igualdade e coexistência pacífica.
Veja tanbém:
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"A visita do Papa a Belém é um reconhecimento do Estado palestino" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU