Os tormentos do perdão em Adriano Prosperi

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11 Dezembro 2013

Repense por um momento os grandes acontecimentos da crônica policial que foram trazidos a atenção popular da TV, ou seja, ao primeiro instrumento de comunicação interativo (porque uma grande quantidade de espectadores fala com o televisor, interroga, nega, aprova, desafoga).

A reportagem é de Furio Colombo, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 09-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esse tipo de programas levou a três eventos difíceis de evitar e difíceis de tolerar. Um deles são os aplausos ao caixão, a quase qualquer caixão. Outro é a pergunta mais vergonhosa, mas que ainda sobrevive em muitos noticiários: perguntar a esposa, mãe, filho da pessoa que sofreu uma morte súbita e violenta "o que você está sentindo?".

A terceira prova de muitos dos nossos colegas (falo de jornalistas) é a pergunta: "Você perdoa quem cometeu este crime?". É uma pergunta atroz. Mas cuidado: ao contrário das duas primeiras perguntas, que estão enraizadas no vazio de grande parte da cultura jornalística, aqui há precedentes culturais que marcam séculos de vida e de costumes italianos e ocidentais.

Uma prova disso, ao mesmo tempo popular e científica, de nível acadêmico e de leitura de romance, está no livro Delitto e perdono [Delito e perdão], de Adriano Prosperi, publicado pela Einaudi. Não se deixa assustar pelas 558 páginas daquele que parece ser um inacessível texto científico.

Prosperi é um historiador que é capaz de usar, de controlar e de interpretar um vasto fluxo de documentos, através de um longo período e uma grande quantidade de eventos. Mas ele segue e segura com força o fio de um argumento essencial para interpretar praticamente todos os eventos da vida italiana: o perdão.

A referência-chave é o cristianismo. Não existe o perdão no direito e na cultura romanos, assim como na ateniense. O perdão é o dom que pega o mundo de surpresa com o cristianismo. Mas traz consigo um truque terrível: distinguir (contrapor, se necessário) alma e corpo. E como a vida eterna é um privilégio da alma, enquanto o corpo "era pó e voltará ao pó" (embora para ressurgir no momento oportuno) e é, em todo o caso, a prótese terrestre da alma e o representante físico do papel a ser desempenhado na vida, podem-se dedicar ao corpo tormentos que devem ser absolutamente poupados da alma.

Aqui deve se concentrar a misericórdia. Ou seja, pelo bem dos filhos de Deus, atormentar, se necessário, os corpos, na sua breve vida terrena e salvar a alma eterna. Adriano Prosperi dedicou o seu estudo a essa impressionante diversificação entre piedade e crueldade, entre salvação e danação, construindo uma discrepância que não tem escrúpulos em punir a carne, mas não mede esforços para colocar as almas em segurança.

Crueldade, cinismo, impiedade... seguindo o percurso de Prosperi, você se dá conta que são palavras sem sentido. Mas descrevem bem os séculos da cultura que formou este mundo cristão, ocidental, rico em justiça que deu raízes ao Ocidente.