Por: Cesar Sanson | 06 Novembro 2013
Em 2020, emissões de gases estufa serão de 8 a 12 bilhões de toneladas acima de nível seguro, aponta relatório do Pnuma. Para Nações Unidas, ainda dá tempo de acertar esse curso.
O mundo está cada vez mais longe das metas de redução de emissões para evitar um aquecimento global acima de 2°C neste século. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado nesta terça-feira (05/11), mesmo que os países cumpram o que prometeram até agora, as emissões de gás estufa em 2020 ficarão de 8 a 12 bilhões de toneladas acima do nível considerado seguro para o planeta.
A reportagem é publicado pelo sítio Deutsche Welle, 05-11-2013.
Segundo cálculos de pesquisadores, o mundo deveria atingir no máximo 44 bilhões toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e) até 2020. Só assim seria possível manter o aquecimento global em até 2°C e gastar pouco em medidas de adaptação ao clima. Para atingir o objetivo e evitar as catástrofes climáticas previstas, é preciso agir com urgência, alerta o relatório.
"Difícil dizer o que seria do mundo com um aquecimento maior que 2ºC, mas há uma desconfiança que ele seria suficientemente diferente do que aquele que nós conhecemos hoje, com implicações que o homem não sabe dizer qual é", afirma Roberto Schaeffer, da Universidade do Rio de Janeiro, que também participou da elaboração do relatório do Pnuma.
O diretor do Pnuma, Achin Steiner, é otimista. Para ele, ainda é possível alcançar as metas previstas para 2020 – mas o mundo precisa mostrar mais compromisso. "Incluindo um aumento nas iniciativas de cooperação internacional em setores, como o de eficiência energética, energia renovável e reformas em subsídios de combustíveis fósseis", completa.
A conta não fecha
O passo a passo do corte de emissões globais deveria atender ao seguinte cronograma: 44 bilhões de toneladas até 2020, 35 bilhões de toneladas até 2030 e 22 bilhões de toneladas até 2050. Mas se nada mudar, as emissões em 2020 serão de 59 bilhões de toneladas. Em 2010, esse número era de 50,1 bilhões.
O relatório aquece as discussões para a Conferência de Mudanças Climáticas, que acontece em Varsóvia, na Polônia, entre os dias 11 e 22 de novembro. As Nações Unidas, como de praxe, pedem mais ambição e reforça a necessidade "de uma participação mais forte dos países em desenvolvimento", grupo que inclui o Brasil.
Problema de timming
As alternativas de mínimo custo apontadas para diminuir essa diferença entre o nível desejado de emissões e o real são cooperações internacionais para reduzir o desperdício de energia, iniciativas para produção energética a partir de fontes renováveis e reformas no subsídio para combustíveis fósseis. Juntas, essas medidas podem gerar uma redução de até 7 bilhões de toneladas de CO2.
Para Schaeffer, o estudo confirma que o tempo para aplicar essas ações já ficou no passado. "Cada vez mais as ações de mínimo custo começam também a ser perdidas, o que nos obrigará a tomar ações lá na frente mais radicais, custosas e eventualmente mais arriscadas, porque ninguém sabe se vai funcionar, aumentando o risco de não ficarmos dentro dos 2°C", diz.
Entre as ações de alto custo, o relatório aponta tecnologias caras e não testadas, como a captura e sequestro geológico de carbono, além da aplicação desse método para a biomassa. O relatório também trouxe sugestões que podem ser aplicadas no setor agrícola, cujo potencial de redução de emissões está entre 1,1 e 4,3 bilhões de toneladas de CO2. Essas medidas, além de contribuir para a mitigação climática, também são benéficas para sustentabilidade ambiental, aumentam a produtividade e diminuem o uso de fertilizantes.
O Pnuma cita como alternativas o plantio direto – sistema de manejo do solo que procura mantê-lo sempre coberto com plantas e resíduos vegetais, reduzindo a erosão e armazenando de nutrientes – , o aumento de nutrientes e manejo de água na produção de arroz e a agrossilvicultura, que é o cultivo de árvores juntamente com outras culturas agrícolas ou criação de animais.
Como exemplo de incentivo ao plantio direto, o relatório cita as políticas públicas do Brasil. O país pretende aumentar o uso dessas práticas de 31 para 39 milhões de hectares. Como estímulo, agricultores que adotam essas medidas recebem crédito e financiamento, além de treinamento e consultoria.
"A agricultura brasileira é uma das melhores do mundo, o Brasil tem tomado uma série de medidas que vão muito na linha do que o relatório fala que deveria ser feito", afirma Schaeffer.
Reduções no Brasil
Ano a ano, o Brasil está conseguindo reduzir suas emissões. "Esse resultado está intimamente relacionado à efetiva redução do desmatamento, embora a relação entre as metas da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), de 2009, e a consequente redução do desmatamento seja questionável, pois o controle do desmatamento já vinha sendo alcançado antes mesmo disso", afirma Viviane Romeiro, que também participou do relatório, doutoranda do Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo.
Schaeffer, por outro lado, afirma que o desmatamento não é mais a principal fonte de emissão brasileira. Atualmente está em terceiro lugar, atrás do setor agrícola e energético. Segundo o especialista, a tendência é que o setor energético se torne o primeiro, com o aumento de suas emissões e a diminuição das emissões na agricultura.
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Mundo está cada vez mais longe da meta de redução das emissões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU