07 Dezembro 2013
No Vaticano, onde a ala conservadora (especialmente alemã) da Cúria quer resistir ao novo curso do Papa Francisco, Georg Gänswein, o ex-secretário do Papa Bento XVI, vive com sofrimento e com fortes reservas sobre o novo curso. A informação é do jornal Die Zeit, nas bancas nessa quinta-feira.
A reportagem é de Andrea Tarquini, publicada no jornal La Repubblica, 05-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A retirada de Ratzinger "foi uma amputação", diz Gänswein, citado pelos enviados do Die Zeit. A sua vida mudou, conta, depois de oito anos em que "eu sofri muito". Agora, durante o dia ele serve o Papa Francisco e, à noite, depois das 21 horas, o seu antecessor. Gänswein confessa: "Eu tenho a impressão de viver em dois mundos e, tenho que ser sincero comigo mesmo, é uma dor adaptar-se ao novo papel". Novo papel que, de acordo com o semanário, também coloca ao ex-secretário de Ratzinger questões críticas. Ele aceitou o pedido de Francisco de permanecer no seu cargo cerimonial. "Se essa é a sua vontade, eu a aceito com obediência", revela o que disse ao pontífice. Mas agora a sua vida "nem sempre está no pulso do coração" da Igreja.
O novo pontífice quer introduzir muitas novidades, e, segundo o Die Zeit, "isso não agrada a Gänswein: talvez ainda mais do que o Papa Bento XVI, ele se sentia um alto sacerdote da tradição, não viu nela um diktat da formalidade, mas sim um concentrado de sabedoria da Igreja". O fato de que Francisco não querer se mudar para viver estavelmente nos Palácios Apostólicos, porque quer viver no meio das pessoas, porque o escuro corredor que leva aos Palácios Apostólicos o entristece, segundo o jornal alemão, abala e irrita Gänswein.
Ele não vê nessa escolha apenas uma ruptura na tradição, mas também uma afronta contra o antecessor, ou, melhor, contra todos os antecessores. Bento XVI era um homem sóbrio, pensa Gänswein, tinha escolhido os Palácios papais não como símbolo de poder pessoal, mas como expressão da posição do papa na Igreja.
Agora, a polêmica está superada: parece que Gänswein brinca com Francisco sobre os motivos da sua recusa de se mudar, mas resta um pouco de inquietação na relação entre os dois: "A cada dia eu espero saber o que o novo dia vai trazer, o que vai mudar", diz o ex-secretário de Ratzinger. Ele, observam os enviados do Die Zeit que o encontraram, vive um conflito interno: ainda se sente ligado à sua antiga promessa de fidelidade, sente-se do lado de Bento XVI.
Depois das 21 horas, ele cuida dele, busca a sua correspondência e resolve outros negócios, fica do lado daquele idoso que ele continua chamando de "Santo Padre". No entanto, não há dúvida, ele não pode se deixar paralisar pela dúvida: "O papa é um só", afirma, como que se recompondo, comentam os colegas alemães.
O perigo sério para Francisco, destaca a reportagem do semanário de Hamburgo, é outro: é o peso de poderosos cardeais como Gerhard Ludwig Müller. E de todos os "conservadores da Cúria que muitas vezes aproximam o Papa Bergoglio a Gorbachev", como comparação negativa de destruição de uma ordem existente.
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Bergoglio e a vida em Santa Marta: todos os tormentos do padre Georg - Instituto Humanitas Unisinos - IHU