07 Fevereiro 2014
Os Legionários de Cristo, ordem religiosa que se tornou um símbolo dos escândalos de abuso sexual no Catolicismo, expressaram hoje "profunda tristeza" pelo abuso e má conduta sexual cometidos por seu fundador, outrora poderoso, e também anunciaram a eleição de uma nova liderança destinada a orientar a ordem num caminho de reforma.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no jornal The Boston Globe, 06-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pedido de desculpas dos Legionários de Cristo vem um dia após o Comitê sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas divulgar um relatório mordaz sobre a resposta do Vaticano aos escândalos de abuso, expressando, inclusive, preocupação sobre as práticas de recrutamento dos Legionários.
Fundada pelo falecido padre mexicano, Marcial Maciel Degollado, em 1941, os Legionários de Cristo e o seu braço leigo, o movimento Regnum Christi, tornaram-se uma poderosa força na Igreja Católica durante os anos do Papa João Paulo II, aproveitando a benevolência do papa falecido e o apoio de prelados influentes em todo o mundo.
Em 2006, no entanto, Maciel foi condenado a uma vida de oração e penitência pelo Papa Bento XVI após acusações de má conduta e abuso sexual, que incluíam relacionamentos com duas mulheres, ter sido pai de seis crianças, bem como o abuso de jovens membros da ordem e, supostamente, de dois de seus próprios filhos.
Os Legionários reconheceram oficialmente a verdade das acusações contra Maciel em 2009, depois de mais de uma década de negações.
Durante esse processo de reconhecimento da culpa, alguns Legionários desertaram da ordem, enquanto outros saíram em meio a seus próprios escândalos. Alguns críticos pediram a dissolução dos Legionários, mas Bento XVI decidiu, ao invés, em 2010, convocar um delegado pessoal para liderar uma reforma, uma política confirmada pelo Papa Francisco.
Em um comunicado de 6 de fevereiro, um grupo de Legionários, atualmente reunidos em Roma para eleger uma nova liderança e adotar novas regras internas para a ordem, se desculpou, não só pelos crimes de Maciel, mas também pelo o que eles chamaram de "longo silêncio institucional".
"Queremos expressar a nossa profunda tristeza pelo abuso [de Maciel] aos seminaristas menores e pelos atos imorais realizados com homens e mulheres que eram adultos", disse o comunicado. Isso veio do capítulo geral da ordem, uma assembleia representativa dos membros de todo o mundo.
"Estamos tristes que muitas das vítimas e outras pessoas afetadas esperaram tanto tempo em vão por um pedido de desculpas e um ato de reconciliação", disse o comunicado. "Hoje, nós gostaríamos de emitir esse pedido de desculpas assim como expressamos nossa solidariedade com essas pessoas."
Segundo o comunicado, os Legionários estão em "um caminho de conversão e de renovação", que "tem avançado, mas ainda não terminou".
O homem eleito para tomar a frente dos Legionários é um sacerdote mexicano de 61 anos de idade chamado Eduardo Robles Gil Orvañanos, que atualmente atua como oficial superior da ordem no México.
Nas mesmas eleições, os Legionários escolheram o padre alemão Sylvester Heerman, que estava atuando como diretor-geral durante o período de supervisão papal, e o padre espanhol Jesús Villagrasa, que desde agosto de 2013 é o reitor da Universidade Regina Apostolorum, em Roma, como membros de seu conselho de administração.
Dois outros membros desse conselho, um padre espanhol, atualmente em Roma, Pe. Juan José Arrieta, e o acadêmico espanhol, Pe. Juan Sabadell, foram nomeados diretamente pelo Papa Francisco.
Observadores descrevem Robles como um reconciliador capaz de apelar tanto para os Legionários mais agressivamente reformistas e os menos inclinados a mudar.
"Ele mostrou que é capaz de se relacionar com os Legionários de todo o tipo de espectro", disse o padre John Bartunek, uma Legionário norte-americano que tomou parte da reunião de Roma "desde os que estão confiantes na forma como nós estamos indo até aqueles que têm muito mais preocupações".
A eleição ocorreu no dia 20 de janeiro, mas os Legionários demoraram para anunciar os resultados, já que esses estavam pendentes de aprovação do Papa Francisco.
Hoje, os Legionários têm três bispos, 953 sacerdotes e cerca de 2.000 seminaristas em todo o mundo, enquanto o seu movimento afiliado, Regnum Christi, afirma ter 70.000 seguidores em 30 países.
Os críticos expressaram ceticismo de que a nova equipe irá produzir uma mudança real.
Em um artigo publicado em 23 de janeiro pelo National Catholic Reporter, Juan Vaca, um dos acusadores originais de Maciel, que diz que seu abuso começou aos 12 anos, rejeitou a reunião de Roma como "uma operação de controle de danos".
"A eleição de novos superiores e promulgação de uma nova constituição não vai mudar a corrupção internalizada", disse Vaca, agora um professor de psicologia em Nova York.
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Símbolo de escândalos da Igreja Católica, os Legionários de Cristo pedem desculpas e escolhem novo líder - Instituto Humanitas Unisinos - IHU