Por: Cesar Sanson | 06 Fevereiro 2014
A situação energética brasileira não é calamitosa, mas exige atenção e revalorização de suas empresas de base. O diagnóstico é do diretor da Coppe/UFRJ e professor do Programa de Planejamento Energético, Luiz Pinguelli Rosa. Segundo ele, os problemas que afetam o Sul e Sudeste constituem um quadro diferente da crise energética enfrentada em 2001: o sistema, antes colapsado, agora é afetado por uma série de revezes, como o excesso de calor, a falta de chuvas e o clima negativo que a redução de tarifas trouxe para o setor. "O clima que foi criado com a redução das tarifas está prejudicando todo o sistema", diz ele em entrevista à Paloma Rodrigues da CartaCapital, 05-02-2014.
Eis a entrevista:
Quão grande é o risco atual de apagão e no que ele se difere para o apagão de 2001?
É muito diferente, porque em 2001 houve falta de energia, ou seja, a politica de privatização tinha suprimido o investimento estatal e as empresas privadas que entraram não expandiram o sistema. Elas fizeram investimento de compra de ativos e não de construção de novas usinas, então o Brasil ficou um tempo sem expansão e com uma demanda alta, que cresceu em 2001, que começou bem economicamente. [O sistema] acabou colapsando por falta de energia elétrica, que não é o caso agora. Agora há energia suficiente, o problema tem sido de transmissão de energia. Eu não diria que haja nada calamitoso.
Há sucateamento?
Eu não diria sucateamento, de jeito nenhum. São muitos os problemas: é um momento difícil de alta temperatura, de grande consumo de energia - o ar condicionado principalmente – e, além disso, a alta temperatura exige muita energia de cada aparelho. E há também a melhoria da renda das famílias brasileiras, que agora têm mais equipamentos elétricos. E a ausência de chuva esse ano, que não está sendo suficiente e os reservatórios estão com níveis menores do que os previstos. Isso obriga uma ginástica enorme na operação, e principalmente na operação de muitas termoelétricas, que criam um ônus enorme para o sistema, porque elas geram um gasto muito maior.
Existe hoje a necessidade da racionalização do uso de energia por parte da população? De alguma maneira ela está sendo preparada para isso?
Não, não há necessidade. Deveria haver uma maior atenção do governo quanto ao estímulo da economia de energia, racionalização. Isso sempre se deve estimular. A economia de energia é sempre uma coisa necessária.
Quais foram as escolhas equivocadas do governo que comprometeram o plano inicial?
Acho que existem medidas equivocadas, a pior delas foi a redução das tarifas que reduziu as ações da Eletrobrás pela metade, o que afetou todos os funcionários, há cortes. Isso criou um clima ruim na empresa e é ela quem opera tudo isso.
Mas o senhor acredita que exista um excesso de tarifação?
Sim, é preciso reduzir tarifas, mas não da maneira como foi feito. Isso gerou um clima muito negativo. Ela tem um claro benefício pro consumidor, que é a redução da conta, mas seria preciso discutir melhor como reduzir essa tarifa. Os estados cobram impostos exagerados, eu acho que isso [reduzir os impostos estaduais] poderia ser feito.
Qual seria a solução para este momento?
Acho que agora, se pudesse se compensar, recriar essas empresas em outras bases, torná-las novamente interessantes. [O plano energético brasileiro] tem méritos inegáveis, como o retorno do planejamento e a operação da ONS no geral é boa também. Existem empresas boas. Entretanto, o clima que foi criado com a redução das tarifas está prejudicando todo o sistema.
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"O clima criado com a redução das tarifas de energia prejudica o sistema" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU