Por: André | 02 Dezembro 2013
O Papa não esquece a República Dominicana, onde a Igreja católica vive tempos difíceis por conta das aventuras de Josef Wesolowski. O ex-núncio é investigado pela justiça civil e pela eclesiástica após denúncias apresentadas contra ele por supostos abusos sexuais contra menores. Em uma carta, Francisco lamentou as “torpezas” cometidas pelo ex-núncio e garantiu seu compromisso com a tutela das vítimas.
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 29-11-2013. A tradução é de André Langer.
Somente dois dias depois, o presidente dominicano, Danilo Medina, recebeu as cartas credenciais do novo embaixador vaticano nesse país e delegado para Porto Rico, Jude Thaddeus Okolo. Por ocasião da chegada do núncio, Jorge Mario Bergoglio escreveu uma carta ao arcebispo de Santo Domingo, Nicolás de Jesús López Rodríguez. A carta é de 28 de outubro, mas tornada pública apenas agora.
O pontífice assegurou: “Tenho bem presente nas minhas orações o amado povo de Deus que peregrina na República Dominicana, especialmente aqueles que sofrem por causa dos pecados dos homens e mulheres da Igreja. E, ao mesmo tempo, quero reiterar o compromisso, claro e corajoso, para que as vítimas destas torpezas sejam sempre defendidas e tuteladas, de modo que a justiça seja atendida em todos os seus aspectos”.
As palavras do líder católico quiseram ser um bálsamo para um escândalo que perdura e não se reduz unicamente aos atos do ex-núncio. Vários clérigos receberam denúncias graves. Entre eles, outro polonês, Wokcietch Waldemar Gil, conhecido como Alberto Gil e assinalado por ter abusado ao menos de sete menores na cidade de Santiago (norte do país).
Também o padre “Johnny”, como se fazia chamar Juan Manuel Mota de Jesús, foi denunciado por violação de algumas mulheres menores de idade em Constanza, no centro do país.
Mas o caso mais doloroso é o de Josef Wesolowski, por sua investidura de diplomata papal. Há poucos dias, a Procuradoria Geral da República Dominicana concluiu a investigação contra ele. O expediente foi enviado à Santa Sé. Um arquivo que inclui perícias, áudios com o testemunho de algumas das vítimas, assim como as declarações do diácono Francisco Javier Occis Reyes, que supostamente teve relações com o imputado.
Um escândalo maiúsculo. Por isso, o Papa Francisco em sua carta precisou que o novo núncio apostólico “representa nesse país o Bispo de Roma para o bem do povo”. Explicou que “sua missão consiste em estreitar os vínculos que unem a Sé de Pedro com esse país, alentando os filhos dessas belas terras a percorrer o caminho da vida com o olhar posto em Deus e a mão estendida aos irmãos”.
“A Igreja não quer privilégios, não tem interesses políticos, não busca alianças estratégicas. Quer servir, servir a todos, e por isso trabalha pelo bem comum, pela paz, pelo progresso, pela liberdade, pela justiça, pela solidariedade e pelo desenvolvimento integral dos dominicanos”, escreveu.
Segundo Bergoglio, a experiência ensina que custa cumprir os ideais e sempre existe o “perigo do mundanismo”, de deixar-se levar pelo espírito deste mundo, de agir pelo interesse próprio e pela glória de Deus.
Advertiu que essa situação “expõe não poucas vezes ao ridículo”, sobretudo os pastores da Igreja católica. Por isso, considerou necessária a “permanente conversão pessoal”, que só se pode conseguir com uma relação constante com Jesus, ajudados neste propósito pela força interior da oração.
“A credibilidade da Igreja e da sua colaboração no bem do povo, na defesa da família e da vida humana, na luta contra a pobreza, passa hoje pela docilidade de cada um de nós ao espírito do Ressuscitado, deixando que este nos impulsione e nos ajude”, insistiu.
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República Dominicana. O Papa com as vítimas de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU