Por: Cesar Sanson | 17 Fevereiro 2014
Possível postulante ao Senado este ano, principal puxador de votos de seu partido na campanha estadual e provável candidato a prefeito do Rio de Janeiro em dois anos, Marcelo Freixo (PSOL) corre para salvar sua reputação, colocada em xeque pelo advogado Jonas Tadeu Nunes, defensor de Caio de Souza e Fábio Raposo (ambos com 22 anos), acusados pelo disparo de um rojão na quinta-feira da semana passada que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilidio Andrade (49), morto quatro dias depois.
A reportagem é de Wanderley Preite Sobrinho e publicado pelo iG São Paulo, 16-02-2014.
Em tom de desabafo, o deputado acredita ser vítima “da maior irresponsabilidade da imprensa em anos”, lembrou que sua mulher, jornalista, conheceu Santiago e que o mais “preocupante” nessa história é que governos estariam se aproveitando do episódio para aprovar leis que asfixiem de vez os protestos no Brasil.
“Esse advogado diz que recebeu telefonema de uma ativista me relacionando ao acusado e essa é a base de uma denúncia propagada pela imprensa que me associa a um homicídio. É uma das maiores inconsequências que o jornalismo brasileiro já produziu, uma aberração”, afirmou.
A ativista a que ele se refere é Elisa Quadros, conhecida como Sininho, apontada como responsável pelas finanças do black bloc carioca. “Ela me procurou duas vezes. Primeiro quando foi ameaçada por milícias no ano passado e agora, na prisão de Raposo. Ela disse que o rapaz poderia ser torturado na prisão, o que não parece razoável.”
Casado com uma jornalista, Freixo garantiu que a mulher chegou a conhecer Santiago e que o filho sofre com as acusações. “Eu estou no olho do furacão, mas não é a minha eleição que preocupa. É a minha história, que não começa nem termina no parlamento.”
Partidos Políticos
Diante da “inconsistência da acusação”, diz ele, o mesmo advogado passou a dizer que os partidos de esquerda financiam a ação dos black blocs. A afirmação de que agremiações políticas pagam até R$ 150 aos mascarados terminou com a divulgação de uma planilha administrada por Sininho com gastos de R$ 1.699,67, amealhados com a contribuição de simpatizantes, entre eles dois vereadores do PSOL, Jefferson Moura e Renato Cinco.
Assim como os parlamentares, Freixo lembrou que as doações não foram para o black bloc, mas para a realização de uma ceia de Natal para moradores de rua no dia 23 de dezembro. “Qualquer pessoa daria dinheiro para uma ceia. Na lista divulgada tem gastos com rabanada, pão, gelo... De repente isso se transforma em financiamento para black bloc?
Embora se considere alvo por se tratar “de um quadro novo na política”, o deputado denuncia o que acredita ser o principal interesse dos governos: se aproveitar de um homicídio para acabar de vez com as manifestações no Brasil.
“A intenção maior é fragilizar uma onda de protestos que pede redução da passagem, critica a corrupção e pede transparência. O que acontece é que há muito interesse de que essas reclamações não continuem.”
Membro da Comissão de Segurança Pública no Senado, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, chegou a ir a Brasília para entregar um projeto de lei que tipifica o crime de desordem em locais públicos. Ainda esta semana, o Senado deve votar proposta semelhante, conhecida como Lei Antiterror.
“A proposta antiterrorismo é mais retrograda que a Lei de Segurança Nacional [aprovada na ditadura militar e em vigor até hoje]. Ela quer reduzir a capacidade das manifestações. Deixá-las menos violentas é bom, mas acabar com elas é outra violência.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
'Tentam usar morte de cinegrafista para asfixiar protestos', diz Marcelo Freixo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU