20 Janeiro 2014
O Papa Francisco, que já é caracterizado como o “papa imigrante” devido tanto a sua chegada em Roma vindo dos “confins da terra” – como afirmado por ele na noite de sua eleição – quanto por causa de sua forte defesa em favor dos imigrantes e refugiados, deu outro claro exemplo de solidariedade ao visitar, neste domingo (19-01-2014), uma paróquia de Roma conhecida pela sua dedicação aos imigrantes e aos pobres.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholic Reporter, 19-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Não por acaso, a visita aconteceu no dia reservado pela Igreja Católica como o Dia Mundial dos Imigrantes e Refugiados. Francisco publicou uma mensagem para a ocasião no mês de agosto, onde insistia que os migrantes e refugiados “não são peões no tabuleiro da humanidade”.
A visita de hoje do pontífice à paróquia Sacro Cuore di Gesù a Castro Pretorio pretendeu, obviamente, enfatizar esta questão.
À tarde, durante sua estadia na paróquia, que fica perto da principal estação romana de metrô – a Estação Termini –, o papa se encontrou com cerca de 60 desabrigados, todos moradores das redondezas, e com uma delegação de 100 jovens imigrantes junto de voluntários paroquianos que trabalham com eles.
A visita reforça as frequentes menções feitas ao longo dos últimos 10 meses pelo Papa Francisco sobre os imigrantes como primeiras vítimas de uma “cultura do desperdício”, bem como reforça sua visita feita à Lampedusa, em 08-08-2014, uma ilha no sul do mar Mediterrâneo que serve como importante ponto de chegada para imigrantes e refugiados da África e do Oriente Médio que vêm para a Europa.
Na ocasião, Francisco condenou uma “globalização da indiferença” para com os imigrantes e jogou uma coroa de flores no mar para lembrar o número estimado de 20 mil pessoas que morreram tentando fazer a travessia nas duas últimas décadas.
Durante o seu discurso do Ângelus deste domingo, o papa falou aos imigrantes que “vocês estão próximos do coração da Igreja”, e disse que muitas vezes se vê pensando nas dificuldades que eles são forçados a suportar.
O religioso citou o beato Giovanni Battista Scalabrini, um bispo italiano do século XIX, fundador de uma ordem religiosa especializada no cuidado de migrantes e refugiados, para condenar os “mercadores da carne humana” que traficam migrantes.
O papa também pediu aos países ricos para “acolherem” os imigrantes e para “preservar os seus valores”.
Durante a visita à paróquia, Francisco igualmente teve um momento junto das crianças aí batizadas no ano passado e com seus pais, com casais recém-casados e com famílias jovens. Ele também ouviu cinco confissões e celebrou uma missa.
A paróquia do Sacro Cuore di Gesù a Castro Pretorio foi construída pelo italiano São João Bosco a pedido do Papa Leão XIII e está confiada à sua ordem, os Salesianos de Dom Bosco. Há tempos que se tem um foco especial sobre os desabrigados e a população imigrante que tende a se reunir nos arredores da estação de trem Termini.
O padre salesiano Valerio Baresi disse que a paróquia oferece, todos os anos, aulas de língua italiana, treinamento profissional e outros serviços a cerca de 400 imigrantes e pessoas que buscam por asilo.
“Estamos situados num contexto de circunstâncias humanas fortemente degradantes relacionadas com tantas pessoa que, sejam por serem imigrantes ou por estarem desabrigadas, tentam ‘acampar’ nas dependências da estação”, disse Baresi à Rádio Vaticano.
“Não podemos fingir que não os vemos ou ignorá-los”, acrescentou.
Esta foi a quarta visita do Papa Francisco a uma paróquia romana, após ter passado pelas paróquias Elizabete e Zacarias (26 de maio), Santo Cirilo de Alexandria (1º de dezembro), e Santo Alfonso Maria Liguori (6 de janeiro). Na última visita, o papa testemunhou um “presépio vivo” organizado todos os anos por paroquianos.
O interesse do papa em servir aos pobres também se refletiu em seu encontro de 40 minutos ocorrido na noite anterior com o padre italiano de 101 anos de idade Arturo Paoli, membro da ordem religiosa Pequenos Irmãos de Jesus, inspirada no beato Charles de Foucauld.
Padre Paoli foi atuante na resistência italiana contra o fascismo nos anos de 1940, passando grande parte das décadas de 1960 e 1970 na América Latina, onde se tornou um dos precursores da Teologia da Libertação.
Uma breve nota da Rádio Vaticano informou que Pe. Paoli expressou um forte desejo de ver o Papa Francisco, a quem conheceu como provincial jesuíta na Argentina na década de 1970, e que o papa recebeu-o para uma reunião, longa e privada, na Casa Santa Marta, a residência vaticana onde Francisco mora.
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“Papa imigrante” visita a paróquia dos imigrantes em Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU