Por: André | 02 Dezembro 2013
“A questão dos sacramentos aos divorciados recasados deve ser enfrentada com um novo enfoque”. O arcebispo Lorenzo Baldisseri (na foto) é o secretário-geral do Sínodo dos Bispos. Toscano, de 1940, foi durante quase quatro décadas diplomata do Vaticano e desde o final de setembro ocupa-se em rejuvenescer o instituto do Sínodo, que discutirá (em dois encontros: 2014 e 2015) o tema da família, depois da difusão capilar de um questionário a este respeito.
Fonte: http://bit.ly/1cbUgcW |
A entrevista é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 29-11-2013. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Francisco, na Evangelii Gaudium não cita explicitamente o tema dos sacramentos aos divorciados recasados. Mas escreve que a eucaristia “não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos”. Como se deve interpretar estas palavras?
É preciso destacar também a frase seguinte: “Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia”. O Papa relaciona estes dois elementos. Significa que quer que estes problemas sejam estudados com prudência e, portanto, com atenção à doutrina. Mas também com audácia, o que para mim equivale a dizer “sem medo”, tomando em consideração as situações concretas das pessoas.
Então, as coisas irão mudar?
O magistério não está engessado; é a doutrina acompanhando o povo. Há um constante aprofundamento e há aplicações para casos diferentes. A Igreja deve saber encontrar a aplicação da doutrina no caso concreto das pessoas. Este enfoque ao deve fazer supor imediatamente conclusões gerais, normas para todos. Devemos partir dos casos concretos. E dali se pode inclusive desenvolver uma nova maneira de considerar a doutrina. No fundo, nem sequer com as declarações de nulidade matrimonial interviemos caso a caso. A pastoral é isto, não é um esquema.
É correto deduzir que o tema dos sacramentos aos divorciados recasados permanece aberto?
Se foi incluído na lista do Questionário, quer dizer que se pretende enfrentá-lo. A abertura, e se quer falar a respeito sem tabus, do contrário não teria sido citado. Isto me parece evidente.
Na entrevista durante o voo de volta do Rio de Janeiro, Bergoglio, a respeito, recordou – sem tomar nenhuma posição – a via ortodoxa, que prevê em certos casos a bênção de uma segunda união.
A experiência da Igreja ortodoxa pode ser de ajuda para nós, não apenas no tocante à sinodalidade e à colegialidade, mas também no caso do que estamos falando, para iluminar o caminho. Mas agora não é o momento de discutir qual é a melhor solução; são temas que serão enfrentados no Sínodo. Estamos começando a falar disso, de uma forma nova em relação ao passado, pedindo informações e reflexões às bases, às dioceses e às paróquias, e isto nos ajudará muito, além da experiência de outras Igrejas, como as orientais. Como você recordou, inclusive o Papa referiu-se a essa prática ortodoxa.
O questionário enviado é uma pesquisa?
Não, não é e é preciso insistir nisso. Não é uma pesquisa, como se concebe a pesquisa atualmente, e muito menos um referendo. É a vontade de conhecer diretamente qual é a experiência das pessoas, não apenas de maneira individual, mas também em grupo, para reunir dados estatísticos, reflexões, elaborações. Assim, os bispos do Sínodo saberão qual é a situação sem ter que recorrer a livros ou estudos sociológicos. Nosso questionário é muito mais que um estudo sociológico. É uma reflexão eclesial e espiritual. E as perguntas são abertas.
Poderia explicar quais são as novidades deste Sínodo em duas etapas, com duas reuniões sobre o mesmo tema?
É uma novidade que responde à nova dinâmica indicada pelo Papa e que, em certo sentido, inspira-se na dinâmica conciliar. Francisco quer um Sínodo dinâmico e permanente, não como organismo estruturado, mas como ação, como osmose entre o centro e a periferia. E o quer aberto a todos os temas, para acolher as sugestões que vierem das Igrejas locais. O conselho de secretaria, composto atualmente por 15 pessoas, será muito mais importante, e isto também quer dizer que o Papa terá a possibilidade de consultar um conselho permanente para o seu governo.
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“A comunhão aos divorciados deve ser enfrentada com um novo enfoque”. Entrevista com Lorenzo Baldisseri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU